29 de out. de 2009

ULTIMATE SEX POWER FEST

Minhas ricas pombas e ilustres gaviões,

Como já deveis saber, vai realizar-se no Convento de Alpendurada, no próximo dia 7 de Novembro, um grandioso festim que dá pelo nome de Ultimate Sex Power Fest.

Temos confirmadas mulheres nuas, cavalos e anões. Está apenas pendente a confirmação de um triciclo com pratos de choque e… uma meia dúzia de malandros que gosta de se guardar para a última. No entanto, e porque urge confirmar o número de gamelas e as cestas de trigo recesso, eis-me por este meio a reclamar pela vossa atenção.

O manjar implica uma liquidação de 15 euros, com bebidas à descrição enquanto durar o jantar. Depois disso, acaba-se a mama… ou não! Estamos autorizados a levar umas garrafitas para continuar a festa. Tragam-nas!

A indumentária deverá ser burlesca-circence-cabaret-excêntrica-erótica-sexy podendo ter reminiscências góticas ou à belle époque. Por isso, meninas, puxem-me essas saias para cima de modo a ver-se as ligas, apertem os corpetes e venham com cheiro de flores; Os coiotes amanhem-se nos armários à procura daquele casaco do avô que um dia juraram nunca vestir. Ah! E suspensórios - é uma imposição delas! As bengalas e os chapéus também são muito bem vindos…

Sejam arrojados, - não há que ter medo! Não vai ser por uma muda de roupa mais extravagante que a vossa pele vai arder no inferno… antes pelos motivos que vós sabeis!

Mais coisas…

Estamos a negociar um autocarro que arrancará do Marco (junto à Câmara) às 19:30 (é para cumprir). Por volta da meia-noite, o mesmo veículo nos trará de volta ao Marco. Ainda não sabemos o preço do autocarro, mas o bilhete de ida e volta deverá rondar os 4 euros (pelo que importa também confirmar quem deseje ser guiado)

Resumindo e concluindo,

É fundamental confirmar presença e/ ou autocarro. No próximo sábado, eu e o Romeu estaremos no woodrock, pelo que se puderem pagar nessa altura, melhor.

Podem também confirmar através do blog http://cabaretdesmorts.blogspot.com ou pelos números 961 942 118 ou 918 901 593

Resolvam lá isso… vá!

Sr. Mal

26 de out. de 2009

Ultimate Sex Power Fest


Diz-se por aí, à boca fechada, que a malta anda com falta de criatividade no que diz respeito à escolha da indumentária para o Ultimate Sex Power Fest. Eu não acredito. Quanto a mim, isso é boato! No entanto, e para que não restem dúvidas quanto ao carácter excêntrico-burlesco-circente-erótico com possíveis reminiscências góticas, deixo-vos aqui algumas sugestões para que se possam inspirar…

Ah! E sejam arrojados, - não há que ter medo! Não vai ser de certeza uma muda de roupa mais extravagante que vos fará arder no inferno… antes aquelas coisas lindas que andais a fazer durante o resto do ano!
PS: Agradece-se confirmação para a festa o quanto antes...
*fotos com direitos reservados
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22 de out. de 2009

Ao ritmo da tempestade

Cheguei tarde a casa e entrei em bicos de pés para não acordar ninguém. Vivo num quarto alugado, como já deveis ter prognosticado, - bem barato comme il faut! Entretanto o senhorio faliu e veio para aqui viver também, e alugou o outro quarto a uma levada grávida que passa as noites a correr para a casa de banho, condimentando com vómitos os meus devaneios e as minhas leituras. Enfim, para meu desprazer a casa tornou-se habitada.

Mas hoje a noite discorreu engraçada e eu tive de vir a casa buscar bebidas e camisas para rufar mais calor no carro que ficou de porta aberta e a música alta. Deixei as botas à porta, como se fosse fazer menos barulho correndo em peúgas pela escada alcatifada. Calcei uns sapatos de sola silenciosa; abri gavetas em desespero, arrancando de lá preservativos à mão-cheia; entrei por uma porta do armário e saí correndo por outra, deixando um rasto de garrafas vazias atrás de mim, e a colecção de bebidas em miniatura abraçada ao peito, como se levasse o filho de uma ex-mulher que o tribunal me proibiu de educar…

Entrei no carro como um tufão e as garrafas tilintaram como um candelabro dado ao vento de Penha Longa. A moça que estava no banco da frente agarrou-me pelo queixo e beijou-me a boca. Eu estiquei o pé no acelerador, o carro derrapou no alcatrão cheio de folhas molhadas, ela agarrou-se com afinco na minha camisa suada, um tornozelo de trás cravou-se-me no pescoço com o tacão a bater no vidro e a estrada seguiu o nosso veio ao ritmo da tempestade…

