22 de nov. de 2011

Era uma vez um país sem gente que por isso não era um país mas um deserto abandonado...e só (sobreadjectivação pleonástica à moda de Paulo Portas).

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Escrevo numa tentativa de desprender um nó de garganta, talvez até com mais coração que cabeça, embora não considere patético o que quero dizer.

Eu, como muitos, cheguei a um ponto na minha vida em que quase tudo me “força” a emigrar: “vai enquanto és novo, se eu não tivesse tanta coisa a prender-me também ia”. Diariamente vejo gente que vai, e gente que já está a preparar as malas. Eu como tantos outros não consigo encontrar trabalho nas áreas que gosto, e vou-me sujeitando ao que há, enquanto luto pelo que gosto. Num país que parece não perceber o real significado de educação, cultura, saúde, justiça. E a economia em cima a empurrar tudo para baixo. É provável que eu também chegue a emigrar, chamar-lhe-ia antes, escapar-enquanto-é-tempo. Porque isto está a desabar, e eu a desabafar. No entanto devíamos todos estar imensamente preocupados. Teremos consciência de que se não lutarmos para motivar a nossa camada jovem recém-formada, teremos destruído todas as reais hipóteses de mudar o estado da nossa terra? Não é pela formação como facto isolado, é pela sua aliada juventude… perdida, sem voz, sem revolta séria ou gestos calados que mudam coisas. Porque é essa geração que tem a maior fatia de mudança possível. A população cada vez mais envelhecida sem dinheiro e sem energia, as cidades e vilas cada vez mais envelhecidas, vão precisar da reforma as pessoas e os lugares. Quem está reformado vive do que descontou e sabemos que é real o risco das reformas minguarem até descerem ao estatuto de esmola. Uma esmolinha para quem descontou a vida toda, dada como se fosse a um cão. Pois para que tal não aconteça é necessário que uma nova camada de trabalhadores activos exista.



É tão simples como isto, e não sei para que me alonguei tanto:

Se formos todos embora, Portugal ficará ao desbarato, enquanto todos continuam calados à espera que a crise passe, como se fosse uma questão de metereologia. A crise não passa se não for encarada como mudança feita por homens, e mais mulheres. Mas não há sinais reais de mudança. Os políticos acusam o nosso consumismo, sabendo no entanto quanto das suas politicas nos enredou nisso, enquanto os comerciantes acusam a nossa falta de consumismo.

Sei que o problema é sério, que resolvê-lo é difícil, e que estamos todos cansados. Sei que pareço um pouco John Lenniano ao pensar numa união que mudará tudo, mas caramba não é o país que não presta, somos nós que não o estimamos. Se for tudo para o Brasil, Suiça, USA, Luxemburgo, Inglaterra, Angola…Portugal fica sem gente, como já aconteceu no passado e teve consequências desastrosas, quando o país quis ser o mundo inteiro e ficou sem gente suficiente para tornar a sua terra de origem operativa e sustentável.

É preciso ideias… é um facto. Só nós é que podemos encontrar e materializar é outro. Para as materializar é preciso ser muito forte e passar por cima de muita merda é também um facto. Parece-me também um facto o facto de que as coisas só mudam se houver gente interessada nisso. Não são certamente os actuais donos do poder, pois em breve esses terão a sua reforma assegurada, e que reforma, ou um alto cargo numa empresa, e porque será que isso acontece todos sabemos. É uma pescadinha de rabo na boca que só nos podemos cortar a meio.

P.S. (post scriptum entenda-se) Por favor deixemos de fazer comentários do tipo: “eu não percebo nada de política, porque não me interessa para nada”, como se fosse uma virtude. Pode não ser defeito, mas seguramente não é nenhuma virtude, até porque parece-me que só torna as coisas mais fáceis a quem se aproveita delas para nos roubar.

P.P.S. Isto não é uma crítica a quem emigra, eu sou o primeiro a ponderar o mesmo, é antes um desabafo, uma vontade de que nos ajudemos a encontrar soluções, antes que todos escapemos-enquanto-é-tempo.

Um comentário:

Sr. Mal disse...

Ia responder-te aqui, mas não deu. Foi preciso escrever mais. Lanço-te, por isso, e em sintonia com o teu pensamento livre, uma carta aberta.