30 de mai. de 2009

Movimento

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Tenho sido solicitado para fazer coisas em vez de só as referir. Não é que me importe muito com a visão que cada um tem do mundo, ainda que esse espectro tenha alguma validade. No entanto, correm rumores de que a próxima gerência municipal também tem uma visão do mundo…

Há por aí utopias que pretendem acabar com a diversão nocturna no Marco de Canaveses. E por muito vaga que possa parecer a ideia, todos sabemos que basta soltar a cadelice policial para que o famigerado propósito se cumpra.

Pelos vistos, para resolver a crise, não chega picar o boi de sol-a-sol durante toda semana. Não! Mal a malta começa a descomprimir duma semana de trabalho, chega a ASAE e/ou a polícia para acabar com a festa. No tempo do Salazar, apareciam montados a cavalo. Hoje, e porque vivemos em democracia (!), farejam-nos os cães. É caso para dizer:
- “Que se foda o melhor amigo do homem. O bacalhau é que é o fiel amigo!”

Sem eira nem beira, esta gentalha frustrada quer acabar com o divertimento da malta. Roubam-nos a casa e aparece-nos um polícia a perguntar o que aconteceu; saímos para jantar e beber um copo com os amigos e é vê-los em magotes para fechar o bar; pedimos a intervenção da polícia num acidente e eles respondem-nos que o jipe não está disponível, que vai demorar. E, no entanto, não faltam carros e “meio humanos” para cercar uma cidade às sextas e sábados à noite. Identificamos os criminosos e a polícia aconselha-nos a enfiar-lhes um enxerto de porrada…
A isto, caros senhores - chamo eu - deslocação de objectivos.
Pela minha parte, dispenso uma autoridade que serve só para passar multas.

Não se julgue, porém, que a polícia apareceu porque se lembrou de acabar com o barulho. Não. Estas práticas resultam de “aconselhamento camarário”. E, depois, bem podemos gastar todos os euros no telemóvel por altura das festas municipais, que a polícia não vai suspender o fogo-de-artifício ou o ruído do Tony Carreira…

Quanto a vós, não sei. Pela minha parte, não estou disposto a abdicar das minhas noitadas no Woodrock, no Red Box, no Jamaica, no Etc. e etecétera…

Estou disposto a encabeçar um movimento que espante esta passarada de frustrados que tentam acabar com a nossa diversão para nos empurrar para as suas festinhas de anho assado com arroz de forno ou às festas com melão do Castelinho, em que o líder espiritual se confunde com o presidente da Câmara.

Sou uma pessoa de paz mas não suporto atropelos à liberdade. Como diria Agostinho da Silva, “nascemos de graça e passamos o resto da vida a pagá-la”. E porquê? Porque alguém decidiu que nos devia proteger de nós mesmos, acabando por se proteger a si mesmo, mantendo-se no poder ou lutando para o atingir.

Estou em guerra. Não me interessa convencer-vos ou convocar-vos. Interessa-me apenas saber quantos de vós partilhais este propósito.

Estais comigo?

