23 de jul. de 2013

movimento perpétuo



Procuro a posição perfeita…
Não encontro.
Não sei se é problema de ergonomia,
Física ou psicologia.

O corpo tenso
Flameja irritação
E o pescoço contorce-se
Para dar aos olhos
a paisagem que
o nariz respira.

e manda lá para os pulmões
aquele ar que enamora o coração,
suspira
e desata o nó do estômago.

O tempo ofendido
Por tua brisa de ócio
Compõe o cabelo,
Vira- costas
E abre caminho,
Resmugando-te:
“misérias e pobreza.”

Enxuto respondes :
“Segue lá a tua vidinha
Que se eu de ti não faço dinheiro
Tu de mim não fazes farinha.”

(solta-se um riso de ressonância
Entre ti, uma viola
as palavras e o silêncio)

E a tarde ,
Vira a bola de um puto perdedor
Que o tempo vencido
Reclama.

“Segue a tua casmurrice
Leva lá contigo o sol e o dia
que á noite… hei-de festejar
num cortejo de alegria.”

Tanto que hás-de arder
Numa grande fogueira
Onde sereno
Rejubilo na doçura musical
Do som decrepito e digladiado
com que te arrastas.

Hei-de rir num círculo de mulheres,
O maior dos seus receios.
Tu e o peso gravidade
No desamparo dos seios.

.

palavras paparazzi


é noite. dentro das profundezas do meu ser um candelabro,
uma ideia disforme que me vai sussurrando incessantemente
contra qualquer sono que me rapte nos seus braços de veludo.

as palavras que conheço e que já tantas vezes dispus
tentam assomar-se para relatar a ocorrência bizarra
de um motim no interior do homem a que se subordinam.

na verdade, esta ideia não me pertence
tal como eu não lhes pertenço.
a vida – é – assim –  mesmo.

o rio corre para o mar que não conhece
não para a montanha que o pariu
e que ainda lhe lança um olhar altivo.

encontrámo-nos casualmente, bebemos uns copos a mais,
e agora estamos os dois às voltas na cama,
inquietos,
a debater-nos, a esventrar-nos,
a procurar a essência orgásmica da poesia secreta dos colibris.

amanhã, quando acordarmos,
não saberemos muito bem o que fazer um com o outro
mas o mal já está feito – as palavras retrataram o nosso affair.

amamo-nos hoje. negamo-nos amanhã.
a luz levará até as nossas sombras
e para trás ficarão, como postais, as nossas peles.
 
Ideia, ainda me consegues ouvir?
acho que bebemos um pouco de mais!...

a vida –  é –  assim –  mesmo;
mesmo –  assim –  a vida – é
um estúpido jogo de sentidos.
 
o homem leva as sementes e lança-as sobre os baldios,
tal como faz o poeta com as ideias e o barulho
que despeja na fria mas cálida folha de papel.

se ao homem cabe colher o fruto e com ele saciar a fome,
ao poeta resta-lhe somente continuar a plantar ideias e febres
na ânsia de entreter e comover aqueles que o leem
nas horas em que o alimento não enche o cálice da existência.

Ideia, ainda me consegues ouvir?
fazemos mais um brinde à poética decadência?

[mas nem tu és poeta nem eu sou decadente!
sou uma ideia livre e não me tomes como tua!] 
 
desculpa! se fosses mulher, os pudicos chamar-te-iam puta
com todo o respeito.

vamos dormir! é dia.