Na qualidade de compincha e amigo de Tónio Cuco, pediram-me que dissesse algumas palavras em sua memória:
Tónio Cuco era um homem que prezava a fornicação. Dedicou-se com solicitude aos caprichos de uma carne em vinha-d’alhos que lhe não dava descanso. Mas, longe de ser um homem egoísta, Tónio Cuco amou-a, mimou-a e condenou a sua existência para que ela se cumprisse, namoradeira. Ofertou-se como uma chave de ouro sempre pronta a desaferrolhar grilhões alheios e, imbuído a dar uso aos dons com que foi molestado pela natureza, cumpriu-se.
Ele foi a verdadeira antítese da privação e, ainda que lhe possa ter pesado o fardo de arejar regaços várias vezes ao dia, Tónio Cuco não vacilou.
Confessou-me não ser um homem de palavras, mas de actos. Pensar demasiado – dizia – dá-me sede!
À sua maneira, foi nobre e não desperdiçou talentos. Nesta latrina a que chamamos sociedade, Tónio Cuco mijou como um cão nas valetas e amorteceu as suas virtudes no álcool, como um génio literário novecentista, cujo abraço era demasiado grande para abarcar uma realidade de enguias mais pequena do que ele. Tónio Cuco era, na verdadeira acepção da palavra, um fornicador e, como tal, capaz de estar ainda dando horas ao desejo na madeira do caixão.
Levante-se do lazúli caixotão
Ou de lá diga de sua justiça
Aquele cujo tesão
Não se comprometa com esta missa.
Tónio Cuco
A libertinagem canta-te.
Tónio Cuco… ALEVANTA-TE!
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23 de mai. de 2009
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3 comentários:
A Tónio Cuco:
Por breves momentos a minha vida foi paralela à sua. E nesses momentos encontrei sabedoria suficiente para ser transmitida. Nutria uma paixão pela vida e seus prazeres capaz de refrescar o entusiasmo fálico de um adolescente, capaz de revigorar o fluxo glandular de um octogenário.
E assim se foi...levado nas palavras azedas de um açougueiro infantil...
Pesa agora a sua ausência, confortada por uma doutrina que nos chega do além, de um ermo bem lambido.
Ao egrégio Tónio Cuco presto este encómio, agasalhado por um abraço saudoso.
Breves os momentos que partilhamos, longo o cumprimento que lhe deixo.
"A única conclusão é morrer..."
O Tónio Cuco sempre viveu a morrer e agora que morreu vive e dá vida a este inferno...
Ao (re)finado Tónio resta fazer com que as nossas existências sejam mais insuportáveis por o termos deixado esvaír-se por entre os nossos dedos logo após o termos tocado muito ao de leve com nossas mãos, como a um Cuco selvagem que conseguimos agarrar e logo após uma breve distracção nos escapa.
Tónio, a morte é só o principio!
Eu não morri, mas parece que mesmo celebrando no dia seguinte a esta publicação fiz o mesmo furor que um morto. E tu esqueceste-te de perguntar se eu estaria viva. :P
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