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25 de mai. de 2009

Ensaio sobre a Sociedade

Um certo senhor, dotado duma escrita maravilhosa, fê-la um dia cega. Descreveu-a sobre um dos maiores dos seus castigos e fez uma alegoria com o contra-senso de talvez não ser necessária a privaçao da visão para já sermos realmente cegos.
Ora eu diria ainda mais, somos cegos sim, mas também somos estúpidos que nem um tamanco esculpido por um sapateiro punheteiro.
Vivemos numa era em que a tecnologia reina, e quem dela sober retirar proveito, poderá ver a sua vida muita facilitada (daí roubos e falcatruas electronicas existirem desde o inicio da mesma), mas isto também veio criar um novo tipo de personalidades. Uma espécie demora muitos anos a evoluír e adaptar-se (ler "On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life") no entanto Darwin não contava com a personalidade intrínseca do Ser Humano ao escrever este magnifico livro. Esta sim, evolui em pouquíssimo tempo, e quando digo evolui quero dizer "altera", "muda", "adapta-se", todo um rol de termos que explicam que o Ser Humano se APROVEITA do que lhe é dado. E o que foi dado nesta era tecnologica? A hipotese de ser jornalista, crítico, historiador, matemático, escritor, cientista, biólogo, letrista, músico, etc, etc, etc... Um sem fim de profissões e saberes, que num momento real da vida duma pessoa teria de ser comprovado com um diploma ou atestado superior, mas que nesta era se resume a assinar por "Anonimo". Depois disso, já posso dizer o que quiser, quando quiser, contra ou a favor de quem quiser. Não se lhe deve dar atenção, pois claro que não, mas estou farto de ignorar borrifanas deste género. Estou farto de ser acusado, mal-tratado, muitas vezes na minha própria "casa" por pessoas que no mínimo da ignorância, não sabem escrever o próprio nome.
Muito já terá sido dito e escrito sobre este tema, e sei muito bem que as eleições não se ganham por um voto, mas está um tempo maravilhoso para atirar um balde de água fria.
Poderei um ser criticado pelo mesmo? Não estarei eu a fazer o mesmo ao assinar como "Moço do Chapéu"? Não.. Este sou eu mesmo, o Sr. Mal conheço eu muito bem, e confirmo todos os seus ditos. Tónio Cuco é sem dúvida uma personagem única. E todos encontramos aqui uma mesa para as nossas comezainas e deprovações, não permitindo esta nossa pública partilha de estórias e saber, que alguém chegue e derrame o nosso vinho.

Deixemos de ser cegos, e deixemos de nos acanhar com as livres declarações de estupidez que nos são passadas sem fundamento algum, só para não nos "rebaixarmos". Rebaixar-me-ei sempre que necessário para mostrar quem sou, olhando olhos nos olhos, de quem me põe em dúvida.

Mais uma vez, tenho dito.

O Imperfeccionista

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Aqui cheira às minhas entranhas e ao meu pus. A minha presença empesta o ar como um quarto de doença, com lenços usados e copos de vidro vazios na mesinha de cabeceira; uma colher de ter comido sobremesa ou diluído barbitúricos.
A luz é frouxa neste prostíbulo mal arejado e vós continuais vindo para assistir ao espectáculo das minhas misérias circences, pagando ad eternum por um bilhete com data vencida. Circo velho que foi ficando e viu morrer, de coração e vício, os palhaços que conduziam as carrinhas. O trapézio ganhou ferrugem e uma chiadeira que se ouve quando venta. Só as aranhas se aventuram agora nele, em coreografias já vistas, mas com um trabalho sincero e sem rede que faz sonhar um casal de trapezistas reformados. A humidade instalou-se nos nossos ossos e em largas poças sobre a tenda de lona que, durante o dia, tentamos salvar empurrando a água por dentro com uma vassoura; os módulos de madeira rangem como as escadas de uma casa abandonada, ameaçando colapsar; a atenção do público divide-se entre a nossa encenação e o espectáculo dos pingos de chuva nas bacias, espalhadas um pouco por toda a parte.
Neste circo de velhos saltimbancos, só o freak show maturou.

Eu, Sr. Mal, serei o vosso anfitrião para esta noite! - Aristocrata maldito caído em desgraça. Nos galões descosidos do meu casaco, há uma nobreza que rasteja transbordante. Flor-de-lis entre ervas daninhas que crescem como pêlos nas orelhas.
Dizem que maltrato as pessoas com o meu feitio; que faço discursos filosóficos cortantes às empregadas que vêm fazer meios-dias e me empestam a morada com um cheiro desumano a lixívia.

Ando branco como o engolidor de espadas que, dias antes de morrer, abismava a plateia tragando o vidro das nossas lâmpadas fundidas.
Não vos prometo cá estar no próximo inverno mas enquanto o arco sob as costelas demandar pão e vinho, deverei andar por aí, entretendo-nos.


