25 de mai. de 2010

Ler Pessoa à tarde e Baudellaire à noite

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Ler Pessoa à tarde e Baudellaire à noite. Isso sim é refinamento! Não é ler para a tarde e para a noite como um louco declamante, buscando fora um satélite de alumiar dúvidas. É antes deixar-se tomar por uma volúpia que varre quartos desarrumados.
Um luxo! – dir-me-ão com navalhas no bolso – somente acessível a preguiçosos que dão tiros no trabalho. Não digo que não, mas detenho-me em perspectiva nos anos que se perdem a correr para um campus, não para desamarrar e exponenciar a qualidade do pensamento, mas para aprender grandezas racionadas e outras miudezas adequadas a um mercado de trabalho.

Não concordo com este modelo de educação que vigora no mundo ocidental como uma grande moda. O Capitalismo é perigoso porque, sendo um modelo que situa o capital no centro do seu próprio paradigma, toma a natureza (a vida) como um recurso consumível, atirando, não raras vezes, tudo o que ela representa para as suas roldanas periféricas.

O Modelo capitalista tem as suas vantagens. Julgo que o próprio Agostinho da Silva o postulou, em doses moderadas, como um caminho a percorrer para libertar o Homem do trabalho e da fome. Por outras palavras (que serão igualmente uma interpretação das suas), caberia ao Capitalismo providenciar maquinaria suficiente para trabalhar em vez do Homem, deixando-o com mais tempo livre para se cumprir como “um poeta à solta”. Sou totalmente fiel a esta ideologia que não posso precisar se era a dele - às vezes, o encanto leva-nos para paixões sem providência…

Convém não esquecer que as “Conversas Vadias” do Professor datam… vinte anos. Não creio que ele visse com bons olhos, hoje, o rumo que a sociedade tomou. No entanto, ele tinha (ainda tem) razão. Que falta nos fazem estes líderes sem ambição de poder!

Agostinho da Silva não gostava de rótulos, mas isso não impediu que muita gente lhos pusesse - não por maldade, mas por necessidade, como ter um objecto na mão e não saber em que gaveta o guardar. Correndo o risco de cometer o mesmo erro, não posso deixar de lhe reconhecer a humanidade e uma certa visão, sem horizonte para derrotismos, que lhe dava aquele ar de avozinho rijo. E é curioso ver como ele rabiscou com optimismo sobre os malefícios das ideologias a longo prazo.

Era o maior! Jogou por todos os clubes e nunca assinou por nenhum…


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