22 de nov. de 2011

Em resposta ou sublimação do post "Era um país sem gente que por isso não era um país mas um deserto abandonado..."

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Pois é, meu caro amigo. Bem precisávamos de uma juventude activa, não só para trabalhar ou ser o motor da sociedade, mas para ser também o coração dela. Esse foi sempre o seu papel mais relevante – ser o coração! Confrontar os mais velhos, exigir deles a humanidade que o tempo lhes parece roubar. Um filho adolescente quer-se revolucionário, defensor de causas, quer-se indignado contra a guerra e a fome no mundo, quer-se solidário para com os mais desfavorecidos. 

Com o chamado ‘fim das ideologias’ (esse chavão agrilhoante à defesa de nada e à sujeição a tudo) e os ‘estímulos à competitividade’ como género de virtude (a promover quem melhor trepa pela coluna dos outros) não é de estranhar que os jovens se sintam perdidos. Porque estão. Estão os jovens e estão os adultos. Também eu me sinto perdido e mais perdidos se sentirão aqueloutros cuja ‘competitividade’ atirou para o caixote dos iogurtes em fim de prazo ou fora de validade.

Não, amigo, não és Jonh Lennoniano! O mundo é que deixou de ter coração para a música! Como tu disseste (e muito bem!) “com a economia em cima a empurrar tudo para baixo” e a meter num trolley para despachar. Não fomos nós que desgraçamos o nosso país e o mundo, ainda que nos façam sentir isso. Meteram-nos num jogo de Monopólio com promessas de prosperidade e fortuna e todos achamos muita piada aos dois contos de passar na Casa Partida. Ficam-nos aos poucos com a Companhia das Águas e Electricidade, com as Estações e não falta já quem deseje uma saltada à Cadeia para se redimir de males maiores. Quando lhes pedimos satisfações sobre o jogo, dizem-nos que é preciso fazer sacrifícios, que foi preciso ter Sorte. Queremos mudar de jogo e não pode ser. Agora é preciso ir até ao fim! Chegamos ao fim. Basta deste jogo! Falimos, perdemos, ok. Vamos mudar de jogo! Não dá. Isto afinal não era um jogo. Perdeste tudo, vais continuar a perder, mas ainda é preciso amealhar-te esses dois contos de renda de cada vez que passas na Casa Partida. Estás mesmo chateado e queres sair daquilo. Não podes. Vendeste a alma ao diabo e não há nada que te deixe saltar daquele vagão infernal! A não ser que…

… 99% dos jogadores se canse a sério e diga: “Ok, ladrão, passaste-nos por cima de todos os valores e, por isso, vamos dar-te o último privilégio de nos poderes chamar caloteiros para o resto da vida. Estás mais rico do que alguma vez sonhaste, banha-te nisso! Mas não vamos mais jogar o teu jogo!” 

Depois disso, é preciso começar do zero. Unirmo-nos como uma família, trabalharmos cada um 8 horas por dia e, dessa riqueza ajuntada, ir pondo de lado um dízimo que sustente o que, por nós próprios (como seres humanos e não como números!) somos incapazes de providenciar. E isso, como nos ensinou Agostinho da Silva, é Saúde, Sustento e Saber. Eu acrescentaria a esses três ésses - a Justiça. Mas Justiça a sério, daquela cega que não levanta a venda para piscar um olho; Saúde porque não podemos todos ser médicos e enfermeiros de nós próprios; Sustento porque seremos um dia velhos e precisaremos de comer na mesma. Sustento também pois que adversidade aí virá? Não sabemos. Que catástrofe natural nos levará num lanço de vento a casa e a roupa, a comida?; Saber porque não somos suficientemente capazes de, por nós mesmos, inventar o que é preciso ou ensinar aos filhos tudo aquilo que eles queiram aprender para fazer. Por muito que o quiséssemos, por muito cultos que fossemos, nunca seríamos capazes de lhes ensinar todas as artes e profissões. Quando muito, ensiná-los-íamos a ser o que nós fazemos ou quisemos ser.

Quanto ao resto, temos que descentralizar o sistema e restaurar o espírito associativo. Privilegiar a honra e valores como a dignidade e o respeito pelo próximo (trabalho hercúleo, sobretudo caseiro).

É utópico? Bem sei que não. Utópico é continuarmos a manter um bando de pançudos monopolistas que nos cobram 3 euros por cada voto, por ano, mentindo-nos com quantos dentes têm mais um saco de próteses, e chamando a isso Democracia! 

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Um comentário:

Anônimo disse...

Não podia ter tido melhor efeito a publicação do post. Resultou num post tão apurado e bom de lêr. Sublinho por inteiro. Grande Abraço

Anónimo Pralguns