7 de set. de 2010

Ode ao Woodrock

.


Não sou de um tempo…
Como dizem os velhos de um tempo que passou
Sem que realmente o tivessem podido tomar como seu.
Envelheço, apenas, como de resto toda a gente…

Mas se de um tempo falasse com pompa e circunstância
E propriedade,

Se de um tempo falasse com galões,
Bufando as unhas,
Polindo-as no relevo das condecorações
Alfinetadas ao peito,

…falaria do Woodrock!

As amizades que ali fiz e
Me fizeram,
As que consolidei,
As decadências sinceras a que me entreguei –
Porque quis! –
E não porque se me impunham, e creio
Ter sido ali sempre respeitado
Por garantir
Uma honestidade de carácter que cabe bem em dois cubículos.

Não sou de um tempo…
Mas para o tempo em que me atiram
Não havia o Woodrock,
Embora o sonhasse então por linhas travessas…

Para muitas pessoas é só um bar! – Eu não as censuro –
No dicionário, um bar é um bar e/ou, quando muito,
Um pub!

Mas um dicionário não é certamente um livro de poesia
E eu, não sendo realmente um poeta
De escrever livros,
Leio um parágrafo,
Releio ou viro uma página de cada vez que lá vou…

Arrisco o tempo que será um dia o dos outros
Por um capítulo novo, agora,
Que amanhã nem sei se meu será…

Mas subo as escadas que um dia desci por outros motivos
E o Woodrock empurra-me o coração para bater…

Para cima…

Como a um crente,
Como a um verdadeiro crente
Que se renasce sempre a entrar com Alzheimer
Por uma nave estrangeira…


.