22 de jul. de 2012

Prece ateia


Havia nas tuas costas um mapa que apontava ao céu
E dourava as vielas com o traço florido daqueles livros que se vendem nos supermercados.
Quis perder-me nesse caminho
E tropeçar nos teus beijos por onde uma fresta de luz vaga
Alumiasse apenas metade do chão pedregoso
E o nosso corpo de vultos…

Na estrada
A caminho de casa,
E como se fosse para lugar nenhum,
Pensei no sorriso que devem ter os teus olhos quando beijas e
Na cautela que te impele a feminilidade quando és beijada
E quase voltei para trás…

Mas não havia senão um sentido para o motor que rugia às curvas
Vagando as orlas de luz pública
Como um selvagem Mustang…
Pela estrada fora
Que é para o rebelde sem causa
O purgatório e a purga!

Uma vez em casa,
Onde me faço prisioneiro dos silêncios, das sensações e de tudo,
Perscrutando nas músicas sofridas dos anos oitenta uma prece ateia,
Consigo distinguir ainda na mão que me cansa o queixo
Um vislumbre de fruta perfumada
Que a tua mão deixou num toque
Cair o meu coração de maduro…

Era quase manhã
E os pássaros gritavam-se a matar a noite de ontem
Para beber um copo de água
Deitar-me
Dormir…


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