Aos olhos de hoje
Os nossos de outrora
Tão pequenos e reguilas eram só inocentes.
Lembro-me
Daquele baloiço que fizemos com duas cordas e uma tábua das
obras
Onde tu imitavas os trapezistas do circo
E toda a gente na esplanada do café te batia palmas.
Que universo glorioso na tua alma
Se deveria acender…
Éramos crianças e fumávamos beatas de cigarro
Que o teu pai doente deixava na lareira.
Lembro-me vagamente disso
E dos chocolates que te dava o amante da tua mãe
Para te pores a milhas
E vires brincar comigo…
Hoje rio-me disso,
Rio-me agora, isto é, rio-me a sério!
E pedir-te-ia desculpa por me rir com uma tão natural
vontade
Se por acaso te soubesse vivo
E o assunto viesse à baila…
O mundo não era muito diferente de agora.
Éramos apenas crianças
E os adultos escudavam-nos
À ideologia dos esgotos…
Mas sabes?
É uma sorte estarmos vivos,
Uma ironia não termos partido o pescoço,
Uma pena não teres sido ginasta…
Eu olho para trás
E admiro o risco que punhas na tua habilidade,
A vida que jogavas num ramo frágil de oliveira…
Se olhássemos hoje para o mundo
Talvez fosses tu a concordar comigo
E a dizer que sim,
Que eu tenho razão,
Como se no trapézio da razão
Fosse eu agora o trapezista capaz das habilidades…
Mas não, meu rapaz,
Eras tu que estavas certo!
Talvez eu estivesse certo também
Mas só as tuas memórias o podem acervar,
Se as tiveres…
Que falta fazem os livros?
Troco a minha biblioteca por uma foda bem dada.
As minhas memórias
Não as troco por nada…
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