Chegou o Outono, a minha estação preferida. Deixamos de suar como porcos, as cobras hibernam e os coretos demitem-se de acolher artistas pimba; as árvores que não arderam largam a mão das folhas, cobrindo o chão pejado de pevides e cascas de melão; o sol põe-se com um gosto de fruta madura e troca-se uma roupa por outra com mais ternura. Depois a carne tem outro gosto, convidando mais ao deleite e ao vinho chambriado. Sirvo Two Shots of Happy, One Shot of Sad de uma Nancy Sinatra em copos de cristal e os relógios entram em greve para me dar razão.
Por esta altura, as fadas deixam pistas da sua passagem pelos montes. Lenços de luz nas árvores e cabelos de oiro penteados sobre as pedras. As fadas são ninfas tímidas sujeitas à lei dos pássaros, instruídas para fugir dos homens. Mas há, em todas as criaturas de Deus, rebeldia e pendor para o desconhecido. À sombra do sono parecemos menos maus e as fadas arriscam o toque e beijam-nos a boca.
Acordamos depois revigorados, sem fada ou fado, com um gosto de flores na boca e o mesmo entendimento relativizado do mundo, confusos, mas sem noção de ter infectado a doença do amor num coração puro.
A fada morre depois, virgem, como uma borboleta mirrada de sede, e um ancião de tal adverte para os perigos num palanque de flores improvisado…
Chegou o Outono e a dor ouve-se como o vir da festa…
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23 de set. de 2009
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