tantas foram as fotografias que tirámos com esta máquina
e, agora, algumas, já não as lembramos: tempo a morrer.
outras quisemos esquecer e não executamos o movimento.
existe uma imagem mais
alta do que os telhados,
um ruído que se
desprende dos outros e nos toca;
existem sinais por todo
o lado, não pretendo olhar,
não olhes também. tenta
dormir, sim, tenta dormir.
ensinaram-nos a contar
as horas, a ferver a água,
a saltar e a olhar o
céu. apontámos a um só avião
e vimo-lo sem querer.
talvez nos fosse inevitável.
- dizem que não nos vê
lá de cima…
dizem tanta coisa. há
quem afirme o nosso sono,
a nossa cegueira, a
nossa sorrateira existência.
dizem tanta coisa. por
experiência, fugimos,
sabemos não ouvir. mas
existe uma imagem,
ela paira sobre os
telhados, sobre o nosso sonho.
um gigante de promessas
em ferrugem, um rosto,
que se assemelha àquele
que tivemos um dia.
se ele nos falasse,
creio, não seria razão de receio,
mas ele não se distrai,
o seu tempo é outro. agora
somos somente sombras
com dores abstractas.
ai!...
mas disseram-me que ele
não nos vê lá de cima…
incapazes de destruir o
gigante moribundo,
que já só anseia por
morrer numa rua qualquer,
escondida das nossas
coordenadas, vamos mentindo,
tentamos formatar os
risos de outrora, mas o mundo…
o gigante a contorcer-se
e assumir-se brinquedo;
o passado a sorrir-nos
e dizer-nos que é tarde.
ele tombará sobre o
nosso enredo, não há saída.
vamos devolvê-la,
agora, antes que se estrague.
a máquina tem de
sobreviver, porque a vida…
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