30 de jun. de 2010

Incompleta

Serafim dos meus sonhos...
acompanha-me nesta valsa,
por mim inventada,
mas muito desejada.
Eleva-me como um astro,
adorna-me com os fios d'água,
que da tua nascente vêm até mim...
Em meus cabelos se tornarão,
finos, sedosos e de um perfume virgem,
sem origem...
Meu rosto será de areia,
que aquecida pelo sol,
descanso dará ao teu corpo...
Meus olhos, de película verde,
serão feitiço para te prender,
e unir duas almas,
sem nunca pensar no abandono,
deste tão amado sonho...
incompleto....

25 de jun. de 2010

Manifesto contra as gajas boas

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De há uns tempos a esta parte que certo tipo de mulheres perfeitas (com corpos perfeitos, entenda-se) me entediam, esmorecendo por consequência a minha vontade de as cobrir. Falo desses protótipos de mulher celeste que abrolham nas revistas masculinas como pop-ups em sites porno; daquelas com potencial para serem chamadas à Selecção Nacional das Namoradas de Jogadores de Futebol e que, mesmo sem convocatória, formigam pelos estágios como nassas de pássaros ou favos de mel.

Estou cansado delas, ainda que folheie primeiramente e sempre O Jogo pelo avesso e, instintivamente, lhes assobie um reconhecimento ou dispare um “Eh Eeii!” mais galhardo, seguido de um “Fuooda-se!”
É. Não parece mas estou cansado dessas tipas! Talvez ainda se não tenha reparado muito nisso mas estas mulheres que, em teoria, erigem o cânone de beleza feminina à custa de muita baba máscula, são abundantemente vulgares. Com esta mania de sermos todos bonitos de repente, vimos assistindo a um surto de poderosas que brotam dos ginásios como licenciados em Relações Internacionais das universidades, no final da década passada. A beleza, no entanto, tem mercado. E como a competitividade está agora na moda, as mulheres sujeitam-se a um delineamento de curvas capaz de pôr torneiros a suar e relojoeiros a tirar os óculos da ponta do nariz. Às vezes, ao sábado à noite, descubro o meu olhar desnorteado em coxas como o cão de um garimpeiro que atravessa a multidão, a lamber-se na miragem dos lingotes com mais quilate. Certo? Errado! Não consta que os cães tenham mais febre de ouro que os humanos a da carraça e, muito mais canídeas parecem as mulheres em relação ao ouro. Quem diz ouro, diz um amor deslavado em lágrimas pelo Cristiano Ronaldo, festas VIP, mamas novas, cartões sem plafond e um resto de tudo que vem por acréscimo como o Photoshop!

Eu não digo que as mulheres não devam investir no corpo. Até acho que devem continuar a investir como essas vaquitas que prá’í andam nas revistas a negociar aqueles triângulinhos de pano que falta para se lhes ver o parreco (gosto tanto desta palavra!). O problema é que a oferta de gajas boas está a aumentar, bem como a concorrência desleal na caça ao macho, levando muitas a recorrer às mais ancestrais técnicas de marketing, como é o caso do "bochecho na toilette”… um clássico muito em voga nos Estados Unidos.

Bem, isto de dizer mal das gajas boas está a custar-me. Por isso, vou mudar de técnica e falar das que eu gosto mais. Eu gosto mesmo é das francesas. Não tanto daquelas pitas que aparecem por aí à boleia do Erasmus mas daqueloutras que vêm embrulhadas como bombons nos filmes franceses, mesmo nos vintage (estou a falar de cinema de autor e não de porno, entenda-se!). Aquilo sim, são mulheres com substância, interessantemente cultas e tesudas, respeitosas como quebra-nozes e dotadas de um magnetismo capaz de arrancar pregos a um caixão enterrado numa cova com duas funduras. Nada que se compare a este fast-food de cantina cinematográfica americana.

Por isso, meninas, antes de julgardes o meu machismo, atentai bem neste esboço que aqui vos trago e pensai bem nos modelos de beleza que as revistas vos andam a vender. Achais mesmo que sois emancipadas? Não estareis a andar para trás, a tornar-vos mais burrinhas e plásticas? E os homens? – direis - Ah e tal, básicos… só pensam em coisa e foder… e protegem-se uns aos outros e não sei quê! Nós gostamos de sexo. Ponto final. Vós também gostais? Óptimo. Bora lá prá festa. Sexo é sexo e não deve ser complicado, isto é, por demais formalizado. Mas tenham presentes este pensamento: - enquanto as mulheres se servirem dele para atingirem os seus fins, nunca serão completamente emancipadas, nem os homens suficientemente despertos para a sensibilidade feminina. Tanga? Tanta conversa guarda a mulher para o fim do sexo e tanta vez lhe foge o homem a meio…


Nota dispersa:
Não se esqueçam que ser gaja boa, nos dias que correm, não basta. A beleza é efémera e o casamento também. Agora que penso nisso, perdoem-me o machismo, mas quase me parece que foram as mulheres que inventaram tanto o casamento como o divórcio. Não tenho a certeza, mas… hum huummm (tosse e pigarro) não sei… não sei…
Para terminar, nunca se esqueçam, meninas e senhoras, que são vossemecês que educam os filhos para serem os dominadores de mulheres, para lhes resistir às manhas. Nós temos a escolinha toda. Agora que penso nisso, isto dava um bom post para o dia da Mãe.


PS: quem diz francesas, diz italianas e espanholas. O filão do cinema europeu é vasto e de alto coturno.

