28 de abr. de 2009

Livro de Estórias e Comezainas

Era impossível esquecer-me! Foi no sábado passado. Chovia a cântaros, não havia polícia e estávamos no Red Box… esperem lá… Não. Foi no Jamaica e eu estava a acabar um sumo mas… Foi na sexta-feira, assim é que é, estava no Woodrock a pedir uma mini ao balcão, o Marco estava cercado de polícia e um amigo a quem guardo copiosa estima propôs-me a seguinte ideia:

- “Vamos escrever um livro das nossas estórias de estudantes, com receitas de culinária pelo meio. Aquelas comezainas que ninguém adivinha que os estudantes fazem, porque a maioria só come batatas fritas e ovos estrelados?”

Aquiesci com agrado e pusemo-nos a recordar alarvices que a nossa memória preservou em vinagre e vinha-d’alhos para empregos maiores, um dia.

Como tal, e porque prevemos vender pelo menos uns 10 livros, dispõe-se aqui, e em primeira mão, uma receita com ligeiro travo a hortelã…


Receita de sangria
(3-4 estudantes)

Ingredientes:
- 10 maçãs
- 10 laranjas
- 15 limões
- 3 kg de morangos
- Espumante
- Vodka
- Triple Sec
- Hortelã

-Disponham-se num jigo de vindima trazido da terra, 10 maçãs, 10 laranjas, 15 limões e 3 kg de morangos. Tudo partido aos bocados. Junte-se com generosidade meia garrafa de Vodka e outra meia de Triple Sec. Perfume-se com um pequeno ramo de hortelã;

-Faça-se uma pausa para uma partida de Pro Evolution Soccer;
-Verifique-se se entretanto ninguém urinou no preparado. Em caso afirmativo, obrigue-se o prevaricador a beber tudo por um funil, retomando o processo quantas vezes for necessário;

-Abram-se 8 garrafas de espumante branco. Beba-se 1 para louvar o vencedor da partida e despejem-se as outras 7 no jigo, juntamente com 3 garrafas de gasosa;

-Deixa-se de um dia para o outro a refrescar num frigorífico suficientemente grande para lá caber um jigo de vindima;


Opcional:
No caso de não se dispor de um frigorífico suficientemente grande para lá caber um jigo de vindima:

1. Caga-se na Sangria e vai-se à D.ª Rosa comprar cerveja, onde se pode levar o vasilhame no dia seguinte, sem pagar antecipadamente a tara (a D.ª Rosa é sempre five stars e crente nos meninos que estudam para ser doutores).

2. Junta-se o espumante bem fresco ao preparado, juntamente com a gasosa congelada e, quando esta derreter, bebe-se como se não houvesse amanhã.

3. Pode juntar-se bastante gelo mas, como toda a gente sabe, a água combina mal com bebidas alcoólicas. É preferível congelar garrafas de água e dispô-las bem fechadas no jigo para refrescar a sangria. Esta opção permite que se tenha uma conversa digna com os deuses sem grandes alucinações.

4. Em preparados menores, pode sempre dispôr-se bagos de uva congelados, em vez de gelo. Deus Baco agradece.

Nota:
-Nunca congelar garrafas de vidro! Revelam-se bastante indigestas, especialmente depois de partirem.

- DEVE BEBER-SE VERY FUCKIN FRESH!

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24 de abr. de 2009

O pão que o diabo amassou

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Sem grande coisa para fazer neste momento, encontro-me naquele limbo meio parvo entre beber mais um copo e comer uma sandes ou bater uma e dormir. Bater píveas é para os fracos e, como tal, bebo mais um copo, acumulando esperma para a próxima reencarnação…
Hoje a moça da padaria tocou-me nas mãos por várias vezes. Agarrou-as para me dar uma sugestão gastronómica de sandes depois de eu lhe ter pedido uma baguete. Devia ter-lhe pedido o número de telefone. Devia mas não pedi. Não me detenho nas mãos que me fazem o pão mas penso no seu jeito para o manejo da farinha amolecida algures no pré-pão. Deve haver alguma pornografia nas argamassas manejadas com tesão. E depois o calor do forno… não é coisa para se tratar com indiferença.
Ela tocou-me nas mãos, não com o viço de quem amassa farinha, mas com o cuidado de quem lhe bota o sal. E eu pensei para os meus fechos éclair, - tal como os bolos da sua vitrine: - “esta garota quer que lhe amassem a sêmea!”
Tenho pensado na sua regueifa dominical e, um dia destes, vou perguntar-lhe se quer ajuda para fazer pão com chouriço. Ah pois com certeza que vou!

