PS: Esta missiva não foi sujeita a censura pelo que, visto tratar-se de uma divagação intercalada por uísques menores, está tão sujeita aos meus próprios reparos como à interpelação de outros uísques e/ou ideias.
Não me falem de competitividade. Se os meus pulmões estourassem e viesse de lá um monstro com toda a minha dor nos seus movimentos e a expurgar dos olhos uma placenta com os meus tecidos, chamar-lhe-ia COMPETIVIDADE!
Ensinaram-nos esta ladainha na fila dos impressos quando já estávamos fartos de olhar para o relógio e para a publicidade institucional e não nos deixaram acender cigarros para tocá-la com sentimento à guitarra. Chamam-nos por um número…
(não vos quero meter no meu número. Falarei na 1.ª pessoa…)
Chamam-me por um número que nem é o meu favorito nem cabe no Euromilhões para expurgar o meu azar. Chega a minha vez para descodificar o economês e a música de Simon & Garfunkel soa a cantilena de berço…
A lavagem cerebral estende-se como o sabão de uma roupa lavada nas pedras do rio mais a nascente e que vêm por aí abaixo a dar de beber.
Levo com um filme ao domingo que me faz simpatizar com a história triste dos nerds com sentimentos que tentam conquistar a miúda aos populares sem sentimentos. Durmo nos quarenta minutos de intervalos para publicidade e acordo para o desfrute amoroso do nerd que sacou a gaja e se vingou dos outros palhaços que, indubitavelmente, acabaram na merda a recuperar num sanatório depois de experiências com drogas, ou a apanhar sabões numa cadeia manhosa com homossexuais agressivos. E custa-me que alguém acredite nisto como retrato da sociedade e acorde para uma segunda-feira de trabalho com o espectro dos seus sonhos a fazer-se suportável em nome de uma competitividade que exige o sacrifício dos mais fracos para encher a boca de pão aos filhos de quem os tem e pagar as aulas de karate, de canto, ballet ou os sonhos adiados de uma puta que os pariu e os projectou na sua descendência, como forma socialmente aceite de exorcizar tudo o que não experimentou e encher de glória os seus rebentos, em detrimento dos outros. Como se tudo fosse um fogo-de-artifício e toda a gente falasse no fim, dizendo: - “o meu filho estourou mais alto que o teu”.
Hoje ouvi uma mulher dizer, orgulhosamente, que trabalhava numa fábrica de armamento na América e disse mal do Bush, mas sem formalizar. Como se, por acaso, tivesse sido levada pelo Amistad e estivesse agora fazendo um trabalho escravo, que tem de ser feito, independentemente de quem o realiza; como se as balas que ela afina fizessem dela menos culpada só porque alguém ordenou o seu uso.
Ah, mas eu não! Eu não pactuo com essa miséria miserável. E se fosse possível ser ainda mais miserável, e andasse acontecendo pelas ruas com um copo de papel a pedir esmolas, teria razões menos suficientes para acabar comigo. Não acredito na paz! É só uma utopia como outra qualquer. Não acredito enquanto continuarem a laborar essas máquinas de administrar a morte; não acredito enquanto o Homem mantiver a necessidade apócrifa de espalhar a sua ideologia como se tudo o que existe tivesse de ser destruído para dar lugar a um pensamento maior; como se continuassem as cruzadas mas com um deus diferente, ou outro discurso mais plausível...
O nosso destino é estourarmo-nos uns aos outros e não estar cá para ver o respirar do cosmos depois da passa que ele nos deu ou nós lhe demos.
E termino com a resposta mais odiosa e ignorante que conheço: - “É assim!...”
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31 de ago. de 2009
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