7 de mai. de 2009

MEMÓRIAS DE PAREDES DE COURA III

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“Não há duas sem três” – essa bela frase que tanto pode servir para dar mais uma como para pedir outra…

Neste momento, enquanto dormem os belos corpos em fim de orgia, dou um jeito às pernas, coço a barba e acendo um cigarro despenteado. Resgato o uísque de uma alcova de pernas cruzadas e bebo do seu gargalo salgado. Disponho o laptop num belo costado sem hérnias, demasiado cansado para acordar e que, não sendo de macho, deve ser de uma rapariga muito peludita e má. Esperem lá… já sei quem é! É má, sim senhor.

Deixo cair, inadvertidamente, uma unha de cinza neste agremiado de carnes octópodes em que me encontro (octopussy) e logo ele se ondula como se afastasse com os tentáculos uma mosca vareja.
Tudo repousa, como no fim das batalhas, mas em lona vermelha, e ocorre-me falar-vos de Paredes de Coura. Bela festa!

No dia seguinte aqueloutro, choveu pela madrugada e manhã, dissipando no rio Tabuão as provas de um assassínio hediondo sobre o qual não me pronunciarei até que apareçam os corpos das vítimas (espero que ainda amarradas e adornadas com os instrumentos na nossa criatividade). Depois de um banho revigorante, que serviu para arrancar das unhas restos de pele e sangue ressequido, eu e o Anatoly Zerka deambulamos pela Vila à procura de impermeáveis baratos. Na ressaca de tão voluptuosa maldade que nos fazia ranger os dentes, vislumbramos aquela que, nitidamente, seria a versão punk de D. Quixote, mas sem o seu fiel escudeiro. Se um Sancho houve, terá deixado alforges e largado o burro, correndo sem olhar para trás. Quais Moinhos? A visão deste gigante assemelhava-se a um hospital abandonado com ratos encavalitados nos caixotes, roendo gaze empapada de sangue, num bouquet com seringas infectadas… Depois fomos comer.
Pedimos uns petiscos que estavam bastante bons e só o vislumbre de uma divindade de vestido branco me arrancou os olhos dos pires de moelas. Apesar de quase ter sofrido um esquentamento mental não deixei de dar uso ao faqueiro que esmagava violentamente côdeas de broa. Boa, boa, boa!!!

De seguida, fomos receber em procissão os nossos condiscípulos que não puderam estar presentes no deboche da noite anterior. Seríamos seus guias até ao acampamento. Entre abraços, soou um baque de cisne que só as rolhas de cortiça conseguem imitar quando se apartam do gargalo de garrafas tintas…
Nesse momento precioso de divino simbolismo, refundamos a nossa fé e entregamo-nos a um renovado cardápio de hercúleos esforços e consequente perda de faculdades.
Juntamo-nos ao resto da malta e, sem jantar, fomos para o recinto inaugurar depravações…

No capítulo dos concertos, a coisa esteve composta. As bandas portuguesas Ex-Wife e Bunnyranch portaram-se muito bem. Não me lembro bem qual deles (acham que foram as divorciadas) nos brindaram com a presença em palco da Raquel Ralha, dos Wraygun, mas gostei bastante. Aquele coxão é um espectáculo e se ela me pegasse pela mão e dissesse “anda!”, eu ia. Ah pois com certeza que ia!

Bellrays foi excelente. Não conhecia a banda nem a vocalista. Tufão de senhora, coxa grossa, poderosa. Uma Tina Turner com acrescentos de soul. Que grande concerto! Quase nem fui buscar baldes de cerveja…
Tive medo que ela me pegasse na mão e dissesse “anda”, pois já estava arranjado para a Raquel.

Os Sex Pistols foram engraçados, tentando disfarçar o tesão que já não têm. Pediram vinho rasca só para chafurdar o palco com bisgas venenosas. O Jony Roto (para amigos) ainda mantém uma expressão de puto reguila e aquela boca torta com o maxilar superior lançado para a frente como se fosse espetar com viço os dentes num pão com chouriço.
Quando um punk conseguiu transpor a barreira de segurança e subir ao palco (não se sabe muito bem se era para lhe partir os cornos ou lhe oferecer um botão de rosa), foi imediatamente abatido pelos snippers do cabedal. O Jony limitou-se a aconselhar o público: - “DO NOT DO THAT! THIS IS MAAA STAGE! RESPECT!”
Bom, a partir daqui, fui emborcar baldes de cerveja. Quando um punk chega ao ponto de dizer que é para haver respeito é porque estamos perto do fim do mundo. E se o fim do mundo viesse, ninguém me iria apanhar sóbrio, não senhor! Portanto, fui beber como se não houvesse amanhã. Ainda cheguei a tempo dos “vivas à rainha” – essa sem futuro que ameaça durar mais que eu!

Por agora, não me apetece contar-vos mais nada. Está aqui uma ninfa a puxar-me pelas pernas. Acordou a ressacar sexo e está a pedir-me que lhe administre mais uma dose desse soro da vida. Vou só pô-la a dormir e já volto…

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3 comentários:

Amora disse...

Estas vivências enroladas numa mortalha... Um novo testamento do profeta Sr Mal. Suas profecias não são falsas heresias antes dantescas epopeias consagradas ao prazer.
Tenho dito.

Tónio Cuco disse...

Ainda faltam os demónios!!!

Anatoly Zerka disse...

Essas histórias de divas a ressacar sexo, não sei a sua veracidade... agora que me digas que o "RESPECT" dos Sex Pistols, soou a um velhote a quem tiraram toda a tusa, aí já estou de acordo... Ainda hoje penso como é que esse filho da puta do J. Roten foi capaz de dizer aquilo... incrível como há uns tempos se ele mesmo pensasse que diria o que disse, provavelmente enfiava uma dose de heroína misturada com veneno dos ratos, só para se castigar por um pensamento tão infame e agora está assim pudico, o CABRÂO!!!