25 de jan. de 2013

O Poço da Roda


Um homem perguntou ao poço quantos homens nele caíram.

Pouco escorreitas correm agora as suas memórias
ao longo das ruas que se deitam sobre eras remotas,
ruínas antigas e esquecidas, civilizações desfeitas,
escondidas dos seus olhares e dos seus passos,
retratadas harmoniosamente nos livros de história
para darem ao nosso orgulho uma certa razão de ser
e sem saberem disso mesmo resistem os sonhos velhos,
disformes no momento em que o cansaço se lhes junta,
como na hora em que ele se deteve junto ao Poço da Roda,
como tantos outros homens o fizeram antes dele,
tantas vezes sem caminhos, tantas vezes sem tudo,
apenas com os seus olhares e passos desencontrados,
ignorando que o mundo não era o solo que pisavam
mas antes o poço que transportavam dentro do corpo.

Há quem pare por vezes e de mim beba abundantemente,
há quem se vença pelo tempo e afogue a mente e a alma,
há quem não desista e deambule até sucumbir de secura
e outros que acham no reflexo da água o graal da loucura.

Assim respondeu o poço ao homem e este prostrou-se no chão,
sem molhar os lábios,
sem se ter afogado,
sem dar um único passo adiante,
sem contemplar o rosto ali iluminado pelo nascer do novo dia.


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