O meu sol é a memória de uma janela com luz
A que um búzio de calor assobia…
E entra pelas frestas de frio como um aquecedor ventilador de baixa potência
Ou um prisioneiro que se traz moribundo…
O meu sol é terno!
Faz sentido quando chove
E tropeça no céu como as crianças…
O meu sol é manco como uma criança deficiente
Desfilando de muletas na festa de Natal da escola,
Fazendo toda a gente chorar…
O meu sol gravita à noite, a esconder-se da lua,
E mija-se a rir contra os muros da errância…
O meu sol é um doidivanas que lava as mãos
E se deita em conchinha
Quando o outro se levanta…
O meu sol é negro e ri-se disso!
Mas abraça as nuvens
E raia-se no cabelo escuro delas…
Tenho, à custa do meu sol, marcas nos ombros,
Gotas sinceras de ácido clorídrico a escorrer-me no peito…
Almas doridas como tatuagens
E um jeito de lamber lágrimas que a ninguém arranca infelicidades
Mas que faz sorrir,
Porque é tosco…
O meu sol é uma fogueirita de Novembro que não dá nem para assar castanhas.
Mas o meu sol é só meu!
É meu!
Inventei-o porque não existia
E quase morri sem o ver…
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