3 de nov. de 2008

Era a estrear!!!

Uma das características que mais aprecio nas pessoas, mas que nem todas possuem, é a capacidade de serem genuínas nas diversas situações decorrentes da vida... Conheço poucas pessoas destas, os dedos de uma mão (não estropiada) chegariam para as contar. Hoje descobri mais um destes seres preciosos.
Tudo se passou no restaurante onde vou chafurdar, digo almoçar, diariamente. Ao entrar no dito estabelecimento reparei que contrariamente ao que é habitual, hoje o local estava muito bem frequentado no que diz a pessoas do sexo feminino... Uma das mesas estava ocupada por o que supostamente seria um pai (e quero acreditar que era) e uma deliciosa filha de vinte e poucos anos, ciente do impacto que a sua pessoa causava nos demais... Noutra mesa, logo a beira da anterior, estava uma solitária cliente, sofisticada, mulher de negócios que com certeza estaria somente de passagem nesta terriola... No outro lado da sala estavam ainda duas mesas, ocupadas cada uma delas com um casal em que as senhoras eram qualquer coisa de fantástico, boas, boas, boas... Intimamente, sei que os demais clientes já haviam reparado nas tais beldades, não fossem eles maioritariamente trolhas , sedentos de carne fresca.
Sem qualquer alarido emocional sentei-me e fui consolando a vistinha enquanto aguardava pelo repasto. Tinha investido na chafurda havia uns 5 minutos, quando um dos casais que ocupava uma das mesas do outro lado da sala se levanta para abandonar o local. Escusado será dizer que a Sra. mal deu o primeiro passo em direcção à porta foi comida como sobremesa um infinito numero de vezes (chegando alguns, inclusive, a repetir tão delicioso doce, sem se preocuparem com a linha). Ninguém ousou proferir um "ai" que fosse, mas todos suspiravam para dentro, havendo até quem se coçasse abruptamente.
Foi precisamente nesta cena do filme que tudo parou e eu descobri o ser com a tal qualidade...
Quando ninguém, nem os demais trolhas (como eu), teve a audácia de dizer palavra alguma, houve uma alma iluminada que sem qualquer embaraço, ou sequer levantar a cabeça para desviar os olhos da comida proferiu estas acertadas palavras: - «Era a estrear!!!».
Foi mágico o momento... discurso nenhum, feito por o mais sábio de todos os doutos encaixaria tão bem na situação.
Sorri-lhe, piscou-me aquele brilhante olho coberto de maldade e por momentos pensei que fosse o demónio, mas não, era também uma mulher que sabia apreciar a sua semelhante...

A propósito, o prato do dia era Massa à Lavrador e estava intragável, comi só sobremesa aquando da saída das demais fêmeas...





2 comentários:

Sr. Mal disse...

É precisamente por estas análises assertivas e cuidadas da realidade, lidas no sobrolho dos transeuntes, que me orgulho de ser brindado com a sua presença neste blogue. Não sei precisar quem era o grande realizador que ordenava aos cameras: - filmem-lhe os olhos! - esse vão de escada maior da alma humana, digo eu. Estamos, portanto, na presença de um trolha com olho fílmico, um construtor civil capaz de exercer a oftalmologia das relações humanas com um desprendimento físico capaz de adiar os prazeres carnais dispostos no prato... mas não os do menu!
Granda Zerka!

Amora disse...

Há quem seja genuíno nas acções, no entanto, como o ser humano é apenso ao vulgar e ao banal, então o que dita a essência do ser legítimo é ser mais um clone neste pasto universal.
Certos actos são assim profanados e violados... o invulgar causa estranheza aos limitados de visão.
A estrear seria o teatro da vida onde os todos os que nele figurassem fossem verdadeiros. Os falsos existem para revelar a verdade que não existe mas que pode ser genuína.