24 de abr. de 2009

Breve lição de Teologia

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Tenho formação católica, apostólica e romana. Isto é, andei a correr para a catequese e para a igreja durante quase todos os sábados e domingos enquanto fui catraio. Depois de dez anos de (in e desin)formação, depois de fazer a 1.ª e 2.ª Comunhões e o Crisma, comecei a questionar-me. Tão vigorosas foram as dúvidas como parcas as respostas. Não indaguei tanto a validade dos valores professados por Jesus Cristo ou mesmo a existência de Deus. Não. Nenhum filósofo professou tão bem, como Cristo, o amor ao próximo e o desprendimento das coisas materiais. E, nesse sentido, nunca poderia guardar-lhe rancor. Bom, o que realmente me chateia é mesmo a Igreja…

Como devem saber, a Bíblia foi escrita por pessoas e, ainda que se advogue intervenção divina, não foi tão divina a selecção dos textos e sua tradução. Independentemente das suas valências, e apesar de não figurarem na Bíblia os escritos apócrifos (possivelmente redigidos pelo próprio Jesus Cristo e considerados hereges pelo Vaticano), a verdade é que a Igreja parece não querer parar de praticar uma ideologia diferente daquela que advoga. Senão vejamos:

- Cristo dizia coisas tão insignificantes como “deixa tudo e segue-me”. Quando os apóstolos decidiram, à revelia d’ Ele, fazer um peditório e depois O presentearam com as moedas, Cristo retorquiu: - “distribuam-nas pelos pobres”. Os apóstolos, não convencidos, ainda tentaram argumentar que aquele dinheiro poderia ser útil e tal… mas sem sucesso. Jesus não queria nada com o vil metal. Mas porque o dinheiro faz rodar meio mundo (e não é de agora!) ainda lhe convocaram um pensamento político a propósito de impostos. Como Ele se estava a cagar para o dinheiro, interessando-lhe muito mais a questão espiritual, disparou a célebre frase: - “ a César o que é de César. A Deus o que é de Deus”. Pelo meio, expulsou os “vendilhões do templo” que se serviam daquela morada para exercer o comércio. E pregou por aí adiante o desprendimento material e o amor ao próximo. Coisa esquisita, portanto.

Ora, o que fazem os seguidores de Cristo, dois mil anos depois? Correm a encher os cofres do Vaticano, agigantando-o com o estatuto de Estado mais rico do mundo, onde não parece entrar a crise. Quem já foi a Fátima ou a Roma e foi capaz de se questionar sobre estas matérias, deve achar, como eu, que há qualquer coisa que não bate certo, que o fausto nada deve ter a ver com as questões espirituais, que aquela riqueza toda dava para acabar com a fome no mundo, que Cristo não desejou esta merda…

Como o texto vai longo, não me vou deter muito nas Cruzadas, na Inquisição ou no Index, nem no sangue que se derramou em nome de Deus. Convém lembrar que a Igreja católica foi responsável por mais mortes do que todas as pestes e doenças juntas. Convém, no entanto, lembrar que a Inquisição não surgiu durante a Idade Média, ao contrário do que muitos possam pensar. Durante esse período vigorou um paradigma (modelo de explicação do real) no qual Deus estava no centro de todas as coisas. Foi no Concílio de Trento, na alvorada do Renascimento, que surgiu a Inquisição. E porquê? Porque o Renascimento ousou colocar o Homem no centro de todas as coisas. Cantou o Homem e a sua beleza, esculpiu-lhe estátuas, desenhou-o em toda a sua força e plenitude. Ora, isto soou a heresia e, um pouco por toda a Europa, a Inquisição perseguiu e assassinou toda e qualquer tentativa de pensamento divergente. Naturalmente, esse movimento de perseguição, ganhou maior dimensão nas nações mais atrasadas, ignorantes e incultas. Ou seja, Portugal e Espanha…

Para outras noitadas, me deterei nestas matérias, até porque há muito a dizer sobre a conivência da Igreja para com os ditadores e acusar o seu infindável namoro com o Poder e as suas instituições. Cristo foi o primeiro comunista da História. E falar também sobre o Deus intervencionista e validade das preces e cenários possíveis do mundo sem religião. Mas para essa seca convocar-nos-ei para outras noitadas.

