16 de jul. de 2010

A outra

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Queixas-te de mim porque me vou. Porque te deixo. Para escrever! À luz das coisas mundanas, é-te quase impossível achar na minha fuga alguma razoabilidade, e por isso duvidas deste amar incorpóreo que me faz escrever cartas de amor para ninguém. Não sabes ao certo o que sentes porque te falta “a outra”, tampouco valeriam, para te dar nome ao ciúme, as fotografias tiradas por um detective contratado.

Consome-te uma rejeição que adia beijos. O teu guarda-jóias [sem conotação sexual] trocado por uma câmara de horrores que me debulha por inteiro e me expõe o corpo ao sol, empalado.

Torno depois para os teus braços, lavado em sangue e suor, não como um Cristo deixado crucificar-se por um propósito maior, mas descido da cruz, como um enfermo das sensações, com direito a sepulcro. E tu acolhes-me…

Para nós, bastar-te-ia que eu escrevesse, em vez de uma ode monumental, os nossos nomes à navalha numa árvore. E corresse atrás de ti e te agarrasse num riso profundo e pusesse uma flor no teu cabelo, como fazem os amantes despretensiosos antes de se deitarem a uma sombra.

Não julgues que eu não sei! Amanhã direi que o aqui e o agora realmente importam e tu vais olhar-me de soslaio. Pensarás sem dizer que me tenho adiado a vida toda, que te tenho tratado como um objecto, que “a outra” não é mulher para mim…

E eu sei disso,
Como um viajante à espera do comboio…
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Um comentário:

Amora disse...

Uma paixão nunca deve ser vista como "a outra". Conciliar o tempo e acertar os momentos deixar-te-à espaço e momentos para a paixão e para o teu amor :)