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Ele andava com três anos de tristeza à frente
E de cada vez que abria a boca,
Comungava ou chorava gente…
Foi no maior fogo que se pode imaginar
O retrato do seu tempo…
Vieram depois setas e avionetas
E o mato que havia para arder no ar
Ardeu ao sabor do vento…
Ele andava com três anos de tristeza à frente
Tocando num piano, à noite, as lágrimas que eram para a-
Manhã…
E antes que o mundo o pudesse salvar,
Porque ele andava com três anos de tristeza à frente,
Atirou-se para a frente de um carro
Que fazia marcha atrás num acidente.
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28 de jul. de 2010
Mrs. Roscoe
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Mrs. Roscoe
Shared a whole night with me
At the Morgue.
I served wine for two
And an erection
Between sheets and funny laughter…
Mrs. Roscoe
Mrs. Roscoe
We’re soul mates and lovers
With bandages.
Oh! Oh! Mrs. Roscoe…
She was trying to make songs
For those on the wrong side of the road
Gain a bit of wheel on the back teeth
And lot's of rubber on a false leather seat…
I thought that was funny and laughed.
She felt the same way too.
Honored me with a blowjob, so mean
And, meanwhile, called me Stu…
Mrs. Roscoe
Mrs. Roscoe
We’re soul mates and lovers
With bandages.
Oh! Oh! Mrs. Roscoe…
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Mrs. Roscoe
Shared a whole night with me
At the Morgue.
I served wine for two
And an erection
Between sheets and funny laughter…
Mrs. Roscoe
Mrs. Roscoe
We’re soul mates and lovers
With bandages.
Oh! Oh! Mrs. Roscoe…
She was trying to make songs
For those on the wrong side of the road
Gain a bit of wheel on the back teeth
And lot's of rubber on a false leather seat…
I thought that was funny and laughed.
She felt the same way too.
Honored me with a blowjob, so mean
And, meanwhile, called me Stu…
Mrs. Roscoe
Mrs. Roscoe
We’re soul mates and lovers
With bandages.
Oh! Oh! Mrs. Roscoe…
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26 de jul. de 2010
Cadernos da escola
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Ah, os meus cadernos da escola!
Tão cheios de conhecimento
Como da minha falta
De vontade para o reter.
Vou lá de vez em quando
Ver onde deixei o que pensava
Quando voava das aulas para longe…
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Ah, os meus cadernos da escola!
Tão cheios de conhecimento
Como da minha falta
De vontade para o reter.
Vou lá de vez em quando
Ver onde deixei o que pensava
Quando voava das aulas para longe…
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Dia de praia
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Levantas a cabeça da toalha, impondo ao pescoço uma ligeira dor panorâmica, e olhas para mim sem consciência de eu estar existindo na tua órbita. Pareces estar num transe hipnótico, como que dormindo ainda na cantiga distante de crianças felizes, compassada pela areia mastigada das pessoas em movimento. Tudo está bem e te parece possivelmente possível. Nada que ameace, portanto, a clarabóia do firmamento onde te banhas. Garantia de nova incursão pelos domínios do indominável.
Deitas-te no meu pensamento.
O mar dilui-te e o sol canta para ti uma canção dourada.
Deitas-te no meu pensamento.
O mar dilui-te e o sol canta para ti uma canção dourada.
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22 de jul. de 2010
A Chave
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Tens quase quarenta, um par de boxers e uma t-shirt vestida. Passaste a noite a pé, emboscado no sofá a fumar e a beber. Estás só. Estás miseravelmente só, com uma janela aberta que te deu ar a noite toda e te cobra agora com o sol da manhã. Num momento de lucidez, olhas em volta à procura de algo que se perdeu no caminho e quase te apetece destruir todos os objectos, por estarem tão estáticos. A começar pelo relógio de parede…
Não tarda, chegará com duas voltas na fechadura, a mulher da limpeza. Uma senhora de trato e gostos simples, reservada a um nome, mas que te guarda a chave de casa para vir aos sábados aspirar e despejar os cinzeiros… enquanto dormes.
Nunca falhas os pagamentos e deixas sempre uma pequena atenção, mas sabes que mais tarde ou mais cedo ela te vai deixar um recado e a chave em cima da televisão. Depois irá, provavelmente para nunca mais se cruzar contigo, com os pés mais leves à sua própria vida.