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20 de out. de 2009

ULTIMATE SEX POWER FEST

Tenho uma visão desinspirada do mundo. Não só não o consigo mudar para melhor como não vejo, nas pessoas que podem, um altruísmo ou nobreza capazes de tornar a existência dos outros mais livre e autónoma. Arrisquei pensar o mundo como numa equação matemática, mas pus demasiada emoção nas contas e o resultado veio-se em mim como uma biblioteca de auto-ajuda…

Fartei-me de ouvir os conselhos dos outros; de ter uma identidade com deveres acessórios; de esperar em filas; de desligar a televisão; de esperar que algo bom aconteça; de me querer vestido e penteado como um nova-iorquino só porque os padrões de beleza se homogeneizaram a uma escala global…

Fartei-me de tanta coisa e encontrei-me isolado como um eremita. O mundo espera de nós uma contribuição para a correcta lubrificação das suas rodas dentadas. Ora, isso não me apetece. Cravaram-nos a religião nos corações e outros ideais de perfeição que nos juram a pele a uma cama de pregos se não os cumprirmos. E, mesmo que os cumpramos, esses ideais não nos ilibam de ser atropelados ou morrer à fome com as pernas partidas no fundo de um poço que alguém abriu e se esqueceu de tapar porque secou. Longe de querer culpar a humanidade por abrir poços ou deixar as suas crianças morrer afogadas em tanques, importa-me antes não fazer juízos de valor.

Cedo ou tarde, vamos todos morrer! Ter assim uma certeza, consola e apazigua. O que fazer então da vida? Prolongá-la por mais um ano ou dois, impondo sevícias ao corpo? Domesticar a alma? Cada um responderá por si, se acreditar que tem mais vida para além do corpo que preside…

Quanto a mim, prefiro seguir o conselho de Agostinho da Silva, e vou fazer exactamente o contrário daquilo que me faz infeliz. Ainda que os relógios torçam o nariz, ainda que a decência, o bom-gosto e o bom-nome achem “por bem” fazer juízos de valor, eu vou inventar a minha história. Começou mal, - com um baptismo à pressa - não fosse eu ferrar nos anjos como um menino selvagem com a dentição toda aguçada. A infância foi bonita, ainda que sem pedófilas; a adolescência foi o que é, e a idade rouba-me fatias de fígado por cada borracheira que apanho. Uma vez chegado a este ponto, importa-me tão-somente reunir as pessoas e ser feliz com elas, traficar o ânimo contra a lei vigente e inventar a felicidade.

Seremos capazes de nos reinventarmos, livres de preconceitos? Seremos capazes de aproximar a alma ao corpo e, mesmo assim, conviver harmoniosa e tolerantemente? A ver, vamos, no ULTIMATE SEX POWER FEST!


PS: aceitam-se inscrições. A festa terá lugar no Convento de Alpendurada, no dia 7 de Novembro. Arranjou-se a brincadeira pela módica quantia de 15 euros (jantar incluído). Depois da comezaina, acabou-se o vinho! Por isso, vamos lá surripiar uma garrafita à garrafeira do velhote, - ele faz menos caso se lhe disserem que a garrafa desaparecida se esfumou no Natal passado, quando ele “foi para a cama de gatas”…

A indumentária é livre, desde que seja sexy. Dão-se alvíssaras a quem aparecer de corpete e meia liga (a ver-se!). A ideia é fazer-se uma festa que combine os estilos Burlesco-Circence-Belle-époque-Gothic-Cabaret. Os homens devem comparecer de chapéu ou cartola, com indumentária Dandy, - dão-se alvíssaras a quem apareça de fato cor-de-rosa, camisa branca e laço verde-alface, calça curta e meias de riscas às cores. Os suspensórios são uma condição exigida pelo sexo feminino…

- Não esqueçamos que este jantar pretende ser uma ode à excentricidade. Os mais mirrados pela educação podem sempre dizer que vão a um carnaval de inverno. Sejam inventivos!

Libertem-se de preconceitos e vamos fazer a festa. Morrer pode ser para amanhã…

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19 de out. de 2009

O verdadeiro artista... em Bollywood

O artista é um ser incompleto. Ser completo é próprio dos parvos. O verdadeiro artista é uma invenção do erro. Ele pega no mundo todo e num molho de roupa suja com a mesma convicção, ao vir do banho. O artista incomoda-se, o artista deprime-se por ter de encontrar uma forma de explicar a sua visão do mundo. Ele é significante e significado em constante mutação e mexe na merda, provando com as mãos em vaporosa que ela cheira mal. O artista também existe para desmistificar os dogmas que a publicidade e a propaganda vendem como ideais de virtude e perfeição. Acresce ainda ter de inventar os códigos linguísticos mais acessíveis ao entendimento da sua visão e, nesse sentido, o verdadeiro artista deve também ser capaz de reinventar o seu discurso nos códigos já existentes. A sua forja é o mundo todo e o seu castelo uma torre de latão e marfim com apliques e farolins, por onde ele mesmo sobe, arriscando a gravidade dos seus pensamentos.

