Gosto das ressacas ao domingo, principalmente quando chove e toda a gente sai de casa para se refugiar da chuva noutra casa qualquer. O dia é cinzento. Chego-me à porta com um copo de água para fumar um cigarro. Podia ser o primeiro do dia mas é o último da noite anterior, depois de dormir. O trânsito, do cimo da escada, à distância do olhar, é tão residual e irregular que nem valia a pena falar sobre ele, não fosse isso bom, como a poesia a tropeçar-me nos pés a fazer de gato carente. Bebo um copo de água à chuva e tudo é cinematográfico como a bonança depois de uma explosão.
Gozo de uma magnífica sensação que a tudo me desobriga, deambulando por mim e por todas as divisões, distraidamente. E é quando tudo o que é real me parece sanável, assim me dêem tempo à noite para o reescrever. Ter tempo! – O último luxo dos que se deserdaram da vida para existir com mais dinheiro. Tento, às vezes, perceber o que vai na cabeça daqueles senhores que têm mil milhões. Quando é que o dinheiro vai chegar? Haverá um número, um tecto? Se calhar o erro está em definir o tecto e não um soalho onde assentar os pés…
Mas de que vale estar para aqui a falar de ressacas e milionários, quando toda a gente murmura a visita de Deus!
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