30 de jun. de 2009


"DIZES QUE NÃO VALHO UM TOSTÃO, MAS SINTO-ME COMO UM MILIONÁRIO!!" - diz o vendedor de lotaria para a mulher, que o despreza.

Imperfecionista II

Não é fácil concordarmos. Se nos arriscássemos a uma definição pela rama, julgar-me-ias utópico e idealista, mimado, um talento desaproveitado (talvez). Sobre ti, arriscaria o epíteto de conservadora liberal. Que tens um emprego bem remunerado mensalmente, estável, e uma posição social com alguns privilégios…

Disposto assim o cenário, é possível que a balança da razão pese mais para o prato. Na verdade, se um de nós fosse o palhaço, seria eu. Tu serias o público em manada a sair do circo com um quarto de sorriso brie na boca e passos firmes em direcção ao estacionamento.
No espelho do bastidor, poupando na realidade por uma garrafa de cognac meia vazia, veria o meu rosto de sonho alegre desmaquilhar-se, com resquícios de algodão a prender-se na barba escanhoada sem esmero nem garantias de um amanhã com devir.

A caminho de casa tu irias trocando de emissora, talvez fumasses um cigarro para te ajudar a pensar nos deveres do dia seguinte e na melhor forma de vazar pilhas de papel sem provimento.
Reedificado homem, e depois de recolhidos às roulottes todos os artistas, eu voltaria ao silêncio da lona tricolor como um general em fato de treino, recolhendo no suor das tuas palmas uma glória invisível, vassourando a solidão…
Num gesto de perplexa humildade, inventando a tua presença, poria de lado a vassoura, e faria uma última vénia…

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29 de jun. de 2009

Manifesto de Mário Rôstes

Vote em Mário Rôstes,
Insista em Mário Rôstes.
Mário Rôstes a Presidente!

Autor do livro “Animais faz-me rir!”, vendeu a fábrica de semi-condutores e distribuiu o dinheiro pela criadagem. Está de volta para fazer a diferença e ingressou na política para mudar o mundo.

Mário Rôstes só não é saudável
De resto, é Impecável!

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Os cães

Os cães são reencarnações
Educadas para a subserviência da amizade.

Os cães aproximam-se da sua espécie
Em quatro patas.

Os cães não são atropelados.
Suicidam-se nas estradas.


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Cervejário

Por isso eu tomo chope.
Que remédio! Sou um cliente do Woodrock
Moro numa carrinha da Super Bock
E ver passar a bebida
Faz-me sede
A sério!

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18 de jun. de 2009

Chute no marasmo

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Batei a todas as portas
Roubai-me às horas mortas,
O virtual é um mundinho pequeno
E lá fora o teatro é terreno.

Vou travar os vossos intentos
E estancar como o ir dos jumentos.
Mas vendei o que eu tiver para dizer,
O breu de fora vale mais que o meu querer.

Ainda que eu jure com força
Ou quiser salvar alguém da forca,
Os macacos no sótão podem esperar
Por mais um dia sem comida eu lhes levar.

Eu vou trincar o vidro das garrafas
Querendo abrir um postigo às girafas…
Vou exigir compor um mal preciso
E inventar um vão maior que o prejuízo.

“As nuvens parecem-me estranhas
E assobiam as minhas entranhas…
Não tarda nada e vai começar a chover,
Ide embora! Caiu-me mal o comer…”

Mas por mais que eu vos convença
De uma chamada a vir de Olivença…
Às malvas o fazer do meu pensar
Quem está, está! E quem não está, foi passear!


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16 de jun. de 2009

Diploma

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Terminei o curso mas nunca fui buscar o diploma.
Por alturas da cerimónia, estava a braços com um coma.
Não foram os shots na queima das fitas,
Mas os socos dos pais das rapariguitas…

Percebi da pior maneira
O quanto custa a um pai pagar um curso à filha rameira.
Trabalha-se muito para se ter aqueles calos nas mãos
E ganha-se força impondo à vontade muitos nãos.

As horas passam e a gente a pensar que os pais dormem.
Mas a indisciplina impõe tabefes com gritinhos.
Acordam os pais
E acordam a miar os gatinhos…

Dá sede acordar para o relincho dos pais inconformados.
Com a sela longe e os óculos mal pousados,
Pego no uísque que ficou à cabeceira
E vejo, por um fundo de garrafa, a vir para mim
O pai da rameira.

Exijo silêncio e grito shhhhhhiiu!
Amortalho-me com uma beira de edredão
E o uísque por biberão.
Dou duas chupadelas no que resta
E acordo no hospital de S. João
Com enfermeiras a dizer: - “este não presta!”

Eis a estória da minha formatura!
A das enfermeiras virá noutra altura…

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Música de se cantar a correr num passadão com sotaque brasileiro ou...

...Aventuras e desventuras de um Menino de Talho por terras de Vera Cruz.