Ficarás outra vez só, na companhia dessa chave que sempre negaste às tuas ex-namoradas. Pensas nisso com o olhar fixo e sorris pelo nariz um espirro de canário.
Não tarda, chegará com duas voltas na fechadura, a mulher da limpeza. Uma senhora de trato e gostos simples, reservada a um nome, mas que te guarda a chave de casa para vir aos sábados aspirar e despejar os cinzeiros… enquanto dormes.
Nunca falhas os pagamentos e deixas sempre uma pequena atenção, mas sabes que mais tarde ou mais cedo ela te vai deixar um recado e a chave em cima da televisão. Depois irá, provavelmente para nunca mais se cruzar contigo, com os pés mais leves à sua própria vida.
Ficarás outra vez só, na companhia dessa chave que sempre negaste às tuas ex-namoradas. Pensas nisso com o olhar fixo e sorris pelo nariz um espirro de canário.
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20 de jul. de 2010
O Escolhido para arrumos
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Venho do café sem grande esperança com as mãos nos bolsos, subindo para ou descendo ocasionalmente o passeio. Tudo normal, portanto, a caminho de casa.
Tenho hábitos que poderia chamar de rituais se não fossem tão vulgares. Um copo, o cinzeiro à distância do braço e um isqueiro em cima do maço. Tudo muito simétrico para não interferir com os movimentos do rato. Tudo muito direitinho como uma máquina de botões que importa mexer de quando em vez. E escrevo. Escrevo-me sem grande dom ou memória, parco de vocabulário e sem coragem (talvez) para a disciplina que se impõe aos centracionistas do mundo que o iluminam a partir dos vãos. Sou um poeta menor, um remediado, o palhaço equilibrista que deixou cair todos os pinos porque lhe batia o coração, um montador de trapézios escolhido para arrumos…
Mas dependo disto por extensão como um amputado depende de próteses para se equilibrar ou um humorista de piadas, ainda que sem razões para se fazer sorrir…
Não escrevo em código, não sinto velado, não espero que me entendam mais por ser quem sou. Escrevo para mim, à boleia do primeiro aluimento de terras que me leve às chuvas torrenciais, onde me cuido e lavo e corto as unhas.
Reinvento depois o mundo real das manhãs, com carros sob os viadutos que são pessoas com horários para cumprir, e vou deitar-me, irresponsavelmente, realizado como um puto que arriscou a vida, sem notar, num tanque ou aquaparque…
Tenho hábitos que poderia chamar de rituais se não fossem tão vulgares. Um copo, o cinzeiro à distância do braço e um isqueiro em cima do maço. Tudo muito simétrico para não interferir com os movimentos do rato. Tudo muito direitinho como uma máquina de botões que importa mexer de quando em vez. E escrevo. Escrevo-me sem grande dom ou memória, parco de vocabulário e sem coragem (talvez) para a disciplina que se impõe aos centracionistas do mundo que o iluminam a partir dos vãos. Sou um poeta menor, um remediado, o palhaço equilibrista que deixou cair todos os pinos porque lhe batia o coração, um montador de trapézios escolhido para arrumos…
Mas dependo disto por extensão como um amputado depende de próteses para se equilibrar ou um humorista de piadas, ainda que sem razões para se fazer sorrir…
Não escrevo em código, não sinto velado, não espero que me entendam mais por ser quem sou. Escrevo para mim, à boleia do primeiro aluimento de terras que me leve às chuvas torrenciais, onde me cuido e lavo e corto as unhas.
Reinvento depois o mundo real das manhãs, com carros sob os viadutos que são pessoas com horários para cumprir, e vou deitar-me, irresponsavelmente, realizado como um puto que arriscou a vida, sem notar, num tanque ou aquaparque…
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16 de jul. de 2010
Deus Sex Machina
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Continua...
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Sinopse:
Deus chamou a si toda a humanidade para uma grande festa, gastando em espectacularidade o bastante para unir todos os povos e credos, satânicos redimidos, eremitas e ateus. Da noite para o dia, extinguiu-se a fome e todos puderam viajar de avião com os seus amuletos e merendas para ouvir Deus num palanque.
Esta é, basicamente, a história do único homem que faltou a esse encontro…
Deus chamou a si toda a humanidade para uma grande festa, gastando em espectacularidade o bastante para unir todos os povos e credos, satânicos redimidos, eremitas e ateus. Da noite para o dia, extinguiu-se a fome e todos puderam viajar de avião com os seus amuletos e merendas para ouvir Deus num palanque.
