I CAPÍTULO
A Manhã começou difícil, em Marco de Canaveses. A ansiedade de uma festa que se quer cheia, encheu-me a noite de insónias velhas. Uma madrugada tardia e amiantos mal destilados fizeram o resto. Acordei com uma bigorna nos chifres, mas obriguei-me a depô-la na mesinha de cabeceira pois ainda tínhamos de carregar os baús da Louis Vuitton para a mala do Rolls. Eu sabia que a bigorna me esperaria quando voltasse…
Ela olhou-me nos olhos e disse:
- “Bom dia! São 8 euros e quarenta cêntimos.”
- “Ãhh?” – digo eu, espantado.
E depois com voz masculina:
- “Acorda, caralho!”
Eu acordo. O Romeu olha-me nos olhos e já a espumar-se, amanda:
- “PÁRA DE PUXAR O TRAVÃO DE MÃO, TIRA AS PATAS DE CIMA DO TABLIER E VÊ SE TENS AÍ 40 CÊNTIMOS!!!!”…
Uma vez ultrapassado o episódio da portagem, chegamos à velha vila e estacionamos junto ao cemitério. Eu, cismado na “bela bilha”, ainda me agarrei às grades do malfadado jardim de caroços, vertendo os últimos goles de esperança por uma virgem a cavalo. Uma velha desdentada, mudando flores numa campa, piscou-me os olhos húmidos com cataratas e o universo reconstruiu-se-me nu e cruel.
Abrimos um garrafão de sangria, que levávamos em ofertório para as almas gentis que nos montaram a tenda, e fomos tirar bilhete sob o olhar condenatório de almas impolutas, nessa mesma noite cumpridas, lavadas no Olimpo imaculado das purezas moribundas – o INEM!
Continua…
3 comentários:
Tamanha foi a festa que moeu vossas mentes e quebrantou vossos corpos... Quer-me parecer que alguém muito mau terá lambido vossa alma...
prevejo um best-seller, caro amigo. Espero ansiosamente o próximo capítulo.
Brilhante meu caro :D
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