De onde vem esta vontade de ser tudo
E botar-me depois a um desterro de leitugas como se fosse
nada?
Embrulhar-me finamente no passado em película aderente,
Em folha de alumínio
E deitar-me ao lixo…
Não te sei explicar, pai, quem sou!
Mas não posso mais correr contra mim
E serei teu pródigo filho
Enquanto um elevador de acrílico transparente,
E sem poço,
Me guiar sobre o mar…
Carrego uma dor no espírito a que só a morte de um filho que
nunca terei
Se pode assemelhar
E chamo-lhe Poesia,
Amor,
Violência doméstica…
Não, pai,
Não te sei explicar quem sou!
Mora em mim o desprezo minimal que trucida os afetos
E a combustão que expulsa os nados;
Mora em mim um próprio deus
Que traz num kit embutido
os próprios pregos…
Não sei pôr-me nas tuas palavras,
No teu relógio (que é o mesmo de toda a gente
E só não é apenas o meu),
Ainda que nele sempre haja todo o tempo do mundo para mim…
Deve ser a isso que os tios e tias francesas chamam d’
Enfant Terrible…
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