Não será necessário um filme sobre a minha vida. A maior viagem que fiz foi na solidão da minha cozinha, quando os meus parentes já dormiam. Guardem-se as fitas ou usem-se para velar verdura, sombras de árvore e paisagens que um dia darão lugar a shoppings. O meu plano B foi sempre viver…
(e não estejam para aí a pensar que me vou suicidar porque eu não tenho tempo nem disposição para isso!)
Há tanto num copo de água para sonhar! Num relógio para partir ou num cigarro para fumar! Há tanto de Deus num olhar que se manda para o céu como num punhado de terra que se agarra com as mãos. Mora em nós o arquitecto que abre as portas e faz as janelas. Mora em nós o vento que entra por elas, os demónios e o cortejo da bicharada que te inflama o quarto de gente. Mora em ti uma porta, que se abre e se fecha e bate quando venta. Mora em ti uma mulher como se tu fosses uma casa e ela anda em ti e não limpa. Caminha apenas pelo corredor das tuas memórias. E ela parece-te atarefada como uma mãe com filhos que nem tempo tem de coçar as costas ou fugir do teu labirinto. Porque o teu mundo é uma cidade sem pejo nem vergonha onde os cientistas fazem experiências com ratos amorosos.
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