2 de mar. de 2009

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A realidade acerta-se pela técnica dos relógios que evoluem e o tempo, que não teve freio, aburguesou-se a uma New Way. Dínamo de esquecer. Sem recobro nem esperança, a fotocopiadora é um museu que faliu. Não existem verdades universais. A arte pratica-se na potência de existir, sonho de uma ideologia sem memória. Nada é duradouro. Acreditar demasiado é vender a alma a uma existência sem vencimento. Tudo passa e o sol, que assiste à nossa mediocridade, continua entrando pelas frinchas de entulho universal que foram os nossos sonhos. Somos um bando de intelectuais idosos lançando sementes à terra, sem prognóstico de colheita ou seguro de terrorismo ambiental. Falimos todos os dias e o mundo reinventa-se em renovadas promessas. Fé dourada, luz que envelhece. A roupa guardada pelos nossos avós foi para um aterro sanitário, mortalha de um sem-abrigo abraçado aos próprios ossos, sobrevivente da fome e parente próximo do caixote que um camião do lixo levou. A minha mãe guardou toalhas com fio de ouro para que eu secasse os seus netos quando nascessem e eu vendi-lhe as esperanças à pornografia. Se o mundo parasse, eu acreditaria nele. Mas o carrossel da vida continua a sua marcha sem alma para travar sobre a carne que trilha os mais velhos. Não faço parágrafos. O único sentido para a vida é a morte. Não creio em verdade maior. Os cemitérios e os hospitais, as pedreiras mortas e as fábricas abandonadas são, para mim, monumentos de uma realidade que corre para a inexistência, questionada por ideais de felicidade. Acredito na minha verdade como na poesia dos faraós enterrada pelos desertos e não tenho mais perguntas para esvaziar o bolso roto de respostas onde meto as mãos, assobiando, cioso de coçar as minhas próprias misérias…


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2 comentários:

Amora disse...

Com um certo atrevimento meu e porque este espaço assim se encontra configurado para isso, pelo menos até que a tecla delete seja usada pelo Sr Mal, aqui fica uma minha não-resposta ao teu pensamento aqui retratado:
-Hás-de um dia querer e não poder ir...
-E o que acontece,agora,que posso e não sei se devo(falta a interrogação).
Vejo-me caminhar pela cidade dos vivos, sigo sem correr esses laços de ilusão. Preencho o mesmo espaço, conto-lhes as passadas, copio-lhes os gestos sem usá-los e paro...Não sei onde estou.Perdi-me na vaga de rostos, no atropelo de mãos e olhos que copiam amiúde cada pôr-do-sol cada gota-d`água, no rosto do outro.
-A tentativa de tomar parte, na parte que é vida, naquela que é a plataforma celeste, a dança canibal dos idílicos e imperfeitos mortais.

Anônimo disse...

O dinheiro dita... O ser mecânico e automático no reviver do dia-a-dia de obrigações corrompe as mais talentosas das almas...

Atendam a um conselho de um velho que pisou o trilho do reconhecimento artistico:

THE SHOW MUST GO ON...