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23 de mai. de 2009

Morri-vos

Morri-vos, escrevo das profundezas, no purgatório decidi, desço, Deus é demasiado justo, com o Diabo viverei como sempre vivi, na injustiça.

A sagrada escritura, Jó 26:6, antecipou-se a este dia:
O inferno está nu perante ele, e não há coberta para a perdição.


Morri-vos,
como uma vaidosa borboleta sucumbi aos pés de um eco-sistema adverso após breves dias, vivi com a corajem de um inconsciente selvagem, morri por profundas facadas no meu ego, morri atingido por coisas em que não acredito, morri por ignorância alheia, pior, morri por intolerância, nada sei, é verdade, mas sei o que me magoa e incomoda, a censura incomoda-me e magoa-me a falta de tolerância de pessoas para quem as artérias são meros tubos que permitem o funcionamento do coração a frio, nas minhas, o sangue corre quente, tenho a capacidade de viver com paixão, sei que sou um biltre e que não interesso a mais ninguém que não os meus amigos, para mim chega, amo essa corja, eles ocupam o meu tempo e pensamentos, não tenho a necessidade de criticar, perseguir, insultar debaixo de um capote de falsa moralidade a sociedade que desconheço, não tenho tempo para isso, estou morto!

Mudei, não para os meus amigos, sei que me amam, mas mudei para os outros, tornei-me no mais novo dos hipócritas, sinto-me desterrado das minhas ideias, mas com a certeza que estaria pronto para acolher no meu
âmago a mais estúpida criatura!

Fui lambido pelo Diabo, não há salvação para mim...
Espero-vos impolutos!



Tónio Cuco - o finado

Na qualidade de compincha e amigo de Tónio Cuco, pediram-me que dissesse algumas palavras em sua memória:

Tónio Cuco era um homem que prezava a fornicação. Dedicou-se com solicitude aos caprichos de uma carne em vinha-d’alhos que lhe não dava descanso. Mas, longe de ser um homem egoísta, Tónio Cuco amou-a, mimou-a e condenou a sua existência para que ela se cumprisse, namoradeira. Ofertou-se como uma chave de ouro sempre pronta a desaferrolhar grilhões alheios e, imbuído a dar uso aos dons com que foi molestado pela natureza, cumpriu-se.

Ele foi a verdadeira antítese da privação e, ainda que lhe possa ter pesado o fardo de arejar regaços várias vezes ao dia, Tónio Cuco não vacilou.

Confessou-me não ser um homem de palavras, mas de actos. Pensar demasiado – dizia – dá-me sede!

À sua maneira, foi nobre e não desperdiçou talentos. Nesta latrina a que chamamos sociedade, Tónio Cuco mijou como um cão nas valetas e amorteceu as suas virtudes no álcool, como um génio literário novecentista, cujo abraço era demasiado grande para abarcar uma realidade de enguias mais pequena do que ele. Tónio Cuco era, na verdadeira acepção da palavra, um fornicador e, como tal, capaz de estar ainda dando horas ao desejo na madeira do caixão.

Levante-se do lazúli caixotão
Ou de lá diga de sua justiça
Aquele cujo tesão
Não se comprometa com esta missa.

Tónio Cuco
A libertinagem canta-te.
Tónio Cuco… ALEVANTA-TE!

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21 de mai. de 2009

ANTÓNIO CUCO
(2009-2009)
RIP


O que é o Cabaret des Morts? - I Capítulo

É uma boa pergunta. Já definição do que é um cabaré não me interessa tanto. Um dicionário razoável pode dar-nos essa explicação. O que cada um acha que é ou deve ser um cabaré, interessa-me tanto como as dioptrias da irmã Lúcia. No entanto, não é pelo facto de uma máquina de rebites responder pelo nome de máquina que se lhe devam atribuir as características de uma máquina registadora, ou vice-versa. De igual modo, o conceito Cabaret des Morts não se esgota na definição de cabaré.