(cante-se rapidamente e com sotaque, carregando na última sílaba antes dos hífens, quedando logo a seguir)


Eu dei uma saltada em copa-cabana
Pra bebê um chôpe com a irmã de uma tal de-Joana
Casada com um negão que era um sa-lafrário
Meteu na praia a mão no shorte que eu paguei com o meu pobre-salário.

Refrão

Eu pulei da areia puxando acima-o shorte
Joana riu com o susto que eu apanhei-de morte
Eu só queria fugir dali correndo pelo passadão-à toa
Mas a irmã, cunhada do negão era-tão boa…

Refrão

Fiquei um pouco mais para ver no-que dava
Mas o negão piscava o olho com a mão-fisgada.
Joana dava na irmã alheada passando creme-cotovelada
E eu a ver que aquela merda, merda nenhuma-mais dava…

Refrão

Pela calada, amandei uma joelhada à penca do-negão,
Pisei no silicone de Joana e agarrei a irmã pelo-bundão.
Meti fundo e à pressa o dedo grande em su-a racha
E saí correndo, correndo atrás de mim a-caixa baixa…

Refrão

Pela noite arrisquei ir no baile funk da-favela
Não estava lá o negão, Joana nem a ir-mã dela
Passei a noite assoprando cai-pirinha
E o puteiro todo assobiando prá minhá-cobrinha.

Refrão

Cumprido como Vasco da Gama voltei a Por-tugau
Esfregando creme para não apanhar doençá-no pau.
Fui postar foto do meu Brasiu-Good Vibe
E encontrei negão com penso me adicionando no-Hi-five…


PS: precisa-se Refrão…

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12 de jun. de 2009

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A miúda loira sorriu para mim, exibindo-me os seus dentes podres dos excessos doces da vida. Viagens acrobáticas ao longo de uma corda a arder, estendida, esticada, abandonada no vertiginoso e escarpado precipício de suas diversas vidas esbanjadas.... ela sorriu-me estranhamente, com os lábios visivelmente tortos, sinal da sua incompleta alegria, como se uma parte de si mostrasse alguma tristeza e quisesse assinalar o facto, moldando a parte anti-sorridente de seus lábios em direcção á terra, ao chão ao esterco... De seu colo, pequeno, seco e mirrado emanava uma aura, um estigma, uma luz ofuscante em forma de estrela, semelhante á imagem de um santo pintado ao estilo kitsh por um Rafael, também, naif dos tempos modernos. A vanguarda renascentista, acompanhada por um folclóre com tendências retro. Das pernas maioritariamente destapadas, deliniadas e finas, visivelmente cansadas das acrobacias circenses praticadas em delirio estridente, escorria um liquido viscoso e altamente contagioso e nocivo a toda a morte que em si existia... era o liquido da vida, o fluido dum corpo masculino em delirio, em frenesi, em extase... Vi, nas suas mãos pequenas e sujas de sangue e terra, chagas do tamanho de diamantes, rubis ou ametistas... era a virgem da cruz, desflorada por um espirito santo encarnado no animal, na besta no pequeno homem que escapou para o museu de arte, onde se infiltrou num quadro surrealista da exposição...


3 de jun. de 2009

Todos somos esculturas!

Passo a vida nisto de escrever. A minha vida não é muito interessante. Durmo de manhã, trabalho à tarde e estrago-me em comunhão ao fim-de-semana. Pelo meio, faço umas refeições e despejo-me neste paletó rectangular, como se fosse um altar para onde se rezam novenas.

Não sei se deva considerá-los rituais, mas tenho hábitos geometricamente definidos. Não serão tão românticos como os de um Pessoa ou de um Eça que, entretanto valoraram graças à dimensão da sua escrita, não reconhecida a tempo de se lhes proporcionar uma existência mais ligeira e cómoda. O copo e o cinzeiro dispostos ao lado do portátil, a caixa de cigarrilhas com o isqueiro em cima, uma cadeira de palha feita pelos ciganos com upgrades de almofadas e o frigorífico atrás das costas, não vá esta merda debandar em terramoto e eu ficar sob os escombros longe das garrafas que não partiram.

E os génios, os grandes inventores da literatura universal? Que hábitos terão quando se abeiram do computador para escrever e não lhes ocorre nada? Será que bebem como eu ou fumam como eu fumo? Será que se levantam da cadeira em tronco nu para ir mijar? Gritarão silenciosamente a sua verdade ao mundo de modo a não acordar a mulher e os filhos que dormem?

Atentai: - Todos somos esculturas!

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2 de jun. de 2009

Conspiração com Bisnetos

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Tenho, não raras vezes, acabado as noites de boémia a discutir matérias do foro da Ciência Política. Convém que assim o nomeie para que não se confunda o retrato com aqueloutro da politiquice. E tenho, quase sempre, dito o seguinte:
-“Estou a ficar cada vez mais anárquico!” mas, como o tempo e o palco nem sempre são os mais adequados à dissecação de temáticas tão profundas, e visto andar prometendo uma dissertação adequada sobre elas, decidi-me a não mais adiar este post.