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Breve lição de Teologia

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Tenho formação católica, apostólica e romana. Isto é, andei a correr para a catequese e para a igreja durante quase todos os sábados e domingos enquanto fui catraio. Depois de dez anos de (in e desin)formação, depois de fazer a 1.ª e 2.ª Comunhões e o Crisma, comecei a questionar-me. Tão vigorosas foram as dúvidas como parcas as respostas. Não indaguei tanto a validade dos valores professados por Jesus Cristo ou mesmo a existência de Deus. Não. Nenhum filósofo professou tão bem, como Cristo, o amor ao próximo e o desprendimento das coisas materiais. E, nesse sentido, nunca poderia guardar-lhe rancor. Bom, o que realmente me chateia é mesmo a Igreja…

Como devem saber, a Bíblia foi escrita por pessoas e, ainda que se advogue intervenção divina, não foi tão divina a selecção dos textos e sua tradução. Independentemente das suas valências, e apesar de não figurarem na Bíblia os escritos apócrifos (possivelmente redigidos pelo próprio Jesus Cristo e considerados hereges pelo Vaticano), a verdade é que a Igreja parece não querer parar de praticar uma ideologia diferente daquela que advoga. Senão vejamos:

- Cristo dizia coisas tão insignificantes como “deixa tudo e segue-me”. Quando os apóstolos decidiram, à revelia d’ Ele, fazer um peditório e depois O presentearam com as moedas, Cristo retorquiu: - “distribuam-nas pelos pobres”. Os apóstolos, não convencidos, ainda tentaram argumentar que aquele dinheiro poderia ser útil e tal… mas sem sucesso. Jesus não queria nada com o vil metal. Mas porque o dinheiro faz rodar meio mundo (e não é de agora!) ainda lhe convocaram um pensamento político a propósito de impostos. Como Ele se estava a cagar para o dinheiro, interessando-lhe muito mais a questão espiritual, disparou a célebre frase: - “ a César o que é de César. A Deus o que é de Deus”. Pelo meio, expulsou os “vendilhões do templo” que se serviam daquela morada para exercer o comércio. E pregou por aí adiante o desprendimento material e o amor ao próximo. Coisa esquisita, portanto.

Ora, o que fazem os seguidores de Cristo, dois mil anos depois? Correm a encher os cofres do Vaticano, agigantando-o com o estatuto de Estado mais rico do mundo, onde não parece entrar a crise. Quem já foi a Fátima ou a Roma e foi capaz de se questionar sobre estas matérias, deve achar, como eu, que há qualquer coisa que não bate certo, que o fausto nada deve ter a ver com as questões espirituais, que aquela riqueza toda dava para acabar com a fome no mundo, que Cristo não desejou esta merda…

Como o texto vai longo, não me vou deter muito nas Cruzadas, na Inquisição ou no Index, nem no sangue que se derramou em nome de Deus. Convém lembrar que a Igreja católica foi responsável por mais mortes do que todas as pestes e doenças juntas. Convém, no entanto, lembrar que a Inquisição não surgiu durante a Idade Média, ao contrário do que muitos possam pensar. Durante esse período vigorou um paradigma (modelo de explicação do real) no qual Deus estava no centro de todas as coisas. Foi no Concílio de Trento, na alvorada do Renascimento, que surgiu a Inquisição. E porquê? Porque o Renascimento ousou colocar o Homem no centro de todas as coisas. Cantou o Homem e a sua beleza, esculpiu-lhe estátuas, desenhou-o em toda a sua força e plenitude. Ora, isto soou a heresia e, um pouco por toda a Europa, a Inquisição perseguiu e assassinou toda e qualquer tentativa de pensamento divergente. Naturalmente, esse movimento de perseguição, ganhou maior dimensão nas nações mais atrasadas, ignorantes e incultas. Ou seja, Portugal e Espanha…

Para outras noitadas, me deterei nestas matérias, até porque há muito a dizer sobre a conivência da Igreja para com os ditadores e acusar o seu infindável namoro com o Poder e as suas instituições. Cristo foi o primeiro comunista da História. E falar também sobre o Deus intervencionista e validade das preces e cenários possíveis do mundo sem religião. Mas para essa seca convocar-nos-ei para outras noitadas.

Resta-me abordar o tema pelo qual me obriguei a escrever esta… crónica.

