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Tenho, não raras vezes, acabado as noites de boémia a discutir matérias do foro da Ciência Política. Convém que assim o nomeie para que não se confunda o retrato com aqueloutro da politiquice. E tenho, quase sempre, dito o seguinte:
-“Estou a ficar cada vez mais anárquico!” mas, como o tempo e o palco nem sempre são os mais adequados à dissecação de temáticas tão profundas, e visto andar prometendo uma dissertação adequada sobre elas, decidi-me a não mais adiar este post.
Antes de mais, convém referir que não estou enrabichado com nenhum partido político. E a explicação é simples: - os partidos políticos tomam partidos! Como tal, enquanto os estivermos acreditando, vamos andar neste limbo de interesses que, ora pingam para a direita, ora pingam para a esquerda, dependendo de quem se ocupa da coutada dos poderes públicos.
A vida não está fácil para quem se recusa às cunhas, garanto-vos. Sou um sonhador, portanto. Cheio de sonhos como um qualquer adolescente, cujas lambadas da vida o vão tornando mais adulto e mais filho-da-puta.
Deste meu cantinho humilde e honesto estou, tão só e apenas, ideologicamente comprometido com a Verdade e com a Liberdade. Ora, o modelo anarquista defende afincadamente esses valores. Valores esses que rareiam, não só na sociedade portuguesa, mas também na generalidade das sociedades ocidentais. Dir-me-ão que não. Que há liberdade a mais e que os valores estão a perder-se, dando lugar a uma tremenda falta de respeito. Posso até concordar com a segunda parte da afirmação, mas a falta de respeito não resulta do excesso de liberdade mas sim da falta de educação. A Liberdade é um conceito demasiado vasto para se esgotar na conivência de um pai perante a parvoíce do filho que decidiu atirar garrafas de cerveja aos carros ou partir uma montra.
A convivência em sociedade sempre teve de lidar com ameaças à ordem estabelecida e obrigou-se a encontrar soluções para se refundar estruturalmente, de forma a tornar a convivência social mais serena, mas nem sempre mais justa e livre.
Nós somos apenas seres vivos. Somos, geneticamente, animais como todos os outros. Mas dispomos de características avançadas que nos permitem estar no topo da cadeia. Somos capazes de optar por não reagir animalmente, de não sermos violentos, de nos impormos um conjunto de regras capazes de tornar possível a nossa convivência. Somos capazes disso mas não o fazemos ou fazemo-lo erradamente. E, como tal, não só desmerecemos a nossa racionalidade, como deveríamos considerar-nos o mais reles e medíocre de todos os animais.
Rousseau defendia que a existência perfeita assentava numa relação de proximidade com a natureza. Ou seja, o ser humano, para ser perfeito, deveria viver em comunhão com a natureza. No entanto, e consciente das características inerentes à espécie, concluiu que o Homem se distanciou dela e se avizinhou dos seus pares com o intuito de se proteger. Porque tinha medo de morrer sozinho, de fome ou doença ou de outra coisa qualquer. O Homem uniu-se com medo da realidade envolvente e, ainda que não tenha formalizado teoricamente os seus motivos, a verdade é que o grémio não parou de crescer e, cedo se pôde comprovar, que o maior inimigo do Homem era o próprio Homem, com a sua sanha de poder, ambição e glória.
Não me interessa aqui fazer uma resenha histórica sobre a evolução das sociedades, tampouco desenovelar uma História carniceira que elevou mitos com bandeiras fundados sobre ossos e sangue de outra carne que não importa para a posteridade porque era fraca e, como ainda hoje repetimos acéfalamente, “dos fracos não reza a História”. Interessa-me, isso sim, tal como Rousseau, esmiuçar um conceito que ele avançou – O Contrato Social.
O Contrato Social é, basicamente, um conjunto de normas, direitos e deveres pelos quais se rege toda uma comunidade. Ou seja, um conjunto de leis, o mais unanimemente possíveis e passíveis de serem partilhadas por todos ou, se quiserem, uma ideologia comum. A isso chama-se Democracia. A palavra deriva do etímologo grego Demos (Povo) e do sufixo Cracia (Kpateía) que significa força ou poder. Nas palavras de Abraham Lincoln, “A Democracia é governo do povo, pelo povo e para o povo”. Eu entendo nelas uma intenção de dar voz à pretensão maioritária, ou seja, é a vontade da maioria que prevalece sobre todas as outras querenças.
Se a Democracia é o mais perfeito e acabado dos modelos, não sei. Por enquanto, parece-me o mais justo. Se vivemos em Democracia? Garanto-vos que não!
E sinto-me em condições de vos garantir que não, por duas razões:
- Em primeiro lugar, porque o Contrato Social deveria resumir-se a um resumido conjunto de normas que todos conhecêssemos e partilhássemos, de forma a erradicar qualquer tipo de violência entre a nossa espécie. Ao invés, o nosso Contrato Social é um magote de leis e merdinhas que permite aos ricos e poderosos um regime de impunidade, que em nada se assemelha ao propósito das maiorias.
- Em segundo lugar, e por razões que ainda não destrincei totalmente, mas sobre os quais me deterei em outras ocasiões, não me parece que os caminhos da Democracia e, principalmente, os da felicidade que todos desejamos, se persigam pelo abismo dos calmantes à noite ou em colheradas de antidepressivos para suportar os dias…
…Este post, definitivamente, não acaba aqui!
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2 de jun. de 2009
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2 comentários:
Vou lamber suavemente. Gostei e espero que voltes ao tema... sem muito a acrescentar deixo-te apenas um...Porreiro, pá!
Estes senhores que se dizem políticos, socialistas, democratas, comunistas, ou o raio que os parta, tecem a teia da lei da forma que melhor os apraz, para poderem usufruir o mais completa e eficazmente das suas "falcatruas legais". É a velha história do burro e da cenoura - Querem sempre mais, buscam sempre muito mais e neste campo são incansáveis... Se têm centenas, querem milhares e quando possuem milhares, já estão de olho nos milhões. Não conhecem limites. E também não falo de ninguém em particular, mas aponto o dedo a todos em geral.
Mudam as personagens, mudam as cores dos partidos que ocupam os palanques, o que não muda é a vontade de nada se fazer pelo povo. Tudo isto faz com que a corja politico social, que compõe cada mandato, desde que existe uma real democracia neste país, seja aglomerada no mesmo saco de lixo e tenha vindo a gerar ao longo dos anos crias e novos herdeiros para desta forma continuarem a limpar os bolsos e as mentes da população, podendo ainda, acharem-se no direito de lhes pedir contenção e compreensão.
A questão já não é: "O que é que fizeste pelo teu país?", mas antes, " O que é que o teu país fez por ti?
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