Antes de mais, convém referir que não estou enrabichado com nenhum partido político. E a explicação é simples: - os partidos políticos tomam partidos! Como tal, enquanto os estivermos acreditando, vamos andar neste limbo de interesses que, ora pingam para a direita, ora pingam para a esquerda, dependendo de quem se ocupa da coutada dos poderes públicos.

A vida não está fácil para quem se recusa às cunhas, garanto-vos. Sou um sonhador, portanto. Cheio de sonhos como um qualquer adolescente, cujas lambadas da vida o vão tornando mais adulto e mais filho-da-puta.
Deste meu cantinho humilde e honesto estou, tão só e apenas, ideologicamente comprometido com a Verdade e com a Liberdade. Ora, o modelo anarquista defende afincadamente esses valores. Valores esses que rareiam, não só na sociedade portuguesa, mas também na generalidade das sociedades ocidentais. Dir-me-ão que não. Que há liberdade a mais e que os valores estão a perder-se, dando lugar a uma tremenda falta de respeito. Posso até concordar com a segunda parte da afirmação, mas a falta de respeito não resulta do excesso de liberdade mas sim da falta de educação. A Liberdade é um conceito demasiado vasto para se esgotar na conivência de um pai perante a parvoíce do filho que decidiu atirar garrafas de cerveja aos carros ou partir uma montra.
A convivência em sociedade sempre teve de lidar com ameaças à ordem estabelecida e obrigou-se a encontrar soluções para se refundar estruturalmente, de forma a tornar a convivência social mais serena, mas nem sempre mais justa e livre.

Nós somos apenas seres vivos. Somos, geneticamente, animais como todos os outros. Mas dispomos de características avançadas que nos permitem estar no topo da cadeia. Somos capazes de optar por não reagir animalmente, de não sermos violentos, de nos impormos um conjunto de regras capazes de tornar possível a nossa convivência. Somos capazes disso mas não o fazemos ou fazemo-lo erradamente. E, como tal, não só desmerecemos a nossa racionalidade, como deveríamos considerar-nos o mais reles e medíocre de todos os animais.

Rousseau defendia que a existência perfeita assentava numa relação de proximidade com a natureza. Ou seja, o ser humano, para ser perfeito, deveria viver em comunhão com a natureza. No entanto, e consciente das características inerentes à espécie, concluiu que o Homem se distanciou dela e se avizinhou dos seus pares com o intuito de se proteger. Porque tinha medo de morrer sozinho, de fome ou doença ou de outra coisa qualquer. O Homem uniu-se com medo da realidade envolvente e, ainda que não tenha formalizado teoricamente os seus motivos, a verdade é que o grémio não parou de crescer e, cedo se pôde comprovar, que o maior inimigo do Homem era o próprio Homem, com a sua sanha de poder, ambição e glória.

Não me interessa aqui fazer uma resenha histórica sobre a evolução das sociedades, tampouco desenovelar uma História carniceira que elevou mitos com bandeiras fundados sobre ossos e sangue de outra carne que não importa para a posteridade porque era fraca e, como ainda hoje repetimos acéfalamente, “dos fracos não reza a História”. Interessa-me, isso sim, tal como Rousseau, esmiuçar um conceito que ele avançou – O Contrato Social.
O Contrato Social é, basicamente, um conjunto de normas, direitos e deveres pelos quais se rege toda uma comunidade. Ou seja, um conjunto de leis, o mais unanimemente possíveis e passíveis de serem partilhadas por todos ou, se quiserem, uma ideologia comum. A isso chama-se Democracia. A palavra deriva do etímologo grego Demos (Povo) e do sufixo Cracia (Kpateía) que significa força ou poder. Nas palavras de Abraham Lincoln, “A Democracia é governo do povo, pelo povo e para o povo”. Eu entendo nelas uma intenção de dar voz à pretensão maioritária, ou seja, é a vontade da maioria que prevalece sobre todas as outras querenças.
Se a Democracia é o mais perfeito e acabado dos modelos, não sei. Por enquanto, parece-me o mais justo. Se vivemos em Democracia? Garanto-vos que não!
E sinto-me em condições de vos garantir que não, por duas razões:
- Em primeiro lugar, porque o Contrato Social deveria resumir-se a um resumido conjunto de normas que todos conhecêssemos e partilhássemos, de forma a erradicar qualquer tipo de violência entre a nossa espécie. Ao invés, o nosso Contrato Social é um magote de leis e merdinhas que permite aos ricos e poderosos um regime de impunidade, que em nada se assemelha ao propósito das maiorias.
- Em segundo lugar, e por razões que ainda não destrincei totalmente, mas sobre os quais me deterei em outras ocasiões, não me parece que os caminhos da Democracia e, principalmente, os da felicidade que todos desejamos, se persigam pelo abismo dos calmantes à noite ou em colheradas de antidepressivos para suportar os dias…

…Este post, definitivamente, não acaba aqui!


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