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Eu sonhei que o mundo era aberto e tinha uma porta a sair de casa, com pessoas ao fundo das escadas para me abraçar. Eu corria para elas, descendo os degraus em lanços de três para me abraçar também. Íamos depois trabalhar como numa comuna alegre, descendo a rua em cantoria. Inventávamos um deus para dar graças de sermos tão felizes e não para lhe pedir coisas… um deus satisfeito que olhasse para nós como um ancião com crianças a dançar de roda…
Mas algo perturbou o meu sonho, como se me agarrassem com força pelo braço ou uma serpente tivesse assobiado no meu paraíso sonâmbulo. Impressão minha? Talvez. Resquícios de uma vida anterior que a detergência não esfregou? Não sei. Todavia, o suficiente para me perder nos cânticos, a olhar para trás… um braço amigo resgatou-me do susto e a cantoria prosseguiu, bifurcando na entrada para os campos de tomate-cereja...
Comi pouco ao jantar, inventei uma desculpa salobra para não fazer amor com a minha mulher e dormi mal. Aquela cobra perseguia-me em pensamentos e, muito antes de o sol nascer, já eu lhe tinha inventado um rosto com nome. – Diabo! – uma expressão que os nossos antepassados usavam para agregar e corporizar concentrações de energia negativa, com significado místico, quando as explicações científicas escasseavam.
- A sério? – disseram-me, - mas em que mundo é que tu vives? Desde o Grande Esfregão que não ouvia uma coisa tão ridícula! É óbvio que todas as pessoas têm uma pulsão positiva e outra negativa! Um lado animal que te consubstancia às circunstâncias de existires num corpo, e um outro virtual – provocado pela educação que recebeste. Qual é a tua dúvida?
- Não sei bem! Aquela cobra não era animal…
- Era como? Viste-a bem?
- Não. Eu não a vi, nem sequer sei se era uma cobra, mas ela pairou em mim como uma existência sobrenatural que me deixou alagado em medo, com os poros todos alerta…
- Diz-me uma coisa… tu nunca foste Filmado, pois não?
- Não… - confessei, com estio e vergonha, como se fosse virgem e tivesse contado uma estória sexual que toda a gente tivesse acreditado e aplaudido… - não, nunca fui Filmado! - reconfessei-me com um orgulho que tira as calças e se mostra amiúde, murcho...
- Eu logo vi! Mas relaxa, eu não vou contar a ninguém. Conheço um médico que grava em HD...
continua...
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Eu sonhei que o mundo era aberto e tinha uma porta a sair de casa, com pessoas ao fundo das escadas para me abraçar. Eu corria para elas, descendo os degraus em lanços de três para me abraçar também. Íamos depois trabalhar como numa comuna alegre, descendo a rua em cantoria. Inventávamos um deus para dar graças de sermos tão felizes e não para lhe pedir coisas… um deus satisfeito que olhasse para nós como um ancião com crianças a dançar de roda…
Mas algo perturbou o meu sonho, como se me agarrassem com força pelo braço ou uma serpente tivesse assobiado no meu paraíso sonâmbulo. Impressão minha? Talvez. Resquícios de uma vida anterior que a detergência não esfregou? Não sei. Todavia, o suficiente para me perder nos cânticos, a olhar para trás… um braço amigo resgatou-me do susto e a cantoria prosseguiu, bifurcando na entrada para os campos de tomate-cereja...
Comi pouco ao jantar, inventei uma desculpa salobra para não fazer amor com a minha mulher e dormi mal. Aquela cobra perseguia-me em pensamentos e, muito antes de o sol nascer, já eu lhe tinha inventado um rosto com nome. – Diabo! – uma expressão que os nossos antepassados usavam para agregar e corporizar concentrações de energia negativa, com significado místico, quando as explicações científicas escasseavam.
- A sério? – disseram-me, - mas em que mundo é que tu vives? Desde o Grande Esfregão que não ouvia uma coisa tão ridícula! É óbvio que todas as pessoas têm uma pulsão positiva e outra negativa! Um lado animal que te consubstancia às circunstâncias de existires num corpo, e um outro virtual – provocado pela educação que recebeste. Qual é a tua dúvida?
- Não sei bem! Aquela cobra não era animal…
- Era como? Viste-a bem?
- Não. Eu não a vi, nem sequer sei se era uma cobra, mas ela pairou em mim como uma existência sobrenatural que me deixou alagado em medo, com os poros todos alerta…
- Diz-me uma coisa… tu nunca foste Filmado, pois não?
- Não… - confessei, com estio e vergonha, como se fosse virgem e tivesse contado uma estória sexual que toda a gente tivesse acreditado e aplaudido… - não, nunca fui Filmado! - reconfessei-me com um orgulho que tira as calças e se mostra amiúde, murcho...
- Eu logo vi! Mas relaxa, eu não vou contar a ninguém. Conheço um médico que grava em HD...
continua...
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