22 de jul. de 2010

A Chave

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Tens quase quarenta, um par de boxers e uma t-shirt vestida. Passaste a noite a pé, emboscado no sofá a fumar e a beber. Estás só. Estás miseravelmente só, com uma janela aberta que te deu ar a noite toda e te cobra agora com o sol da manhã. Num momento de lucidez, olhas em volta à procura de algo que se perdeu no caminho e quase te apetece destruir todos os objectos, por estarem tão estáticos. A começar pelo relógio de parede…

Não tarda, chegará com duas voltas na fechadura, a mulher da limpeza. Uma senhora de trato e gostos simples, reservada a um nome, mas que te guarda a chave de casa para vir aos sábados aspirar e despejar os cinzeiros… enquanto dormes.
Nunca falhas os pagamentos e deixas sempre uma pequena atenção, mas sabes que mais tarde ou mais cedo ela te vai deixar um recado e a chave em cima da televisão. Depois irá, provavelmente para nunca mais se cruzar contigo, com os pés mais leves à sua própria vida.

Ficarás outra vez só, na companhia dessa chave que sempre negaste às tuas ex-namoradas. Pensas nisso com o olhar fixo e sorris pelo nariz um espirro de canário.
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