16 de jun. de 2010

Monopólio, o jogo

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Cada vez acredito menos na bondade da raça humana. Talvez o meu pessimismo se deva a este ralhar pão de barriga cheia a que se convencionou chamar crise. Não sei muito bem o que é a crise, confesso! Mas creio tê-la percebido metaforicamente, imaginando-me a jogar Monopólio.

- “Um jogo fabuloso”, - disseram-nos – “que todos poderemos jogar de igual para igual, num mesmo tabuleiro, e todos poderão lançar os mesmos dados”.

Embalados pela emoção dos relatos, trocamos tudo em fichas e pusemo-nos a jogar, enquanto nos ensinavam as regras. Ao princípio, foi muito engraçado repassar a casa partida e sacar uns euros, bem como receber prémios de beleza na casa da sorte. Uma conta de água aqui, uma multa acolá. Nada de muito preocupante. Depois o espectro de ir para a cadeia mas, com um bocado de sorte, a gente até se livra. O pior é quando chegam as contas de Hotel em Lisboa, que a vida está má… mas a roda-viva mantém-se e o povo tem que se pôr a mexer e ir de férias, ainda que lhe falte o guito. Neste jogo, está fora de questão ficar a descansar em casa ou para a reforma no Campo Grande, sob pena de estancar a economia. Vêm depois as penhoras, os empréstimos em desespero, sem ética, a falência e a miséria…

Ficamos depois a ver os outros jogar, com tempo para ler as regras, e sem perceber muito bem onde começou a ruína do império. Sem recobro nem esperança, apontamos como bons portugueses para o fado e para a falta de sorte.

Perdido e sem nada a perder, permito-me a um exercício adiado - pensar livremente!

Começa-se a partida com o propósito bem vincado de evitar um duche no presídio. Depois, à medida que o jogo avança e o tabuleiro se avilta, passar uma temporada na cadeia para segurar as notas soa quase a refúgio. É, por essa altura, e com equidistância, que o jogo me parece tão real, acrescendo o facto de eu o estar dizendo e ser tomado por loser


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