4 de out. de 2011

Amanhã de manhã será tudo menos meia-noite e cinco

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Amanhã de manhã
Será tudo menos meia-noite e cinco.

Os cães acordarão cedo para responder aos galos
E aos cães que respondem aos galos
E as galinhas dirão num pi chic pipipi medroso que tudo aquilo é insuportável
Para os seus pequenos corações.
É lamentável! – dirão – quem pode assim chocar garnizos?
Não há direito!

A isto não serão indiferentes os pássaros,
No seu bulício de fruta fresca nos mercados:
Que tanto resmungam estes animais? – dirão, e a mãe –
Vá, meninos
Toca a voar que isto de ser livre e riscar o céu
Já teve melhores dias!

Amanhã de manhã
Será tudo menos meia-noite e cinco.

Tu estarás acordada e sentirás por mim, talvez,
Uma inconsolável necessidade de amar
Se tiveres sonhado comigo,
Ou eu contigo,
E então serei eu com o que me resta de sensibilidade
A convencer-me da tua ausência,
A acordar chorando, estupidamente,
Como no fim de um filme que não foi a nossa história.

Amanhã de manhã
Será tudo menos meia-noite e cinco.

Começaremos tudo de novo:
Eu a acordar cheio de sono às sete e meia
E a escrever ideias soltas como:

Amanhã de manhã
Será tudo menos meia-noite e cinco.

…para às dez da noite pegar nelas
E dar sentido ao grande intervalo que nos intercala a vida e os dias
Porque é preciso ganhá-los,
Ainda que nisso eu encontre uma injustiça
Para a qual me falta ainda uma utopia.

E é por isso que, a pensar em nós,
Sem saber quem tu és,
Te digo:

Amanhã de manhã
Será tudo menos meia-noite e cinco.

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