6 de mar. de 2008

carne verde

Acabamos a gostar do mesmo.

Um abraço na manhã que vem fria

E espanta o sonho da noite feito ilusão.

De manhã a carne é de uma brancura

Que dura de tão verde

O desejo.


Acende-se a luz porque me deito

E berram-me buzinas a dormência.

Falta-me a vontade infantil de querer acordar

Para me cumprir.

Fugir errando

Um passeio de bicicleta por um ninho de luz que atordoa

Ser criança

Por montes e serranias

Errando em prol da liberdade. Um valor

Sem propriedade.


Mas nós não devemos querer assim tanto

O passado de ter sido só as pedras dos montes

Que passam despercebidas.

Quero andar pelos campos como um vento tresmalhado.

Prefiro, em vez dos homens, o abraço de um espantalho

Semear a minha solidão

Não como uma doença velada

Ou por dentro arrependido como uma procissão inventada.

Quero cumprir-me antes num campo de criação

Do que ser um rótulo de cristão ou outra coisa pobre na imensidão

Mas fica-me sempre na boca um gosto de blasfémia

Amarga. A fazer de boa.


Se existe um Deus que pune

Deve haver um outro que reúne.

Como uma mãe que tudo perdoa.

Sinto culpa e culpo a religião.

Até podia ser padre de uma outra profissão

Mas nunca traficante do coração.


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