O blog é o ponto de partida de um conceito com propósitos mais elevados. Tornou-se, entretanto, e perdoem-me o egoísmo, uma espécie de sótão para pensamentos e memórias, um recanto de caixotes guardando o enxoval para um casamento que pode não vir.

O desígnio a que me propus é utópico e quase tão difícil de balizar como de concretizar. Mas ilumina-me os sonhos com o seu néon decadente e eu pernoito debaixo dele como um mendigo esfomeado, com um punhado de cêntimos no bolso, nas traseiras de uma padaria que tarda em abrir.

The Last Pit Before a Suicide…

Uma farmácia para enfermos da verdade, um teatro de bastidores sem tempos para a representação, oficina de montar a animalidade onde ela é devida e a cultura onde ela é precisa.

Mas, entretanto, faça-se a boda...

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19 de mai. de 2009

Tempo perdido

Aos palanques sobem os enforcados, os vendedores da banha de cobra, os políticos em campanha eleitoral e os artistas de variedades nas festas de província. Logo, eu não subo a porra nenhuma para me fazer ouvir. Não preciso e, se precisasse, não seria para me defender de atoardas de pipa aberta.

Mais nível, senhores! Isto é um Cabaré e não um puteiro onde se vendam sandes.
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18 de mai. de 2009

Melodias Trágico Irónicas 3

Um condenado a 5 anos de prisão por furto, viu a sua pena ser reduzida para metade depois da sua advogada provar que este padecia de cleptomania. A defensora constatou esse facto depois de descobrir que o arguido passava horas a ouvir a musica "Steal My Kisses" de Ben Harper and the Innocent Criminals.

Por outro lado, a advogada no seu Ipod, ouvia incessantemente "...And Justice For All" dos Metallica.


14 de mai. de 2009

O Sentido da Vida

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ESTOU A MORRER! Não se trata de um mero exercício de retórica. Estou mesmo a morrer! Mais dia, menos dia, mais ano ou menos ano, mais década (eh lá! – viva o optimismo!) ou menos década, vou-me. E vós também. Não adianta negá-lo. O único sentido da vida é a morte. Pelo menos é para lá que ela caminha. Ainda que se troque de rins ou se ponha um par de mamas novas, vamos todos morrer.

Agora que estamos todos elucidados com este reconfortante pensamento, sentemo-nos à mesa. Depois de comer e beber, acendamos o tabaco. Um a um, despejemos sobre a mesa os despojos do assalto que fizemos à vida, como se estivéssemos perante o criador a prestar contas. Vamos supor que Ele existe e ordenou uma pausa para balanço, como se a nossa vida fosse um jogo de futebol com intervalo.

Devo lembrar-vos que a vida não tem intervalo. Ela não pára de perseguir esse instinto de morte. E, por isso, proponho-vos este exercício para discutirmos novas tácticas para combater um universo sem complacências para os nossos elevados desejos. Se nós, os grânulos de pó celeste, não formos capazes de reinventar o cosmos com nova Lei, resta-nos pensar no que pode fazer a nossa bela equipa de gorduchos e esqueléticos amadores perante o 0-15 com que vamos começar a segunda parte.