Essa mesma condição inventou-me um lugar no cinema e, sem mais delongas, proporcionar-vos-ei, sem quaisquer interesses comerciais, o desfrute de algumas cenas que me tornaram mais conhecido em Bombaim do que a Angelina Jolie no Cambodja…

O Último Tangas em Paris
http://www.grapheine.com/bombaytv/movie-uk-559f51775ca97efa8b44858146fe398a.html

Carolina Estende a Toalha:
http://www.grapheine.com/bombaytv/movie-uk-005d37149bbe8a4f5b450a9b4f54c281.html

Manif:
http://www.grapheine.com/bombaytv/movie-uk-6169d8b1507630634135dfd25acbd207.html

Gina Lombriga:
http://www.grapheine.com/bombaytv/movie-uk-a38ade88d60bed82a39c2091c872bfe2.html


Brevemente, há mais...

15 de out. de 2009

Ultimate Sex Power Fest

Acordai,
Que ainda sois jovens!

Bem sabeis que o tempo passa
E não há velhice de mel nos olhos
Para quem se adiou aos encontros.

Enoja-me o vosso peito a tinir de medo,
As conas secas e as pilas murchas!
Ide embora!
Comprai uma caixa de pau-santo
E metei-vos lá dentro para que nunca vos toquem!

Ou então arrependei-vos
E bebei comigo um trago de honra
Pelo tesão que vos gerou!

Ainda é possível desfazer o mal, -
O vosso mal!

Renegai o mundo que vos querem vender.
Renegai-o! – digo-vos eu!
Tendes beleza,
Tendes talento e terreno de pele que baste
Para inventar um museu de memórias
Na própria carne.

O vosso peito é tenro – eu sei-o!
Não espereis mais um quarto de século
Para o ofertar a um calor de mãos.

O sentido da vida é a morte!
É melhor que o saibam por mim!

Tirai essas mãos sujas dos bolsos
E dançai. E roçai
E devolvei a Bruxelas essa educação que vos obrigou a cobrir o corpo…
Como se a vontade de fazer amor fosse pecado!

Inventai comigo, outra vez, o amor.

Tomai-vos,
E comei-vos!

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4 de out. de 2009

Era uma vez...

Admiro as pessoas que são natas contadoras de histórias. Não faço distinção quanto a idades, ou até mesmo a experiência de vida, tanto me apraz ouvir um velho ancião calejado e marcado pela existência, como um pequeno ser que ainda não saiu debaixo das saias da mãe… especialmente se ainda estiver debaixo dessas saias, bens sabereis o porquê, mas isso são outros caminhos, pelos quais não quero enveredar neste momento.
Ora, a natureza de um contador de historias faz com que essa criatura seja um ponto atractivo, uma pessoa na qual vamos para casa a pensar, em que por vezes estamos na cama a olhar para o escuro do quarto ou até na sanita (utensílio muito apreciado pelos pensadores) e nos surge na lembrança, é um espírito sempre presente, mesmo quando não o sentimos.
Foi com uma pessoa destas que tive o imenso gosto de contactar aquando das minhas férias na minha outra pátria. Inúmeras histórias me confidenciou a pessoa á qual me refiro, mas nenhuma me marcou tanto como esta que de seguida irei partilhar convosco, meus caros compinchas.
Não vos irei pedir que para tal narrativa (tal como me foi pedido a mim), depositeis a vossa crença, ou até o vosso interesse, abandonai, pois, este conto e este vosso humilde narrador, no ponto que acheis mais adequado para prosseguirdes o vosso caminho. Se por um feliz acaso o seguires até ao fim, estais desde já convidados a brindar-me com um copo do vosso juízo ou opinião.
Assim, passai a ouvir-me não só com os tímpanos, mas também com os olhos!

