18 de set. de 2008

Exorcismo

Esvazio para um copo, desaperto o cinto, deponho os bolsos e ajeito o isqueiro sobre os cigarros. Escrevo um gole e acendo-o. O relógio soa, numa pancada, uma meia-hora de uma hora qualquer. Preparo-me para me pensar. Sorvo mais um trago como se estivesse convosco num bar de rock.


Dizem-me: - “precisas de uma namorada!”. – Eu contraponho mas não discordo. Corro o risco de ser ridículo como “todas as cartas de amor”. Podia sorrir, desvalorizar e mudar de assunto com humor. Mas não. Isso exorciza-me.


Caminho pela verdade, saltando de pedra em pedra.

A sedução é, não raras vezes, um caminho de mentira

Com argumentos,

Mas a mentira tropeça no orgasmo.

E a realidade, que é póstuma,

Não tem mais fita para contrapor a equação matemática do amor.


Porque me desejam casamento

Se a minha verdade não é fílmica?

Desejem-me sexo,

Sujo, suado e descomprometido,

Como uma sepultura cavada por criminosos

Com um desejo de liberdade comum.


E se o Amor vier por aí,

Saberei que ele nasceu sobre a tumba dos meus demónios,

Reciclados no vão de um nada sem relógio

Que deixou de existir…



...

Um comentário:

Amora disse...

Se o Amor vier por aí... não mais deambularás sem relógio por paragens de nenhures porque o todo será e estará aí, como sempre esteve. Aguarda apenas pelo grito dos gritos, que revolverá as entranhas, afastando a insípida revolta do teu fragil e sensivel ser.