Não sei se tenho fé ou, se tenho, devo chamar-lhe cepticismo. Mas há uma coisa em que realmente acredito: - NA FALTA DE DEUS, FOI A NATUREZA QUEM NOS CRIOU! Se Ele existe, como eu espero que exista, a Natureza foi a sua grande obra. E é, precisamente, essa grande obra que nós, católicos ou não, insistimos em destruir. Como é possível que alguém se considere católico ou cristão ou outra coisa qualquer e não se esforce por poupar a sua obra mais bela? Como é possível que a Igreja não se manifeste com afinco na luta pela preservação da espécie “criada à sua imagem e semelhança”? Como se pode conceber que a Igreja se preocupe mais com as suas caixas de esmolas do que com o aquecimento global, a extinção de espécies (animais ou vegetais)?

As perguntas são intermináveis. Não conheço nenhuma associação sem fins lucrativos (?) com tamanho poder para reunir e mobilizar os seus associados como a Igreja Católica. E não me cabe, pura e simplesmente, não me cabe no cérebro nem no coração, como é que esse agremiado de acéfalos não é capaz de assumir uma posição suficientemente vigorosa relativamente à preservação da obra de Deus. E é por isso que, se me resta alguma fé nos ossos, me demito de qualquer relacionamento com Deus através destes intermediários vendidos ao diabo.
Tenho dito...
...e não me tenho detido!

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22 de abr. de 2009

Explicação de um menino

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O mundo compõe-se de animais racionais e irracionais. Os animais racionais são os que fazem a guerra, destroem a natureza e têm vergonha de andar nus. Os outros são os irracionais…
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21 de abr. de 2009

Morte

Temos dificuldade em conviver com a Morte. Toca-se no assunto como no clítoris de uma freira a quem não se podem arrancar orgasmos. Pois sabei que me abeiro com o dedo em riste de quem se arrisca à heresia de a conversar. Falo com propriedade. A Morte levou grande parte dos meus antepassados e, se não for eu primeiro, encavalitará na sua barca aqueles que me são mais queridos.

Tenho um certo respeito pela Morte. – Não se deixa corromper! Propõe-se, na sua ditadura, a uma higiene democrática que não poupa ninguém.

Não a temo. Preocupa-me, isso sim, a falta de valores e ferramentas para ma administrarem com dignidade. Sou um homem de desistências. Desisti de tudo na alvorada de tudo acontecer para ir à casa de banho. Vim de lá a apertar o cinto, menos agoniado e mais lavado e a perguntar como tudo foi. Não atiro senão palitos para a engrenagem onde se mereciam chaves de fendas.
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Oh heresia! Bem sei a falta que nos fazem as pessoas quando morrem. Só elas nos poderiam enxugar as lágrimas naquele momento. Fazemos poemas para a vida e a Morte vai-nos roubando os versos. Questionamos tudo. Assim é impossível. Ninguém pode fazer nada? – dizemos com um discernimento que lembra uma reportagem sobre a fome em África, antes de entrar a publicidade do tempo, a esgadanhar para a frente.

Na maior parte das vezes, não é a Morte que nos leva, mas esse tapete do tempo a enrolar-se. Se estivesse para morrer ou, pior, alguém estivesse a morrer-se em mim, teria outra perspectiva. Talvez escrevesse um testamento que obrigasse os meus amigos a uma grande festa. Na segunda hipótese, talvez me obrigasse ao fiel depósito de vontades moribundas não cumpridas.

A Morte “é um mal que vem por bem” e deve servir como lembrete para o que nos falta cumprir.

Em jeito de Post Scriptum,
Não esqueçamos, porém, de aliviar a dor aos que mais de perto vêem os outros partir. Cabe-nos tanto enterrar os mortos como assistir à aparição dos que nos irão sepultar. Pelo meio, legitimarmo-nos como médicos sem juramento, e levar um fardo de melancolia pelos outros ao abismo do tempo.

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Époque Lips Now

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Farto de tanto se conspurcar a sua obra,
De religião e vendilhões
Deus avisou os homens:

“Amanhã mesmo sereis expulsos da minha morada. Deixai-a limpa
E preparai-vos!”

Mas os homens atrasaram-se
Nas demolições,
Não tanto no que sentiu Deus quando destruíam a sua obra,
Mas no prejuízo da empreitada.

E puseram-se a rezar uma novena de promessas
E fizeram-se ofertórios
E sacrifícios de animais,
E deu-se a Deus o que era dele, cozinhado
E meia dúzia de bons uísques que nunca se deram à boca de ninguém
E um cubano.

Deus viu com tristeza
Que as pessoas se agarravam às sacolas de metal
Quando a maré começou a subir.

