26 de abr. de 2012


Sou,
Agora que o gancho de nós se desprendeu
Do fundo do teu mar,
Um náufrago.

Sou tudo e sou infinito,
Acelerando sobre as ondas salgadas
Como um pirata sanguinário.

Escravizei
No barco viking do meu amor
Centenas de mulheres.
Rasgo ao cimo da escada
Um trago de rum
Onde elas remam para lado nenhum.


Sou depois uma senhora que guarda fotografias
Com gente importante
Numa lata de biscoitos.

Enchendo com Nívea
Boiões velhos de Chanel,
Fumando de um maço de tabaco
Propositadamente comprado para a passagem de ano

Ponho um vestido de rainha louca
E adormeço em frente à televisão…


Chamei de puta a minha musa,
Que ela me tratava como puta (assim foi)
De bêbada…
Saí batendo portas
Com sacos ao colo como se fossem filhos
E quando voltei
Ela era um caixeiro-viajante…

Deixou-me tudo,
Inclusivamente os discos,
Mas levou as palavras
E eu fiquei bebendo por um cheiro de roupa
Que me faz ocasionalmente dançar entre velas…


19 de abr. de 2012

Quem sabe?


Vamos tomar um café
E trocar impressões do mundo
Quem sabe?
O mundo que é uma editora.
Talvez imprima a nossa história...


17 de abr. de 2012

O NADA QUE É TUDO


É tão fácil falar sobre o Homem. Sobre aquilo que não conhecemos mas que ansiamos conhecer. É tão fácil falar sobre a vida que não temos, sobre o que desejamos ser, na imensidão de pensamentos únicos e vazios, no outrora reminiscente de memórias e vivências.  
Somos o que julgamos ser, longe da experiência do momento, perto da vicissitude do tempo. Somos tudo aquilo que não ocupa espaço nem lugar, a leveza de um pássaro a voar, a consciência de um vulto a deambular.
É intrínseca esta ligação, longe do sentir, perto do coração. Somos o que dizem, não o que pensam. Somos o que pensamos, não o que dizem. Somos o tudo e o nada, aleatórios do silencio, músicos de estrada.
Somos palavras de angústia e de ambição. Somos a boca da consideração. Somos natureza humana e amor. Somos leis e matéria. Vasos e órgãos. Pele e cultura.
Vivemos de lemas e de poemas, de reflexos e falsidades. Não sabemos pensar sobre nós, nem tão pouco o nosso nome pronunciar. Vivemos de histórias e lendas, de guerreiros e rainhas, de conquistas e de sangue.
Triste e pobre condição. Esta dor do ser que nos perpetua o prazer. Gostamos todos de sofrer. De ver a vida a correr… de espetar facas na verdade e dela fazer o espelho do sorrir.
O instinto foi pisado no chão. A alma perdeu a inocência quando fora atirada em vão. E o sentir? Esse… foi dado às palavras, aquém do sentimento, aliado à razão.