Um
homem perguntou ao poço quantos homens nele caíram.
Pouco
escorreitas correm agora as suas memórias
ao
longo das ruas que se deitam sobre eras remotas,
ruínas
antigas e esquecidas, civilizações desfeitas,
escondidas
dos seus olhares e dos seus passos,
retratadas
harmoniosamente nos livros de história
para
darem ao nosso orgulho uma certa razão de ser
e
sem saberem disso mesmo resistem os sonhos velhos,
disformes
no momento em que o cansaço se lhes junta,
como
na hora em que ele se deteve junto ao Poço da Roda,
como
tantos outros homens o fizeram antes dele,
tantas
vezes sem caminhos, tantas vezes sem tudo,
apenas
com os seus olhares e passos desencontrados,
ignorando
que o mundo não era o solo que pisavam
mas
antes o poço que transportavam dentro do corpo.
Há
quem pare por vezes e de mim beba abundantemente,
há
quem se vença pelo tempo e afogue a mente e a alma,
há
quem não desista e deambule até sucumbir de secura
e
outros que acham no reflexo da água o graal da loucura.
Assim
respondeu o poço ao homem e este prostrou-se no chão,
sem
molhar os lábios,
sem
se ter afogado,
sem
dar um único passo adiante,
sem
contemplar o rosto ali iluminado pelo nascer do novo dia.
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