2 de set. de 2013

locomotiva de hiatos


antes de partir, contemplei o mármore frio que te cobre.

sou um comboio de memórias que pedem misericórdia.
o seu único anseio é que as deixem repousar,
apartadas dos espelhos e do tempo,
longe da ética, da estética e das bagatelas do quotidiano.

dançam em sonhos crepusculares os corvos e as pombas
que sobrevoam esta locomotiva de hiatos,
transportadora da morte e da vida, juntas por engano,
mergulhadas no profano desejo de um impossível abraço.

tudo se desloca para um paradeiro incerto,
mas a marcha não pode ser interrompida
e dentro de alguns anos alcanço a pátria do esquecimento.
 
antes de partir, pensei em verso branco no teu morto rosto.

 

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