Quanto a mim, podermos jogar contra as Leis do Universo United já é uma grande honra. Logo, resta-nos pouco mais que levar mais 15 em cima, tal como os nossos antepassados, que julgaram poder vencê-la e morreram de abafo, ou doentes, atropelados em passadeiras, incendiados em casa, engasgados com ossos de frango, entalados na construção civil, de cirrose, afogados, intoxicados a limpar fossas, esmagados por tractores de vindima, caídos dos trapézios, mordidos por animais, assassinados, violados, de fome, de sede, caídos em buracos, torturados por raptores até à morte, roubados para tráfico de órgãos, vendidos pela pátria à guerra, baleados em manifestações, em atentados terroristas, esmagados contra as grades em concertos de música, de hipotermia, de intoxicação alimentar, de pneumonia ou gripe, de coma alcoólico, de overdose, de porrada à saída de uma discoteca, acidente de (a)viação, de exaustão, paragem cardíaca, sida, cancro, doenças em geral, de catástrofe natural, sepultados em minas, caídos de pontes e de pontes caídas, por inalação de gases tóxicos, acidentes de trabalho em geral, a desmontar bombas, comendo cogumelos venenosos, infectados por mijo de ratos, fulminados pela trovoada e pelo Viagra, como escudos humanos, por uma causa qualquer, por uma mulher, por um filho, porque alguém não aguentou mais e disparou bem sem olhar a quem, por ter uma arma, de solidão, de velhice, de medo, de loucura, de tanto sentir… de outro grandes Etecéteras…

E vai começar a segunda parte das nossas vidas. A primeira parte durou 45 minutos o que, traduzido em linguagem cósmica, equivale a 45 anos. A maior parte de nós não conseguirá chegar aos 90. Possivelmente o jogo acabará sem que nenhum de nós chegue ao período de descontos e, mesmo assim, para quê? Não há mercado de transferências para nonagenários. Esqueçamos o futebol. A vida não é um jogo e, se o fosse, seria uma espécie de solitário sem solução possível.
Como diria esse grande JP Simões no final do desabafo 1970 – “O que vamos fazer?”

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7 de mai. de 2009

MEMÓRIAS DE PAREDES DE COURA III

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“Não há duas sem três” – essa bela frase que tanto pode servir para dar mais uma como para pedir outra…

Neste momento, enquanto dormem os belos corpos em fim de orgia, dou um jeito às pernas, coço a barba e acendo um cigarro despenteado. Resgato o uísque de uma alcova de pernas cruzadas e bebo do seu gargalo salgado. Disponho o laptop num belo costado sem hérnias, demasiado cansado para acordar e que, não sendo de macho, deve ser de uma rapariga muito peludita e má. Esperem lá… já sei quem é! É má, sim senhor.

Deixo cair, inadvertidamente, uma unha de cinza neste agremiado de carnes octópodes em que me encontro (octopussy) e logo ele se ondula como se afastasse com os tentáculos uma mosca vareja.
Tudo repousa, como no fim das batalhas, mas em lona vermelha, e ocorre-me falar-vos de Paredes de Coura. Bela festa!

No dia seguinte aqueloutro, choveu pela madrugada e manhã, dissipando no rio Tabuão as provas de um assassínio hediondo sobre o qual não me pronunciarei até que apareçam os corpos das vítimas (espero que ainda amarradas e adornadas com os instrumentos na nossa criatividade). Depois de um banho revigorante, que serviu para arrancar das unhas restos de pele e sangue ressequido, eu e o Anatoly Zerka deambulamos pela Vila à procura de impermeáveis baratos. Na ressaca de tão voluptuosa maldade que nos fazia ranger os dentes, vislumbramos aquela que, nitidamente, seria a versão punk de D. Quixote, mas sem o seu fiel escudeiro. Se um Sancho houve, terá deixado alforges e largado o burro, correndo sem olhar para trás. Quais Moinhos? A visão deste gigante assemelhava-se a um hospital abandonado com ratos encavalitados nos caixotes, roendo gaze empapada de sangue, num bouquet com seringas infectadas… Depois fomos comer.
Pedimos uns petiscos que estavam bastante bons e só o vislumbre de uma divindade de vestido branco me arrancou os olhos dos pires de moelas. Apesar de quase ter sofrido um esquentamento mental não deixei de dar uso ao faqueiro que esmagava violentamente côdeas de broa. Boa, boa, boa!!!