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23 de jun. de 2010

Poesia ao entardecer

Espelhar poesia,
com palavras entrelaçadas,
entoadas ao som da cítara.
Espalhar poesia,
soltar os cabelos,
morder os lábios,
gestos,
sentidos,
votos,
promessas a cumprir...
Morder os lábios,
fechar os olhos,
deliciosas tertúlias,
tempos passados,
Soltar os cabelos,
lavar o rosto,
caminhar nua.
Espalhar amor,
Sou tua.

16 de jun. de 2010

Monopólio, o jogo

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Cada vez acredito menos na bondade da raça humana. Talvez o meu pessimismo se deva a este ralhar pão de barriga cheia a que se convencionou chamar crise. Não sei muito bem o que é a crise, confesso! Mas creio tê-la percebido metaforicamente, imaginando-me a jogar Monopólio.

- “Um jogo fabuloso”, - disseram-nos – “que todos poderemos jogar de igual para igual, num mesmo tabuleiro, e todos poderão lançar os mesmos dados”.

Embalados pela emoção dos relatos, trocamos tudo em fichas e pusemo-nos a jogar, enquanto nos ensinavam as regras. Ao princípio, foi muito engraçado repassar a casa partida e sacar uns euros, bem como receber prémios de beleza na casa da sorte. Uma conta de água aqui, uma multa acolá. Nada de muito preocupante. Depois o espectro de ir para a cadeia mas, com um bocado de sorte, a gente até se livra. O pior é quando chegam as contas de Hotel em Lisboa, que a vida está má… mas a roda-viva mantém-se e o povo tem que se pôr a mexer e ir de férias, ainda que lhe falte o guito. Neste jogo, está fora de questão ficar a descansar em casa ou para a reforma no Campo Grande, sob pena de estancar a economia. Vêm depois as penhoras, os empréstimos em desespero, sem ética, a falência e a miséria…

Ficamos depois a ver os outros jogar, com tempo para ler as regras, e sem perceber muito bem onde começou a ruína do império. Sem recobro nem esperança, apontamos como bons portugueses para o fado e para a falta de sorte.

Perdido e sem nada a perder, permito-me a um exercício adiado - pensar livremente!

Começa-se a partida com o propósito bem vincado de evitar um duche no presídio. Depois, à medida que o jogo avança e o tabuleiro se avilta, passar uma temporada na cadeia para segurar as notas soa quase a refúgio. É, por essa altura, e com equidistância, que o jogo me parece tão real, acrescendo o facto de eu o estar dizendo e ser tomado por loser


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13 de jun. de 2010

Banco de Jardim

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A Morte exibiu-se hoje a um casal de namorados no jardim municipal. Tomados pelo veneno de amar sem condição, amaram-se e abraçaram-se até o ar de ambos se suster. Voaram depois, dançando numa espiral de pó.

Um casal de namorados suicidou-se ontem à tarde no jardim municipal. Os jovens, ambos estudantes no liceu local, ter-se-ão envenenado após uma discussão mais exaltada entre as famílias de ambos, que desaprovavam a relação. A comunidade estudantil organizou uma vigília no bar local com o intuito de cumprir as últimas vontades do casal suicida. O presidente da Câmara Municipal endereçou já as suas “mais profundas condolências aos familiares das vítimas, neste momento de dor e pesar”. O autarca aproveitou ainda para anunciar que “ haverá autocarros para levar as pessoas a casa depois da vigília”, tendo em conta que o casal suicida desejou “uma grande festa, do tipo ‘Sábado à noite’, mas durante a semana”, para festejar o adeus de ambos. Espera-se, por isso, uma celebração com lágrimas e muito álcool à mistura.
A Morte, presumível responsável pelo fim prematuro dos jovens, continua “a monte”, pesando sobre ela a acusação de “homicídio involuntário e conduta indecente”.

Levados ao abismo por um mesmo toque de pífaro, lançaram-se dois amantes a um poço de calor onde se forjam fragrâncias. Abraçaram-se na queda e foi preciso um pé-de-cabra para lhes roubar o tesão dos ossos…
Os funerais são rituais que os vivos inventaram. O exercício da morte quer-se breve como uma conta simples, sem muitas equações. Um morto quer-se sonolento, respeitoso e hirto. Se preciso for, partem-se-lhe os maxilares, ainda que ele tenha passado a vida a gritar. Porque um morto é um morto e convém, para os que cá ficam, que ele pareça descansado.

…E ninguém disse que dava tudo para sentir o que eles sentiram, num banco de jardim!


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9 de jun. de 2010

Cão-Gulliver

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Eu fiz da minha vida uma obra de arte
Que foi, de onde estava com os outros
Que viviam, olhar-me a partir de Marte.

Julguei-me alto como um Adamastor,
Abrindo edifícios de três placas,
Por dentro, com o telhado à cintura…

Os braços comandados
Como quem guia o céu…

Chove,
E os carros passam luminosamente
Do outro lado do vale
Em pequenos pixéis.
Eu adormeço a olhar para eles, como um Cão-Gulliver
Abraçado às telhas…

Doem-me as pernas!
Doem-me tanto as pernas…


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6 de jun. de 2010

Corrente sanguínea

Sobe e desce a harmonia das coisas.
Ora no auge, é:
Desenvoltura, avanço, progresso e alimento das células vitais,
que dão forma ao Amor Universal.
Ora desnivelada e em regressão , é:
caos interior, perda pessoal de valores,
desajuste que conduz à perda do cordão umbilical,
fonte da Beleza terrena e supra-humana.
Na perda todo o ser se reduz a poeira,
a um buraco negro distante e desolador,
pois o medo entope a corrente sanguínea impedindo o agir.