17 de mai. de 2010

A Carroça do Poder

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A Carroça é d’ ouro e passa como um diabo a correr
Sob um foco de sol a parecer divino
Com nuvens abertas…

Eu olho para ela como um camponês que parou de trabalhar e se apoia na enxada para ver passar a banda. É bonita, de facto. Um veículo espantoso que situaria entre a Arca da Aliança e um coche ou diligência. Corre-lhe atrás um exército de peregrinos em euforia como as crianças descalças de um ermo, à passagem de um forasteiro bestial.

A Carroça é d’ ouro e não pára ou estaciona.
Os homens querem subir para ela
Como se fosse a melhor cona,
As mulheres ser levadas nela
À carona

O mundo verga-se à sua passagem e as tribos convocam os seus mais bravos guerreiros para lhe porem uma bandeira. Para trás fica uma História mal contada de glórias com muitos pés estropiados, atirados sem nome para a valeta.

O chão da História é o leito de um rio de sangue amnésico por onde a Carroça passou e conta-se às crianças como o vir de uma fábrica de armamento com operários nutridos e felizes…

A Carroça é d’ ouro como os cabelos suados de uma criança que dorme com febre. E não parece letal...
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