24 de set. de 2009

O Ócio e o Negócio

Calem-se os cépticos! Eis-me chegado de um longo período de marasmo, hibernação e/ou descanso. Vejam-me, os que em mim não acreditaram, como um bombom desses que a televisão publicita, desses chocolates que são retirados do mercado durante a estação das secas, do sol e do calor, para que não percam nenhuma das suas qualidades… podem ver-me assim, os que me julgavam desaparecido, ou ter desistido de comunicar no Cabaret… A verdade, meus caros amigos, é que este vosso humilde narrador só se ausentou por uns tempos, por ter ido de férias ao meu país natal.
Retirei-me, portanto do “negócio”, para gozar uma temporada de ócio. Mas afinal é sempre a isto que a vivencia humana se resume – ao ócio e ao negócio.
Foram umas grandes férias, vividas intensamente e até ao limite. Família, amigos, copos, comida da boa e muitas amigas sempre a entrarem pelos meus aposentos adentro. Ainda agora regressei e já sinto a falta desses regalos tamanhos. O mesmo senti por tudo isto e especialmente por vós meus caros cúmplices, quando me encontrava na mãe Ucrânia.
Já tomei conhecimento de algumas novidades do país e da terrinha e mais particularmente aqui do Cabaret. Desde a minha ausência, soube que mais alguns compinchas se juntaram ao elenco de comunicadores cá do blogue, a todos eles os meus mais sinceros e cordiais cumprimentos e boas vindas.
Assim, não sei se para rejúbilo geral, afianço a continuação da minha escrita neste local, que particularmente deveras me apraz.
Portanto, gozado que está o ócio, vamos ao nosso negócio!

23 de set. de 2009

Outono

Chegou o Outono, a minha estação preferida. Deixamos de suar como porcos, as cobras hibernam e os coretos demitem-se de acolher artistas pimba; as árvores que não arderam largam a mão das folhas, cobrindo o chão pejado de pevides e cascas de melão; o sol põe-se com um gosto de fruta madura e troca-se uma roupa por outra com mais ternura. Depois a carne tem outro gosto, convidando mais ao deleite e ao vinho chambriado. Sirvo Two Shots of Happy, One Shot of Sad de uma Nancy Sinatra em copos de cristal e os relógios entram em greve para me dar razão.

Por esta altura, as fadas deixam pistas da sua passagem pelos montes. Lenços de luz nas árvores e cabelos de oiro penteados sobre as pedras. As fadas são ninfas tímidas sujeitas à lei dos pássaros, instruídas para fugir dos homens. Mas há, em todas as criaturas de Deus, rebeldia e pendor para o desconhecido. À sombra do sono parecemos menos maus e as fadas arriscam o toque e beijam-nos a boca.

Acordamos depois revigorados, sem fada ou fado, com um gosto de flores na boca e o mesmo entendimento relativizado do mundo, confusos, mas sem noção de ter infectado a doença do amor num coração puro.

A fada morre depois, virgem, como uma borboleta mirrada de sede, e um ancião de tal adverte para os perigos num palanque de flores improvisado…

Chegou o Outono e a dor ouve-se como o vir da festa…


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17 de set. de 2009

Carta aberta ao Bebé Delícia

Nunca antes tinha pensado na adopção...

Com este post, o menino fez-me reviver uma infância que eu julgava perdida, muito por culpa de uma orfandade que me atirou cedo para a fábrica de sapatos. Uma infância com meninas que gostavam de brincar às casinhas em cabanas com pilares e cheiro de eucalipto. Uma infância feliz e poligâmica cimentada em camas de giesta. Uma infância em que eu mostrava a pila às meninas, e elas, ainda sem pelugem de mocho, baixavam as cuequinhas até aos joelhos e deixavam-se inspeccionar.

Se, por traquinices do destino, os seus pais adoptivos o voltarem a pôr na cesta e o deixarem à porta de um orfanato, saiba-se avalizado para merecer os meus cuidados paternos. Conheço umas garotas sensíveis com parzorros leitosos, dos quais poderíamos sorver os dois.

Pense bem, menino, e não hesite em contactar-me!

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16 de set. de 2009

Biberão On the Rock's

Oi,

Eu sou o Bebé Delícia e, com o tempo, percebereis que eu sou muito mais cabrão do que vós todos juntos. Vim do futuro com o objectivo bem delineado de me pôr na mira da pedofilia feminina!

Ao contrário do Sr. Mal, que persegue o seu fetiche por pernas com um cabisbaixismo mal disfarçado, eu ando sempre com o pescoço em jeito de periscópio à procura de mamas, como se respirasse um ar mais elevado. É, gosto de mamocas!

Ainda tenho os dentes de leite, ou melhor, tenho os dentes cheios de leite. Às vezes, estou a mamar e tiro a boquinha para lamber as beiças, como um epicurista bêbado degustando um Chianti de 88. Pelos peitos onde a minha boca passa nascem rugas de esvaziamento e erguem-se ao sol mamilos em penitência.

Agora tenho que ir dormir. Gostava de poder escrever posts maiores mas não posso dar muito nas vistas. Estou na sala de jantar a escrever às escuras no Magalhães do meu irmão adoptivo. Está tudo a dormir e eu vim aqui só para cambiar o leite de vaca que me puseram no biberão. Estava a precisar de uma pomadita que me pusesse a roncar mais a jeito. E sim, vou de gatas para a camita.

PS: O gato até foge de mim só de olhar para ele…

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8 de set. de 2009

Chá das cinco

Eu devia era dormir! Deitar-me numa cama fresca e ficar velando, sem grande contrição, por uma associação de ideias e pensamentos que me carregasse as pilhas. Mas há ímpetos que vencem o cansaço, como aquela vontade de querer passar a noite a foder, sem ter ainda com quem. Ímpetos que resvalam no vício e que ninguém gosta de admitir, como escrever bebendo ou conversar à distância…

Gostava de recuperar a prática romana dos banhos públicos, mas cruzado com um “chá das cinco”. Quem fodesse cinco vezes teria direito a um chá…

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5 de set. de 2009

Monólogo amigável nas agitadas paragens de Algures:

-Nunca digo tudo e tudo o que digo é tudo e nunca o todo.

-Criaste um espaço impenetrável e afastado de todos. Nada nos é próximo-lugar longínquo de intima nostalgia.
Falar é dar forma à palavra que está em ti. É ouvir o eco da tua voz interior.

- Não será a palavra que expõe o ser levando-o a provar da ironia e escárnio, deixando nele o sabor a fel?
Tudo o que é dito contém a morte em si. Ditosos os que são em silêncio.
Quantas frases são pronunciadas com o peso da repetição?

- E quando se fala das dores, serão elas também volúveis?
- As dores vivem-se na solidão que é nossa.Tudo o que é dito ou vivido no exterior não é mais do que areia que finca ao decalque da leveza do ser.

-Nunca desiludir-me-às...

-Recordas-te de tudo o que tens dito?
Por vezes penso que nos servimos das palavras quando menos necessitamos delas. Escondem-nos nelas e delas resultam frases feitas e lugares comuns... Prefiro escrever.

-Eu também. Adeus.

-Adeus.