juntos somos como um cromo
autocolante. eu, por natureza, sou o cromo e tu és a cola que nos mantém no
sítio certo da caderneta. podemos não ser o cromo mais raro, mas não nos troco
por nada. gostava que soubesses disso, principalmente sempre que os nossos
cantos se descolam ou vincam – pois a existência tem dessas coisas!... mas eu e
tu sabemos: queremos ser mais do que um cromo; queremos, enfim, ser o velho
que um dia, nostálgico da sua infância, folheará com as mãos enrugadas,
beijadas pelo tempo, uma caderneta completa de memórias com sabor a algodão
doce.
no entanto, não queremos ser velhos.
risco o que escrevi. à eternidade do nosso tempo só peço que nos deixe
indeléveis e inalteráveis; que nos deixe por aqui e mais nada! não quero
aprender o que a vida ainda tem para me ensinar e que me fará esquecer daquilo
que a morte me prometeu: algum tempo só para mim neste solo minado pelos
homens. e peço-te a ti que não pretendas aprender mais nada também!... de que nos
serve saber usar o predicado se não formos genuinamente o seu sujeito? nunca seremos
deuses, mas também nunca seremos idólatras. o nosso significado será sempre
feito por nós, sem poemas, teses ou manifestos que nos elevem.
confia em mim! entre cromos
repetidos, mãos incautas e putos trafulhas nós cá nos arranjamos.
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