De seguida, fomos receber em procissão os nossos condiscípulos que não puderam estar presentes no deboche da noite anterior. Seríamos seus guias até ao acampamento. Entre abraços, soou um baque de cisne que só as rolhas de cortiça conseguem imitar quando se apartam do gargalo de garrafas tintas…
Nesse momento precioso de divino simbolismo, refundamos a nossa fé e entregamo-nos a um renovado cardápio de hercúleos esforços e consequente perda de faculdades.
Juntamo-nos ao resto da malta e, sem jantar, fomos para o recinto inaugurar depravações…

No capítulo dos concertos, a coisa esteve composta. As bandas portuguesas Ex-Wife e Bunnyranch portaram-se muito bem. Não me lembro bem qual deles (acham que foram as divorciadas) nos brindaram com a presença em palco da Raquel Ralha, dos Wraygun, mas gostei bastante. Aquele coxão é um espectáculo e se ela me pegasse pela mão e dissesse “anda!”, eu ia. Ah pois com certeza que ia!

Bellrays foi excelente. Não conhecia a banda nem a vocalista. Tufão de senhora, coxa grossa, poderosa. Uma Tina Turner com acrescentos de soul. Que grande concerto! Quase nem fui buscar baldes de cerveja…
Tive medo que ela me pegasse na mão e dissesse “anda”, pois já estava arranjado para a Raquel.

Os Sex Pistols foram engraçados, tentando disfarçar o tesão que já não têm. Pediram vinho rasca só para chafurdar o palco com bisgas venenosas. O Jony Roto (para amigos) ainda mantém uma expressão de puto reguila e aquela boca torta com o maxilar superior lançado para a frente como se fosse espetar com viço os dentes num pão com chouriço.
Quando um punk conseguiu transpor a barreira de segurança e subir ao palco (não se sabe muito bem se era para lhe partir os cornos ou lhe oferecer um botão de rosa), foi imediatamente abatido pelos snippers do cabedal. O Jony limitou-se a aconselhar o público: - “DO NOT DO THAT! THIS IS MAAA STAGE! RESPECT!”
Bom, a partir daqui, fui emborcar baldes de cerveja. Quando um punk chega ao ponto de dizer que é para haver respeito é porque estamos perto do fim do mundo. E se o fim do mundo viesse, ninguém me iria apanhar sóbrio, não senhor! Portanto, fui beber como se não houvesse amanhã. Ainda cheguei a tempo dos “vivas à rainha” – essa sem futuro que ameaça durar mais que eu!

Por agora, não me apetece contar-vos mais nada. Está aqui uma ninfa a puxar-me pelas pernas. Acordou a ressacar sexo e está a pedir-me que lhe administre mais uma dose desse soro da vida. Vou só pô-la a dormir e já volto…

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5 de mai. de 2009

O tema deste Post...

Quando era miúdo, ia com os meus pais ao domingo levar o depósito nocturno ao banco. Não era bem nocturno. Saíamos de casa ainda era dia. Lembro-me de contar cerca de 100 árvores de natal nas janelas, da primeira churrasqueira que abriu em Alpendurada e de me fazer um esfomeado manhoso para irmos comer um prego com batatas fritas ao Gato Negro, ou Preto, ou a puta que o pariu…
Nessa altura, que não era nitidamente o meu tempo, lembro-me dos bancos que havia. Eram poucos e, no geral, só lá trabalhava quem fosse rápido a contar notas. Íamos ao Banco Fonsecas & Burnay e havia a Caixa Geral de Depósitos (a grande Madame), que era onde o meu avô teimosamente depositava as lecas. Depois fomos mudando, saltando de banco em banco, como os saltimbancos. Lembro-me do Montepio Geral, do Banco Borges e Irmão, do Crédito Predial Português e de surgir a Nova Rede, essa novidade de outrora com imagem juvenil, ecoando hoje à craveira de um qualquer partido político minoritário a pôr-se em bicos de pés.

Na altura, como hoje, não dominava essa linguagem de escravos que é o Economês. Mas suponho que os métodos fossem semelhantes. – ponha aqui o seu dinheiro. Nós somos do Best e a sua reforma vai parecer a lotaria (hoje, o Euromilhões, porque a bazófia também fez filhos e agigantou-se com upgrades).

