Existe
uma palavra com espinhos por dentro,
uma palavra
feita de glaciares e tremores de terra
que
abalam todos os nossos fundamentos viscerais.
Existe
uma palavra que evitamos sempre dizer.
Usamos
os mais belos eufemismos para lhe retirar o ímpeto
e dessa
forma sonhar ainda uma borboleta
que
nos traga o perfume raro de outros dias.
Existe
uma palavra que por ser definitiva adiamos sempre,
formulamos
com os lábios todas as razões poéticas
e
descartamos a lógica classicamente arquitectada.
Existe
uma palavra que não quero utilizar agora
nestes
versos trémulos, mas que por isso lhe são propícios.
Adeus,
eis a palavra, portadora de um veneno secreto
- uma
sirene estridente, um ataque à bomba, cidades de esperança desfeitas,
mas
lembra-te, existem sempre palavras que sobrevivem
e,
essas, tens de as procurar,
tens
de as curar da infecção do entorpecimento do teu ser.
Depois
de dizeres Adeus, essa palavra esgrimista
que ataca
e nunca defende,
serás
finalmente capaz de perceber todo o peso da liberdade.
Serão,
nesse momento, muitos os lugares para onde podes ir
e poucos
aqueles onde sentes que podes ficar.
Mas
continua sempre e não olhes tanto para trás,
porque
a vida é uma viagem
onde só
te é permitido parar para mijar o desencanto.