21 de jul. de 2009

Mata-Drógados, o Justiceiro da Noite

Por cada crime que cometo, há uma menina a cair no céu e um macaco a aparecer-me no sótão. Mais peludo entre os outros, com uma mancha ou uma marca distintiva qualquer. Outro? Mas isto é por acaso a Santa Casa da Misericórdia?

Suo durante a noite. Acordo para um desconforto de atleta que adormeceu de cansaço sem tirar o equipamento. Seco-me na camisa de véspera deixada ao acaso na cadeira ao lado da cama. Atiro-a depois ao chão, faço uma festa no cão que dorme comigo e deito-me para onde a sua respiração menos me incomode. Torno a acordar mais tarde com um ímpeto de testa franzida que os soporíferos não dobraram e acendo a luz do candeeiro para tomar notas, cruzar dados.

Eu,
Exímio apreciador de coxas e voyeur,
Sou um assassino.

Sei de cor a rotina dos drogados que resvalam, os nomes e alcunhas, os esquemas, o tamanho dos pés e o número que um dia foi o de contribuinte. Presenciei atrás de árvores os seus assaltos a moradias, fotografei crimes hediondos. Registei com perfeccionismo a criatividade, o ímpeto e o rigor na execução dos planos, assim como o discernimento e ligeireza de pensamento que os fez abortar missões de risco. A tudo isso dediquei (e venho dedicando) atenção.

Não sou suspeito. Não me perco em manobras de diversão muito elaboradas. A descrença faz de mim tão suspeito como o velhote das missas, a senhora da frutaria ou o gajo do banco. Se fosse apanhado, os vizinhos diriam que eu era uma pessoa perfeitamente normal, muito respeitador, que nada os faria crer-me na pele de um monstro.

A lei é fraca e os polícias são os primeiros a duvidar dela, fechando os olhos como aqueloutra figura vendada à porta dos tribunais, convidando à troçada cega. Ora, eu não tenho muita paciência para caricaturas. Gosto delas, são engraçadas e tal, ajudam-nos a perceber a realidade de uma forma desempoeirada, mas são um recurso rebuscado para se dizer o que se pensa, de forma a evitar camisas de força maiores. A lei não se atreve a punir os causadores de desconforto, por os considerar simultaneamente seres humanos e metamorfoses desresponsabilizadas resultantes de contextos específicos.

Ora, a mim não me pesa na consciência deixar um corpo abraçado às coxas pelo avesso no fundo de um poço, desde que não reaja à lanterna que lhe aponto por fim aos olhos, antes de me ir embora. Não me dói. Não choro pelo cadáver que inventei, tão-somente pela criança que um dia teve lágrimas e cresceu para descobrir um amor falhado.
Não sou a favor das prisões, mas também eu sou um resultado de contextos sociais e nessa forma me fiz Super-Herói em consciência…

E enquanto houver velhinhos agredidos e roubados, saltará ao caminho dos seringas o… Mata-Drógados!

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