Lá na Ucrânia; bem na Ucrânia profunda, onde e como dizem os locais que Cristo não passou, existe um vilarejo, uma pequena comunidade, com não mais de cinco centenas de habitantes, pessoas modestas que vivem da terra e daquilo que esta lhes oferece mediante o seu trabalho sazonal. Essa terra de seu nome Pukalyak é maioritariamente cercada por bosques e vegetação bastante densa, que dá ao lugar um aspecto bastante sombrio. Mas essa densidade de florestação não é o único elemento a rodear Pukalyak. No lado sul do vilarejo existe um lago, de águas bastante calmas, mas também bastante negras e profundas. Diz-se até, que este lago encerra segredos de uma aldeia submersa pelas suas águas… factor que contribui para que os locais dificilmente o frequentem. È como que um local proibido.
Na localidade, existia uma rapariguinha, como tantas outras da sua jovem idade, Oksana era o seu nome. Era alta e magra, de longos cabelos negros e de olhos verdes escuros como a vegetação que circundava Pukalyak, vegetação que exercia um enorme poder sobre a rapariga. Dizia-se enormemente atraída pela floresta, como se esta sussurrasse o seu nome, afirmando, até, que um dia iria explora-la apesar de todas as tentativas dissuasoras de sua velha mãe, sua única e fraca família.
Os dias e os meses, assim como as estações passavam sempre toldadas pela constante e doentia névoa e o desejo de se entregar á floresta de Oksana, não parava de crescer. Era Janeiro e o dia estava mais frio que qualquer outro, sua mãe morrera há precisamente um mês, na noite de natal… presente envenenado com que fora brindada a nossa rapariga pelos santos e personagens natalícios. Hoje, Oksana decidiu libertar-se desse desejo que já há muito a sufocava, precisamente hoje iria entregar-se á densa e proibida floresta sombria…
O que por lá se passou com a jovem é de todo desconhecido, uma coisa, porém, é certa, quando regressou, um par de anos depois, não era a mesma rapariga. Vestia as mesmas roupas com que partiu, ou melhor vestia o pouco que delas restava, pois não passavam de trapos gastos, rotos e sujos. Os seus longos cabelos negros estavam ainda mais longos, mas também bastante estragados, sujos e como que viscosos. Os olhos sem brilho, bastante enterrados acrescentavam uma expressão ainda mais demoníaca á sua face pálida. Não falava ou sorria, não gemia ou chorava, simplesmente se notava ausência de expressões em toda a sua pessoa. Trazia consigo uma criança nos braços, um recém-nascido, que diziam os locais ser fruto gerado no seu ventre depois de concebido entre si e uma das muitas criaturas demoníacas que povoavam a escura floresta. Razões de sobra para que a população local começasse a desprezar, escorraçar e criar mitos em relação a estes dois miseráveis seres.
Admiravelmente a jovem sempre se conseguiu manter viva e ao rebento, sem que para isso necessitasse da ajuda alheia. Receosa das represálias da população, Oksana mantinha-se sempre retirada do resto da pequena vila, arranjando-se, desta forma, sempre o melhor que lhe era permitido. Certo dia, tentada pela fome desenfreada com que vinha sendo assaltada ultimamente, não aguentou os espasmos do seu corpo e mais uma vez aventurou-se floresta adentro, desta vez, somente, com o intuito de caçar para se saciar do seu apetite e por sua vez proporcionar uma refeição mais digna ao pequeno ser que a acompanhava. Saiu logo pelo romper da manhã, com uma névoa cerrada e um silencio de morte, entrecortado pelo som da luta de um bando de corvos ao longe. Á criança, deixou-a muito aconchegada, num cantinho resguardado da casa.
Ao meio da manhã, ainda nem todos haviam despertado e a caça já havia saído da floresta. Uma lebre iria servir de repasto… Mas ao entrar em casa e para seu desespero e terror, Oksana constatou que o seu pequeno ente desaparecera. Pela primeira vez nos últimos anos, o seu rosto assumiu uma expressão, a sua minúscula boca suja abriu-se violentamente emitindo um som semelhante ao de um uivo e o desespero tomou conta da sua alma, se é que ainda a possuía. Saiu, aturdida com o acontecido e veio grunhir por auxílio para junto do vilarejo e dos seus habitantes, que logo se puseram a bramir insultos e ameaças contra ela. O chefe dos anciãos assumiu o seu posto e tomou a palavra, dirigiu-se a ela nos seguintes modos:
- «Avistamos sim, o fantasma de uma criança a chorar e a correr em direcção ao lago, mergulhando na sua escuridão. Com certeza, ficou nas ruínas da aldeia submersa, habitada por algumas pragas aquáticas. Reza pela alma do teu filho! Talvez tenha virado comida dessas pragas, procurando nas suas fezes, talvez o encontres…»
Nisto, agarrou a cabeça de Oksana, com as duas mãos, muito firmemente e gritou-lhe: - «Acorda, mãe aflita, liberta o filho que está perdido no teu sonho. Abre os olhos, deixa-o sair do teu interior!»