Resta-me abordar o tema pelo qual me obriguei a escrever esta… crónica.

Não sei se tenho fé ou, se tenho, devo chamar-lhe cepticismo. Mas há uma coisa em que realmente acredito: - NA FALTA DE DEUS, FOI A NATUREZA QUEM NOS CRIOU! Se Ele existe, como eu espero que exista, a Natureza foi a sua grande obra. E é, precisamente, essa grande obra que nós, católicos ou não, insistimos em destruir. Como é possível que alguém se considere católico ou cristão ou outra coisa qualquer e não se esforce por poupar a sua obra mais bela? Como é possível que a Igreja não se manifeste com afinco na luta pela preservação da espécie “criada à sua imagem e semelhança”? Como se pode conceber que a Igreja se preocupe mais com as suas caixas de esmolas do que com o aquecimento global, a extinção de espécies (animais ou vegetais)?

As perguntas são intermináveis. Não conheço nenhuma associação sem fins lucrativos (?) com tamanho poder para reunir e mobilizar os seus associados como a Igreja Católica. E não me cabe, pura e simplesmente, não me cabe no cérebro nem no coração, como é que esse agremiado de acéfalos não é capaz de assumir uma posição suficientemente vigorosa relativamente à preservação da obra de Deus. E é por isso que, se me resta alguma fé nos ossos, me demito de qualquer relacionamento com Deus através destes intermediários vendidos ao diabo.
Tenho dito...
...e não me tenho detido!

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3 comentários:

Menino de Talho disse...

Pois eu sou incapaz de conceber qualquer representação intelectual ou espiritual por parte de quem, podendo manifestar o seu amor pela humanidade, não se cumpra na carne. Não falo da carne que trincho mas daqueloutra que consumo e me consome e que, por travessas divinas, me eleva aos pináculos do absoluto.

Anônimo disse...

Subscrevo as deformações q a história ñ deixa suplantar para o esquecimento do ideal e lamento que tanto se sofra e tenha sofrido em nome de algo institucionalizado que nos deixa cépticos e abismados a todos. Os Homens de Deus deixaram-se corromper, meu caro... Ah, e ele cumpre-se na carne, Menino do Talho. Ai, cumpre-se cumpre-se... na inocência! O que acontece? Saí "perdoado" e é lavado pela mão de Deus na Terra que desde logo o acolhe dentro das muralhas patrimoniais de um Estado dentro de um Estado, cujo estado é verdadeiramente desolador... Ñ digo nada de novo certamente, pois nada de novo promove tão clara evidência:
A Igreja é uma instituição que zela pelos seus interesses??? e dos seus afiliados (de batina)e não pelas necessidades urgentes em abraçar um mundo e abrir mão do cálice de ouro e do guarda-roupa Prada... pela fome, pela doença e pelo preconceito que mata e sempre matou às suas mãos...מאז תחילת

Amora disse...

Deixo com Marilyn Manson o freak show que é a Igreja... Queria apenas dizer que o único deus que existe é A Natureza e que o nosso comportamento para com ela não é o de filhos devotos e carinhosos mas o de terrorristas que dia após dia aniquilam os poros que envolvem a pele desta placenta onde fomos gerados-Terra, o nosso planeta , provimos de milhões de anos luz, poeira de estrelas ou cometas ou outros planetas.Somos suicidas mas sobretudo cegos e se queremos a nossa extinção bem como a de outros animais então vamos na direcção certa. Sou mulher, desejava ter um filho(a) mas interrrogo-me sobre o meu legado a esse ser...