25 de fev. de 2009

Epitáfio

Sei que posso morrer relativamente jovem
Perspectiva dos relógios mais duradouros.
Esbanjei tempo e, apesar disso, nem sempre me tolhi
De dizer às pessoas o quanto gostava delas
Nos momentos em que romanceei com elas,
Apesar de dormirem.

Faltou-me dizê-lo à família
Não sei bem se quero entender os porquês.
Terei feito voto de me livrar de culpas?
Amo sem compromisso
Como um viajante que não se detém em revisitações,
Um passo ao lado do passeio das emoções.

Escrevo este epitáfio
Como se gozasse as melhoras da morte.
Como se estivesse para morrer
E amanhã não me sobrasse tempo para dizer o que fosse
E todos velassem ou carpissem o que fui
E não o que me ficou por dizer.

Vejo-me como numa cama de hospital
Debatido no limbo da doença que me consome
E ventilado pelo desejo de arrancar mais viagens ao corpo moribundo.
Não me ponham a meia-luz com uma campainha,
Não me visitem senão com promessas de boémia
E a gargalhada de quem chegou para se divertir,
Um abraço aberto de garrafa na mão ao vir da porta.
Tranquem o quarto,
Saltemos todos para cima desta cama ventilada por mangueiras de soro;
Deixemos os profissionais de saúde batendo à porta,
Clementes de uma ordem vencida à chave pela alegria
A música alta pontuando um motim na enfermaria.

Fornicar putas sublimes, ainda que cheias de doença,
Não mo dêem a saber,
Amá-las como o refúgio de mim sem noção de refugo
Lancemos em chamas o colchão pela janela.

Se, finda a festa,
Me detiver exausto num cadeirão,
Que os últimos movíveis me dêem a extrema unção:
Uma anestesia de massagens com morfina
E um beijo no coração.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Só existe dois dias no ano que nada pode ser feito, ontem e amanhã!

MADAME disse...

Quando estiveres mesmo para ir desta para pior, sim, porque ninguém me convence que é apra melhor, avisa com 1 mês de antecedência. Creio mesmo que a lei o obriga, lool. É para ver se é dessa que me mando de comboio ao Marco. Não me apetece despedir de ti com choros à volta, mas sim com uma garrafa de tinto, ou duas ou três e um belo maço de tabaco (eu levo-te charutos).

Beijos