Quando me disseram “a polícia está a fazer Operação Stop” resolvi pedir mais um shot e uma cerveja. Pelos vistos, a coisa ia durar até às sete da manhã e a minha segunda casa não tem camas para mim. Quando cheguei ao carro, consegui avistar a malta dos coletes amarelos. Estavam num cruzamento, encruzilhada de incómodos para quem vai lambido ou possuído pelo diabo. Ainda me passou pela cabeça dar um salto até à discoteca para fazer horas, mas a música é sempre tão fraca… fui buscar sandes e batatas fritas e fiquei no carro a ouvir Chico Buarque. Depois da ceia, mijei num canteiro, pus o relógio para despertar e deitei-me no banco de trás, onde dormi sem conforto nem cobertor. O purgatório do mundo, lá fora, esperava por mim com o seu rosário de punições. Gente sóbria e austera a saltar no tempo para me deter a possibilidade de matar alguém. Os criminosos devem pensar assim. Apesar de não ter matado ninguém, devo ser um, também, por encerrar um potencial de maldade sem cumprimento.
Fico no meu carro com as portas trancadas. A polícia, ainda que perto, pouco mais do que um encolher de ombros teria para mim se me roubassem. Durmo desligado do mundo na minha máquina assassina onde, esporadicamente, faço amor sem autoridade, atentando ao pudor.
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23 de mar. de 2009
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Um comentário:
Eu não deitei o corpo na minha máquina assassina, mas também não foi necessário... Fiz antes, um tour pela cidadela para que pudesse fintar as ratoeiras que estavam armadas, para apreender a carga de álcool que ilegalmente transportava dentro de mim.
Localizados os biltres dos coletes amarelos, foi só tomar outro caminho, rumo ás minhas vitimas... e não foram poucas!!
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