Passo a vida nisto de escrever. A minha vida não é muito interessante. Durmo de manhã, trabalho à tarde e estrago-me em comunhão ao fim-de-semana. Pelo meio, faço umas refeições e despejo-me neste paletó rectangular, como se fosse um altar para onde se rezam novenas.
Não sei se deva considerá-los rituais, mas tenho hábitos geometricamente definidos. Não serão tão românticos como os de um Pessoa ou de um Eça que, entretanto valoraram graças à dimensão da sua escrita, não reconhecida a tempo de se lhes proporcionar uma existência mais ligeira e cómoda. O copo e o cinzeiro dispostos ao lado do portátil, a caixa de cigarrilhas com o isqueiro em cima, uma cadeira de palha feita pelos ciganos com upgrades de almofadas e o frigorífico atrás das costas, não vá esta merda debandar em terramoto e eu ficar sob os escombros longe das garrafas que não partiram.
E os génios, os grandes inventores da literatura universal? Que hábitos terão quando se abeiram do computador para escrever e não lhes ocorre nada? Será que bebem como eu ou fumam como eu fumo? Será que se levantam da cadeira em tronco nu para ir mijar? Gritarão silenciosamente a sua verdade ao mundo de modo a não acordar a mulher e os filhos que dormem?
Atentai: - Todos somos esculturas!
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3 de jun. de 2009
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4 comentários:
Então e eu!? Passo a vida na construção... a estragar o cabedal e a melhorar cada vez mais os bolsos sem fundo do meu patrão. Ando cansado, moído e apático, por vezes só o álcool me segura no alto da obra desta vida que vou edificando. Qualquer dia venho a baixo, torno-me em escombros.
Serei eu, também, um artista? Duvido que seja conotado como tal, mas uma estátua já poderia ser! Com a quantidade de cimento que trago sempre agarrado a mim...
Pese o humor que tanto aprecio, encimado de uma honestidade que estimo como se de um bolo se tratasse e tivesse ossos e cereja no topo…
Amigo, tu não és só uma escultura. És daqueles por quem morreria. E, se me faltasses, eu não seria o Sr. Mal, mas um benevolente tetraplégico…
Não o vejo como uma escultura mas antes como um escultor das palavras capaz de erguer odes ao horror e ao belo, ao que é puro e ao que é transfigurado.
Escultor de palavras ocas e desprovidas de qualquer verdade...
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