Acabamos a gostar do mesmo.
Um abraço na manhã que vem fria
E espanta o sonho da noite feito ilusão.
De manhã a carne é de uma brancura
Que dura de tão verde
O desejo.
Acende-se a luz porque me deito
E berram-me buzinas a dormência.
Falta-me a vontade infantil de querer acordar
Para me cumprir.
Fugir errando
Um passeio de bicicleta por um ninho de luz que atordoa
Ser criança
Por montes e serranias
Errando em prol da liberdade. Um valor
Sem propriedade.
Mas nós não devemos querer assim tanto
O passado de ter sido só as pedras dos montes
Que passam despercebidas.
Quero andar pelos campos como um vento tresmalhado.
Prefiro, em vez dos homens, o abraço de um espantalho
Semear a minha solidão
Não como uma doença velada
Ou por dentro arrependido como uma procissão inventada.
Quero cumprir-me antes num campo de criação
Do que ser um rótulo de cristão ou outra coisa pobre na imensidão
Mas fica-me sempre na boca um gosto de blasfémia
Amarga. A fazer de boa.
Se existe um Deus que pune
Deve haver um outro que reúne.
Como uma mãe que tudo perdoa.
Sinto culpa e culpo a religião.
Até podia ser padre de uma outra profissão
Mas nunca traficante do coração.
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