11 de mar. de 2010

Nojo de Relógios

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Odeio os relógios porque não tiram folgas! Lembram-me aqueles patrões que não conseguem parar de trabalhar, exigindo aos seus funcionários o mesmo vigor. Mas é preciso ganhar a vida! - e eu sei-o de cor desde que nasci de borla, lembrado pelos meus semelhantes em porções de tempo como sal a mais na comida. Fiel aos ensinamentos de Agostinho da Silva, enxertado por mim à família como um terceiro avô, corroborei a sua visão de uma vida dada mas não sem esforço.

Sou preguiçoso, admito! Invejo com admiração aqueles cuja natureza enxota da cama como cães a fugir de pedradas. Mas uma coisa é ser ocioso de vício, sem argumentos para mais um copo de vinho, e outra é ser escravo de um ter que dizer agrilhoado que não deixa dormir. O resultado é, em suma, o mesmo: - uma inabilidade para as coisas que providenciam sustento!

Concebo-me, em pensamento, tolhido e magro como um escritor romântico oitocentista a contas com uma tuberculose de humidade - nos ossos e nos bolsos de bolor! - sem pressa para o crivo da rua que medeia o calor da tasca com a manta de fantasmas que se alevanta à janela de umas águas furtadas.

Sou aquele que se revolve na cama sem notar
E, tendo de contar como passa o dia,
Conta o sonho que lhe veio de noite,
Para no próximo se expiar....


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