29 de mar. de 2008

Saí de casa a cheirar os braços

Saí de casa a cheirar os braços. Isto de trabalhar num talho tem que se lhe diga: ou a gente se lava bem com sabão ou corre o risco de estar a ser lambido e ser esfregado num elogio qualquer de macho (elas distinguem bem o cheiro de rosas do perfume das barras de sabão-rosa desfeito em navalhadas). Eu é que não sei se a Victoria Secret’s já lança sais de banho, já a lingerie faz os seus brilharetes, especialmente em orgias. Sou pobre como uma puta de jet set, mas cheio como um cão sem pedigree, rafeiro, vá, mas orgulhoso como um político no poder… Pelo meio, acho que me perdi…

Saí de casa a cheirar os braços e meti-me à boleia à porta de casa. Pedir boleia nos dias que correm é muito mais difícil. Hoje, quase só os drogados pedem boleia e, como eu bem compreendo, ninguém se quer arriscar. Não uso telemóvel. Eu sei que é turrice minha, até porque tenho perfil no hi5, logo extraia-se daí qualquer mensagem política anti-globalização ou a puta que a pariu…

Bom, agora é que é! Saí de casa a cheirar os braços, apanhei boleia com uma gaja deprimida que gostava de Pearl Jam e que tinha muito a perder se a polícia nos fizesse parar. Acabamos no mesmo café a beber finos e a comer rissóis e torradas. Eu, rissóis e ela torradinha de todo. Mas não fui capaz! De manhã acordei a ser petiscado…

A metamorfose da carne faz-me sempre pensar, até porque já eram horas de abrir o talho.

Ela nem era nenhum monumento! Até porque os monumentos são para ser admirados e não para ser fodidos (se bem que eu já mijei nos pés de belas estátuas). Mas marcou-me por foder com gosto. Não é todos os dias que alguém se dá por completo, com alma, como um animal (que supostamente a não têm). Merece respeito? Claro que não! – pelo menos durante o sexo. Já cheio de sono, e com um formigueiro de envergonhar o açúcar, combinei-lhe os ingredientes do frigorífico, ao som do “crazy” dos Aerosmith, num pequeno-almoço. Adormecemos abraçados, com o corpo rendido e a alma reconfortada. Deixei-lhe um beijo na cara e a almofada, onde ela se deita, cravada deles, e um recado a dizer coisas que não se dizem. E saí de mansinho a cheirar os braços…

6 de mar. de 2008

carne verde

Acabamos a gostar do mesmo.

Um abraço na manhã que vem fria

E espanta o sonho da noite feito ilusão.

De manhã a carne é de uma brancura

Que dura de tão verde

O desejo.


Acende-se a luz porque me deito

E berram-me buzinas a dormência.

Falta-me a vontade infantil de querer acordar

Para me cumprir.

Fugir errando

Um passeio de bicicleta por um ninho de luz que atordoa

Ser criança

Por montes e serranias

Errando em prol da liberdade. Um valor

Sem propriedade.


Mas nós não devemos querer assim tanto

O passado de ter sido só as pedras dos montes

Que passam despercebidas.

Quero andar pelos campos como um vento tresmalhado.

Prefiro, em vez dos homens, o abraço de um espantalho

Semear a minha solidão

Não como uma doença velada

Ou por dentro arrependido como uma procissão inventada.

Quero cumprir-me antes num campo de criação

Do que ser um rótulo de cristão ou outra coisa pobre na imensidão

Mas fica-me sempre na boca um gosto de blasfémia

Amarga. A fazer de boa.


Se existe um Deus que pune

Deve haver um outro que reúne.

Como uma mãe que tudo perdoa.

Sinto culpa e culpo a religião.

Até podia ser padre de uma outra profissão

Mas nunca traficante do coração.


Apresentação

Por insistência do Sr. Mal, eis-me aqui a partilhar convosco um Olá! Sou o Menino de Talho! – Bonito nome me puseram, esses filhos-da-puta! Não me agrada nada falar de mim. Não tenho curso superior nem inferior. Trincho carne! Para que não restem dúvidas, a melhor parte da peça sou eu que a como. A minha faca tem a grandeza de um Nietzche que divide. Os cães olham-me de soslaio e odeiam a minha bata branca como a um chinês com lojas.


Gosto bastante de foder mas não procuro amor algum. Ás vezes até vou ás putas. Divido o suor do meu trabalho com a higiene cuidada de quem se lava em perfume: é uma troca.


Também gosto de um bom bailarico. Para mim, a música Pimba é o último bastião da cultura underground. Adoro festas de província e se acabarem em porrada, tanto melhor! Vivo numa casa dita miserável mas sou feliz. O meu mundo é rasteiro como um cão que se deita ao sol. Devo escrever “coisas que põem o diabo a coçar o pêlo dos cornos”. Pelo menos, foi o que me disseram. Aceitei escrever aqui para não me esquecer da grafia. É que, volta e meia, mando correspondência para a América e não quero que eles pensem que sou um putanheiro analfabeto.

Portanto, portai-vos mal e ide à missa...

2 de mar. de 2008

A pedido de várias famílias...

(sem ordem definida)

- Hong Kong Stomp – Legendary Tiger Man

- She Said – Jon Spencer Blues Explosion

- The Night – Morphine

- King of Nails - Sparklehorse

- Quebramos os dois - Toranja

- Deadend Mind – Madrugada

- Flyswater – Eels

- The Widow - The Mars Volta

- Friend is a Four Letter Word – Cake

- After Dark – Tito & Tarântula

- Vertigogo – Combustible Edisons

- Verdes Anos – Carlos Paredes

- São Paulo 451 – Belle Chase Hotel

- Wicked – Ben Harper & the Blind Boys from Alabama

- Unbelivable - EMF

- Play the Blues - Danko Jones

- Gumes - Mão Morta

- Mary Jane's Last Dance - Tom Petty & The Heartbreakers

- Alice - Tom Waits

- Majesty - Madrugada

- Where is my Mind - Pixies

- Two Shots of Happy, One Shot of Sad - Nancy Sinatra

- Back to Black - Amy Winehouse

- Poesia - Maldoror, por Mão Morta

- Utopia - Goldfrapp

- Slave - Spiritual Front

- Never leave lonely alone - Ben Harper

- Flutuo - Susana Félix

- Godless - Dandy Warhols


Continua...