Esta é, basicamente, a história do único homem que faltou a esse encontro…
Continua...
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A outra
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Queixas-te de mim porque me vou. Porque te deixo. Para escrever! À luz das coisas mundanas, é-te quase impossível achar na minha fuga alguma razoabilidade, e por isso duvidas deste amar incorpóreo que me faz escrever cartas de amor para ninguém. Não sabes ao certo o que sentes porque te falta “a outra”, tampouco valeriam, para te dar nome ao ciúme, as fotografias tiradas por um detective contratado.
Consome-te uma rejeição que adia beijos. O teu guarda-jóias [sem conotação sexual] trocado por uma câmara de horrores que me debulha por inteiro e me expõe o corpo ao sol, empalado.
Torno depois para os teus braços, lavado em sangue e suor, não como um Cristo deixado crucificar-se por um propósito maior, mas descido da cruz, como um enfermo das sensações, com direito a sepulcro. E tu acolhes-me…
Para nós, bastar-te-ia que eu escrevesse, em vez de uma ode monumental, os nossos nomes à navalha numa árvore. E corresse atrás de ti e te agarrasse num riso profundo e pusesse uma flor no teu cabelo, como fazem os amantes despretensiosos antes de se deitarem a uma sombra.
Não julgues que eu não sei! Amanhã direi que o aqui e o agora realmente importam e tu vais olhar-me de soslaio. Pensarás sem dizer que me tenho adiado a vida toda, que te tenho tratado como um objecto, que “a outra” não é mulher para mim…
E eu sei disso,
Como um viajante à espera do comboio…
Consome-te uma rejeição que adia beijos. O teu guarda-jóias [sem conotação sexual] trocado por uma câmara de horrores que me debulha por inteiro e me expõe o corpo ao sol, empalado.
Torno depois para os teus braços, lavado em sangue e suor, não como um Cristo deixado crucificar-se por um propósito maior, mas descido da cruz, como um enfermo das sensações, com direito a sepulcro. E tu acolhes-me…
Para nós, bastar-te-ia que eu escrevesse, em vez de uma ode monumental, os nossos nomes à navalha numa árvore. E corresse atrás de ti e te agarrasse num riso profundo e pusesse uma flor no teu cabelo, como fazem os amantes despretensiosos antes de se deitarem a uma sombra.
Não julgues que eu não sei! Amanhã direi que o aqui e o agora realmente importam e tu vais olhar-me de soslaio. Pensarás sem dizer que me tenho adiado a vida toda, que te tenho tratado como um objecto, que “a outra” não é mulher para mim…
E eu sei disso,
Como um viajante à espera do comboio…
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Decadência
.
Recaí quase todos os dias este ano,
Acordando sempre para o lado da dor
E tarde para os castings…
Dois dedos de vodka
Pela manhã
E o resto do dia
A ver televisão
Com os pés descalços.
É tarde para começar de novo
É quase noite para começar tudo outra vez
E falta um verso,
Falta sempre um verso…
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Recaí quase todos os dias este ano,
Acordando sempre para o lado da dor
E tarde para os castings…
Dois dedos de vodka
Pela manhã
E o resto do dia
A ver televisão
Com os pés descalços.
É tarde para começar de novo
É quase noite para começar tudo outra vez
E falta um verso,
Falta sempre um verso…
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9 de jul. de 2010
S/ título
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Que merda não ser suficientemente sincero! Discorrer, sem norma ou lei, como um cão que partiu os cadeados todos e só voltou porque tinha fome. Devia ser isso o poeta que não sou! Deveria evitar o dogma, fugir das verdades universais, rejeitar qualquer movimento de braços que me levasse a uma frase mais bem conseguida… cuspir-me, sem espelho nem misericórdia, sempre que uma ideologia, que não fosse ser agricultor, me toldasse a vontade de mudar o mundo para melhor.
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Que merda não ser suficientemente sincero! Discorrer, sem norma ou lei, como um cão que partiu os cadeados todos e só voltou porque tinha fome. Devia ser isso o poeta que não sou! Deveria evitar o dogma, fugir das verdades universais, rejeitar qualquer movimento de braços que me levasse a uma frase mais bem conseguida… cuspir-me, sem espelho nem misericórdia, sempre que uma ideologia, que não fosse ser agricultor, me toldasse a vontade de mudar o mundo para melhor.
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6 de jul. de 2010
1 de jul. de 2010
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