27 de jan. de 2010

Sangue


O meu primeiro poema. Sei-o de cor. Um desabafo quase infantil sem noção de estar postulando um caminho. Sou poeta desde que me lembro de usar palavras para formalizar âmagos e estados de espírito, ainda com braços tão curtos para apanhar palavras como maçãs. A minha mãe quando está triste diz que sente o coração negro. Pode não saber quem foi o responsável pelo holocausto, mas nem por isso a poesia lhe negou os seus frutos a cair de maduros…

“A poesia é para comer”, diria Maria Bethânia, que chegou antes de mim a essa conclusão. Tal como Fernando Pessoa, - esse bandido veloz que era uma equipa na apanha e se antecipou a todos os poetas, deixando um rasto de pomar celeste com caroços.

Talvez devesse estar feliz por trilhar o caminho dos génios, de privar com eles na mesma sombra arqueológica. Mas isso é tão banal como ter o sangue deles a correr em mim sem voz própria; ser primo afastado e saber, como ninguém, a história que todos contam…


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