Sobrou para a eternidade da sua memória
Aqueles que faziam um piquenique
No cume dos montes.

Dando as mãos
Aos beijos
E os últimos sopros ao amor.

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19 de abr. de 2009

Os cães do Sr. Poder

Deve ser ódio aquilo que sinto neste momento. Permiti-me a uma semana de trabalho com certo romantismo: - chegar ao fim-de-semana e gozar uma boa borga de bar entre amigos. Era só isto. Entrar no Woodrock e “curtir como um porco”. Era só isto que eu queria! Estar com os meus amigos, beber uns copos e conversar.

Receita gorada! Apareceu a polícia e as minhas esperanças boémias desvaneceram-se como um resto de espuma a vagar pelo ralo depois de um banho de felicidade quente.

Num sábado à noite? Tornar-me-ia missionário de uma crença qualquer se a mesma canzoada verde irrompesse Parlamento adentro a algemar corruptos. Deixemo-nos de sonhos!

Desliga-se a música (a Cultura) que faz pensar. Impõe-se a apresentação de licenças! Isto é um bar ou uma discoteca? A discoteca pode, o bar não, “ainda que tenha razão”, como dizia o Pessoa, detido na problemática dos mandadores do mundo.


Breve nota sobre Democracia:

Do grego Demo (povo) e Cracia (Lei). Ou seja, a lei do povo, entendida como o cumprimento da vontade maioritária. Roosevelt definiu Democracia como “o governo do povo, pelo povo e para o povo”. Entenda-se o povo como a maioria das pessoas que constituem uma sociedade, independentemente do estrato social, cultura… etc. etc….
Não vivemos em Democracia, como nos querem impingir. Se a maioria do povo disser que os professores não devem ser avaliados (apesar do rico exemplo dos países nórdicos e dos mais ricos), cague-se na avaliação. A vontade maioritária assim o exige e ordena. A validade dessas políticas são contas de outro rosário…
Democracia é vontade maioritária e mais nada.



Prefiro ser atropelado por um bêbado a ver-me subjugado e condenado por um crime que ainda não cometi. Vivemos numa sociedade que pune o crime antes de este ser cometido mas liberta o crime consumado. Estranha antítese. Vem da Grécia Antiga (A.C.), a expressão “a censura persegue as pombas e poupa os corvos”. Vejam lá há quantas milhas de séculos esta merda se prolonga…

Sou uma pessoa de Bem… não sei por quanto tempo! Apetece-me ser corrupto. Usar a minha inteligência para o contorno das correntes que nos amordaça aos muros. Eu tenho ideias. Tenho, sim senhor! E quem se vê fornicado como eu por uma vontade, tida por maioritária para virtude de todos, tem ideias também.

A polícia fechou a minha segunda casa, o lar onde recebo os meus amigos sem a jurisdição dos meus pais; a polícia que é o cão de guarda do poder instituído e instrumento de fazer pagar a crise que a corrupção montou.
Vi ontem, numa revista de elites o seguinte título: - “traficante na lista da Forbes como um dos mais ricos do mundo”, numa foto com o dito, armado e sorridente.
A lei não o condena.
A lei cheira mal da boca
Morra a lei
Pim.

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9 de abr. de 2009

1 de abr. de 2009

FOGO FÁTUO

Está tudo em chamas, da frondosa selva até ao gabinete do Primeiro Ministro.
Os repetidos fogos do mandato lavram incessantemente, tendo já devastado milhares de euros provenientes do Freeport directamente para a gaveta mais à direita da secretária de Sua Exa. O Primeiro de todos nós...
As várias corporações de bombeiros, destacadas para o local, são unânimes ao afirmarem que muito provavelmente esta catástrofe dantesca tem mão criminosa. Foi encontrado no Ground Zero, aquilo que se julga ser uma fogueira de vaidades, onde se começou por consumir, com o objectivo de atear melhor o fogo, um diploma mal amanhado onde ainda são visíveis as palavras "Engenheiro Civil". A acrescentar a isto e para engrossar as labaredas, julga-se que o criminoso terá juntado alguns projectos bizarros, dos quais ainda se notam alguns vestígios por consumir. São eles, esboços e traçados com dizeres como "OTA" e "TGV".
Esta fogueira está na origem de todo o fogo, que ainda lavra por todos os ministérios, vários, que constituem esta selva democrática e que muito dificilmente escapará ilesa a esta calamidade.
Foi já decretado o Estado de sítio, sendo no entanto, desconhecidas as medidas preventivas a tomar para proteger a populaça em geral.