23 de set. de 2012

Passaste por mim


Passaste por mim a correr no jardim público, no teu jogging diário (talvez), onde por entre os edifícios uma réstia de sol espreita a esplanada. Eu estava de perna cruzada, tomando sol com óculos-de-sol e café, revendo apontamentos num moleskine de imitação, riscando, desenhando melhor uma vírgula – um truque dos sós!

Foi tão bonito ver-te passar. Não trazias contigo headphones, quando trazê-los diria mais da confiança que se tem no que se ouve quando se incarna uma ficção. Mas não – a tua corrida era honesta, inconsequente. Talvez, se não corresses, um banho de chuveiro te desse motivos para chorar…

Por talvez nenhuma razão, viver a vida seja como observar pequenos deuses a dobrar lençóis: uma certa alegria de falência nas pontas soltas. Ver algo bonito, sorrir, deixar uns trocos na mesa e ir para outro lugar com um abandono de missão cumprida.

Passaste por mim a correr no jardim público e sei agora o que sente um holograma.


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