O que me leva a crer o seguinte: - quem são estas bestas que nos juram fidelidade eterna e depois se vendem aos outros. Quem são estas putas de alterne que fundam bordéis e depois desaparecem? Vale a pena acreditar? Não creio. Grande parte das putas que conheço (assumidas e, portanto, as verdadeiramente dignas de respeito) carregam um fado qualquer, uma culpa de amor em saldo que elas não puderam comprar e a que, sem grande acometimento de valores, me atrevo a chamar de consciência. Não deve haver muitas verdades maiores do que uma puta a assumir que o é. E, como tal, merece respeito. Bem mais do que aqueloutras que namoram futebolistas e falseiam, não só o prazer mas também o Amor (essa sim, a mais reles das putarias).

Ora bem, bancos e putaria é quase a mesma coisa. Enquanto umas nos puxam pelas peles no colchão, os outros fazem-nos acreditar que as peles debaixo dele, estão mais seguras na sua caixa forte, o que, como sabemos, é uma grandessíssima mentira. Sei de uma estória. Senhora velhinha, com colhão e meio de euros, peintelhos de tostões. Pediu para levantar o dinheiro. Demorou a contá-lo. Feita a conversão para contos de rei, retorquiu: - “Está certinho! As notas é que já não são as mesmas!” – disse em tom de repreensão por lhe terem andado a mexer no dinheirinho. “Pode voltar a guardar!”
Inocência gira dirão uns, selvajaria grotesca, outros dirão. Na verdade, a velhinha não sabe o que é um banco ou o que representa, mas este sabe bem o que ela é. Se lhe contassem a história toda, dava-lhe um ataque nos órgãos mais sensíveis. Ela levantava as notas trocadas e sujeitar-se-ia às manápulas de um drogado a virar-lhe o colchão ou a comprar-lhe vinho com notas falsas, com troco verdadeiro e combinação de caixa fraca.

Eu também poderia chegar a velho. E se isso acontecesse poderia rir-me com toda a masculinidade dos meus ossos, uma espécie de escárnio em relação aos mal coçados. Imaginemos, um velho sem rapidez de movimentos ou raciocínio a lidar com a tecnologia de amanhã. É para rir e, no entanto, sem valores que nos protejam, nós somos hoje o sulfato e enxofre para essa colheita de amanhã. Invariavelmente, acabaremos por dizer: - “se eu tivesse a tua idade” e, muito pior, “o mundo é assim”. Diremos a mesma merda que ouvimos, ainda que tenhamos hoje quilhapos para virar o sistema pelo avesso. Mas definhamos. Ganhamos filhos e, com eles, um amor que não se permite a revoluções, porque não lhes desejamos fome nem abalos maiores na cadeirinha do carro que preenche todos os requisitos de segurança em caso de acidente. Pois claro. Na melhor das hipóteses são os primeiros a ficar órfãos. Dir-me-ão que pode salvar-se vidas. Não duvido, mas não é esse o tema deste post. Gosto muito de criancinhas, principalmente quando estão caladas ou a chupar cornettos. Podia até trazer uma ou duas a este mundo, partindo do princípio que elas andam pelo cosmos a voar. Podia até provocar-lhes uma infância feliz mas… e depois de sair da cadeirinha? “Este país não é para velhos” e muito menos para crianças que deixam as cadeirinhas. Portugal é, quando muito, para corruptos que se encavalitam em Bancos. Dir-me-ão que posso sempre emigrar (e viver fugindo do chafariz de merda com que nos contempla o Sr. Poder). Dir-me-ão que um dia, quem sabe, talvez esta gente que cria leis e nos obriga a cumprir normas de segurança se lembre de nos inventar uma cadeirinha para nos proteger dos Bancos. Sim, mas não é esse o tema deste post...

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