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A Morte exibiu-se hoje a um casal de namorados no jardim municipal. Tomados pelo veneno de amar sem condição, amaram-se e abraçaram-se até o ar de ambos se suster. Voaram depois, dançando numa espiral de pó.
Um casal de namorados suicidou-se ontem à tarde no jardim municipal. Os jovens, ambos estudantes no liceu local, ter-se-ão envenenado após uma discussão mais exaltada entre as famílias de ambos, que desaprovavam a relação. A comunidade estudantil organizou uma vigília no bar local com o intuito de cumprir as últimas vontades do casal suicida. O presidente da Câmara Municipal endereçou já as suas “mais profundas condolências aos familiares das vítimas, neste momento de dor e pesar”. O autarca aproveitou ainda para anunciar que “ haverá autocarros para levar as pessoas a casa depois da vigília”, tendo em conta que o casal suicida desejou “uma grande festa, do tipo ‘Sábado à noite’, mas durante a semana”, para festejar o adeus de ambos. Espera-se, por isso, uma celebração com lágrimas e muito álcool à mistura.
A Morte, presumível responsável pelo fim prematuro dos jovens, continua “a monte”, pesando sobre ela a acusação de “homicídio involuntário e conduta indecente”.
Levados ao abismo por um mesmo toque de pífaro, lançaram-se dois amantes a um poço de calor onde se forjam fragrâncias. Abraçaram-se na queda e foi preciso um pé-de-cabra para lhes roubar o tesão dos ossos…
Os funerais são rituais que os vivos inventaram. O exercício da morte quer-se breve como uma conta simples, sem muitas equações. Um morto quer-se sonolento, respeitoso e hirto. Se preciso for, partem-se-lhe os maxilares, ainda que ele tenha passado a vida a gritar. Porque um morto é um morto e convém, para os que cá ficam, que ele pareça descansado.
…E ninguém disse que dava tudo para sentir o que eles sentiram, num banco de jardim!
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A Morte exibiu-se hoje a um casal de namorados no jardim municipal. Tomados pelo veneno de amar sem condição, amaram-se e abraçaram-se até o ar de ambos se suster. Voaram depois, dançando numa espiral de pó.
Um casal de namorados suicidou-se ontem à tarde no jardim municipal. Os jovens, ambos estudantes no liceu local, ter-se-ão envenenado após uma discussão mais exaltada entre as famílias de ambos, que desaprovavam a relação. A comunidade estudantil organizou uma vigília no bar local com o intuito de cumprir as últimas vontades do casal suicida. O presidente da Câmara Municipal endereçou já as suas “mais profundas condolências aos familiares das vítimas, neste momento de dor e pesar”. O autarca aproveitou ainda para anunciar que “ haverá autocarros para levar as pessoas a casa depois da vigília”, tendo em conta que o casal suicida desejou “uma grande festa, do tipo ‘Sábado à noite’, mas durante a semana”, para festejar o adeus de ambos. Espera-se, por isso, uma celebração com lágrimas e muito álcool à mistura.
A Morte, presumível responsável pelo fim prematuro dos jovens, continua “a monte”, pesando sobre ela a acusação de “homicídio involuntário e conduta indecente”.
Levados ao abismo por um mesmo toque de pífaro, lançaram-se dois amantes a um poço de calor onde se forjam fragrâncias. Abraçaram-se na queda e foi preciso um pé-de-cabra para lhes roubar o tesão dos ossos…
Os funerais são rituais que os vivos inventaram. O exercício da morte quer-se breve como uma conta simples, sem muitas equações. Um morto quer-se sonolento, respeitoso e hirto. Se preciso for, partem-se-lhe os maxilares, ainda que ele tenha passado a vida a gritar. Porque um morto é um morto e convém, para os que cá ficam, que ele pareça descansado.
…E ninguém disse que dava tudo para sentir o que eles sentiram, num banco de jardim!
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3 comentários:
Eu dava tudo para sentir o que eles sentiram naquele banco de jardim ainda que o começo fosse o fim...
Fenomenal pedaço de escrita.
tenho andado ausente, por circunstancias da vida. Hoje deu-me para voltar, para ver se encontrava um texto como este. E encontrei...
Um abraço!!
anónimo pralguns.
Muito bom... Muito bom mesmo!!!
Lenita!!!
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